Líder nacional na oleaginosa, o estado amplia o plantio e prevê boa produtividade, mas resiste em assinar contrato de venda. Os produtores dizem que têm mais fôlego do que nunca e devem entregar parcela menor da produção na colheita (jan-mar), a não ser que os preços subam.
A Expedição Safra apurou que, apesar da falta de chuva entre setembro e outubro, Mato Grosso consolida plantio 5,1% maior que na temporada passada sem extrapolar o zoneamento agroclimático. Os dados levantados indicam lavoura de 8,83 milhões de hectares.
Houve redução no ritmo de expansão, que um ano atrás chegou a 10%, mas o crescimento é significativo. A área que não foi semeada (por atraso nas chuvas) e está vazia esperando o plantio de algodão é bem menor que a das novas lavouras de soja, abertas ao Norte e Nordeste do estado. E, com clima regular, as lavouras devem render 27,81 milhões de toneladas (+6,3%), uma nova marca estadual.
O volume corresponde a 29% da produção nacional e, à medida que a safra evolui bem, pressiona as cotações. No entanto, as vendas seguem ritmo abaixo do verificado um ano atrás e ajudam a sustentar preços acima de R$ 55 por saca (mercado físico). No campo, os produtores atribuem esse valor à resistência do setor.
Um quarto da produção prevista foi comercializado, índice que um ano atrás estava perto de 50%, conforme o Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (Imea). E os negócios devem continuar lentos. “As cotações futuras [março] estimulam as vendas, mas não vamos chegar a 50% até o fim de 2014”, disse o gestor técnico do Imea, Ângelo Ozelame.
Não se trata simplesmente de uma estratégia para aferir lucro, conforme o diretor técnico da Associação dos Produtores de Soja e Milho (Aprosoja), Nery Ribas. Os produtores de Mato Grosso registram custo elevado e buscam garantir renda mínima, argumenta. Os agricultores estão empenhando R$ 42 para produzir uma saca de soja, conforme o Imea,o que reduz o lucro a menos de R$ 10/sc, considerando os preços de março projetados na casa de R$ 50.
Há produtores que não venderam nada, como o agrônomo Marcelo Vankevicius, de Rondonópolis. Com 3,6 mil hectares plantados e colheita concentrada em março, ele só pretende vender a cotações acima de US$ 20 por saca (R$ 55), o que depende de uma elevação de 10% nos preços futuros. “Temos armazenagem para 40% da produção. Se necessário, vamos usar silos-bolsas”, aponta.
Mato Grosso ampliou o espaço nos armazéns em 4% no último ano e hoje tem capacidade estática de 29,7 milhões de toneladas, pouco mais que uma safra de soja, conforme dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). A pressão para vendas da oleaginosa deve vir na colheita do milho de inverno, que deve render 15 milhões de toneladas.
Nova filosofia: Nova estratégia veio para ficar e garantir bons preços
Um produtor capaz de atravessar épocas de cotações baixas sem se apavorar. Essa relação com o mercado veio para ficar, mostram relatos de Mato Grosso. E as construções de armazéns, que se estendem ao longo da BR-163, no maior polo produtor de soja do Brasil, confirmam essa tendência.
Com 24 mil hectares de soja (22% mais que no ano passado), o Grupo Nova Mutum investe R$ 15 milhões para ampliar a armazenagem. O gerente de agricultura da empresa, Luiz Divino, conta que a estratégia é elevar a capacidade de armazenagem em 80%, para dar conta do volume da produção e, se houver condição, prestar serviço a terceiros. Um terço da produção do estado não tem armazém.
O novo complexo do grupo dará teto para volume de até 610 mil sacas de grãos. Com a estrutura antiga, a empresa poderá estocar 1,35 milhão de sacas. No ano passado, em 19 mil hectares, foram colhidas 950 mil sacas de soja, volume que pode chegar a 1,2 milhão de sacas já em 2014/15.
“Quando não tem onde armazenar, o produtor acaba sendo paralisado pelo mercado”, argumenta Divino.
Para se sustentar nessa posição estratégica, além de ampliar armazéns, “o produtor tem que estar capitalizado”, assume.
Estocar a colheita e adiar as vendas não é garantia de boa média de preço. O produtor Paulo Sachetti, de Rondonópolis, conta que costuma vender, aos poucos, 60% da colheita antecipadamente. Uma estratégia agressiva mesmo em Mato Grosso, estado que mais usa esse tipo de contrato. “Temos vendido o [suficiente para cobrir] o custo. Bateu na meta, vende”, resume. Ele considera que, mesmo com armazenagem, “vai chegar uma hora que vai ter que vender”, e que o importante é fazer boa média. Nesta temporada, ele busca US$ 22 por saca (R$ 57/sc), ou seja, espera que na colheita os preços estejam melhores.