Publicado em 24/08/2017 17h29

Expedição de empresários e autoridades vai testar corredor rodoviário para exportação pelo Pacífico

Grupo sai de Mato Grosso do Sul na sexta-feira (25) e vai passar pelo Paraguai, Argentina e Chile. Rota pode encurtar caminho para o mercado asiático em 8 mil quilômetros.
Por: Anderson Viegas | G1 MS

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Na primeira expedição, realizada em 2013, empresários avaliaram rota pela Bolívia (Foto: Setlog-MS/Divulgação)

Com om objetivo de analisar a viabilidade de um novo corredor rodoviário para o oceano Pacífico, empresários de diversos setores e autoridades saem de Campo Grande rumo a portos chilenos na sexta-feira (25). A expedição, chamada de II Rota da Integração Latino Americana (Rila), terá cerca de 30 caminhonetes e passará por Porto Murtinho (MS) e cidades do Paraguai, da Argentina e do Chile. (veja roteiro completo no mapa mais abaixo)

Segundo o Sindicato das Empresas de Transporte Rodoviário de Cargas e Logística de Mato Grosso do Sul (Setlog/MS), a distância da capital sul-mato-grossense até o porto de Antofagasta é de 2.265 quilômetros. Se viabilizada essa rota, a entidade aponta que vai possibilitar uma redução de 8 mil quilômetros de rota marítima na exportação de produtos de Mato Grosso do Sul e de outros estados do Centro-Sul do país para a Ásia, em comparação com o escoamento pelos portos do sudeste e sul do Brasil. Por estes terminais a viagem até a China, por exemplo, demora 14 dias e percorre 18 mil quilômetros de rota marítima.

“Esse ganho de tempo representa seis dias a menos de viagem frente a realizada pelo oceano Atlântico e isso possibilita um ganho de competitividade. Além disso, os portos Chilenos representam um menor custo, maior rapidez e eficiência no embarque”, explica o presidente da Setlog/MS, Cláudio Cavol. “Estamos pensando no transporte de produtos industrializados, com alto valor agregado, e de commodities, em um segundo momento. Acreditamos que a rota pode ser uma grande alternativa para exportar a produção do próprio Mato Grosso do Sul, de Mato Grosso, Goiás e até do Paraná”, completa.

Hoje, três portos do Centro-Sul do país - Santos (SP), Paranaguá (PR) e São Francisco do Sul (SC) - concentram 65,72% do volume e 87,49% da receita da exportação de Mato Grosso do Sul no acumulado de 2017, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC).

Nos terminais de Santos, por exemplo, de 95 destinos para onde os produtos “Made in MS” são embarcados, 13 são da Ásia e dois são da Oceania. Somente para a China, foram destinados 52,37% de todo o volume despachado pelo estado pelo porto paulista entre janeiro e julho deste ano, o que representa 1,171 milhão de toneladas de mercadorias, como soja, celulose, couro, carne de desossada de bovino congelada e papel, e um faturamento de R$ 447,984 milhões.

Diante dessa importância do mercado asiático para o comércio exterior de Mato Grosso Sul e do próprio país, a iniciativa privada, em parceria com o setor público, tem buscado alternativas para reduzir o custo logístico e aumentar a competitividade dos seus produtos. No estado, o Setlog/MS é uma das instituições que têm encabeçado iniciativas para tentar viabilizar novos corredores rodoviários de exportação via oceano Pacífico.

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Entraves

O secretário estadual de Meio Ambiente, Desenvolvimento Econômico, Produção e Agricultura Familiar (Semagro), Jaime Verruck, comenta que o governo do estado apoia a expedição e vem trabalhando para viabilizar esse corredor de transporte. Ele aponta que atualmente existem três entraves que precisam ser superados para isso.

O primeiro é a construção de uma ponte binacional sobre o rio Paraguai, ligando Porto Murtinho (MS) a Carmelo Peralta (Paraguai). O projeto já foi encaminhado pelo governo federal para apreciação do Congresso Nacional. Somente após a aprovação o Executivo pode iniciar os procedimentos para a construção. O custo deverá ser dividido entre os dois países.

O segundo ponto que tem de ser superado, conforme Verruck, é a pavimentação de um trecho de aproximadamente 500 quilômetros de estradas, na região do Chaco paraguaio. O governo do país vizinho, conforme ele, já teria manifestando a intenção de executar a obra o quanto antes, até como uma ação para promover o desenvolvimento dessa região.

O terceiro entrave, de acordo com o secretário, é a questão alfandegária, que poderia dificultar o trânsito de veículos de carga entre os quatro países. “Por isso, estamos discutindo junto com o governo federal e os outros países, a criação de uma rota alfandegada. Seria a primeira do Brasil e possibilitaria, por exemplo, que um caminhão carregado no porto seco de Campo Grande somente fosse aberto ao chegar nos portos chilenos”.

Verruck acredita que, devido a uma grande mobilização que envolve os quatro países, a rota possa ser viabilizada em um período de três a quatro anos e explicou que um dos objetivos dos parceiros envolvidos é fomentar o desenvolvimento ao longo do corredor, explorando alternativas econômicas, como o turismo.

“A viabilização dessa rota de transporte possibilita a sua utilização também para o turismo. Imagina um turista poder visitar o Pantanal e depois Bonito em Mato Grosso do Sul, seguir para o Chaco paraguaio, conhecer a região de Salta na Argentina, famosa pelas vinícolas e depois visitar o deserto do Atacama, no Chile. Acreditamos que essa rota tem muito potencial turístico. Precisamos é desenvolvê-la para que todos os países possam ser beneficiados. Até por isso, em Mato Grosso do Sul, a Universidade Estadual (UEMS) tem participado das discussões para avaliarmos que tipo de atividades temos para poder potencializar”, analisa.

A questão da ponte

Em 8 de agosto de 2016, foi assinado um acordo para a construção da ponte binacional de 2,5 quilômetros sobre o rio Paraguai, entre cidades de Porto Murtinho, no Brasil e Carmelo Peralta, no Paraguai. Pelo lado brasileiro assinou o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte (DNIT) e pelo paraguaio, o Ministério de Obras Públicas e Comunicações.

Em setembro do mesmo ano uma equipe técnica do DNIT esteve na região e definiu o local ideal para a construção da ponte. Em março de 2017 o governo federal encaminhou para a apreciação do Congresso Nacional por meio de uma mensagem o acordo firmado com o Paraguai.

No fim de março a mesa diretora da Câmara dos Deputados definiu regime de urgência na tramitação e determinou que o assunto passasse pelas comissões de Representação Brasileira no Parlamento do Mercosul, de Relações Exteriores e de Defesa Nacional, de Viação e Transportes e de Constituição e Justiça e de Cidadania, antes de ser apreciado no plenário.

A mensagem foi transformada em projeto de decreto legislativo e já foi aprovada nas comissões de Representação Brasileira no Parlamento do Mercosul e de Relações Exteriores e de Defesa Nacional. Atualmente está sendo analisada na Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJC) da Casa, tendo como relator o deputado sul-mato-grossense Elizeu Dionizio (PSDB-MS) e na Comissão de Viação e Transportes ( CVT ), para a qual foi designado como relator o deputado João Derly (REDE-RS).

Após ser aprovado na Câmara, o projeto segue para apreciação no Senado.

Na visita feita no início desta semana pelo presidente do Paraguai, Horacio Cartes, ao presidente brasileiro, Michel Temer, em Brasília, os dois, conforme comunicado do Ministério das Relações Exteriores, reafirmaram seu compromisso com a construção da ponte.

Ressaltaram ainda que a estrutura constitui “elemento fundamental para viabilizar um corredor rodoviário bioceânico, o qual propiciará importante conexão entre o Centro-Oeste brasileiro, o norte do Paraguai e portos do Chile, com acesso estratégico aos oceanos Atlântico e Pacífico”.

Mobilização para viabilizar o corredor

De acordo com o secretário estadual de Infraestrutura de Mato Grosso do Sul, Marcelo Miglioli, uma grande articulação está sendo feita entre os quatro países para viabilizar a rota. Ele comenta que do lado paraguaio, por exemplo, um grande projeto de pavimentação no trecho não asfaltado já está sendo licitado. “Do trecho de 500 quilômetros no Paraguai que representa hoje o maior problema, tivemos a informação que o primeiro lote de 278 quilômetros já está sendo licitado. Outros 100 quilômetros também não pavimentados na Argentina já estão em execução”, comenta.

Reforça essa mobilização em torno do projeto a participação de autoridades dos quatro países na expedição. O governador de Mato Grosso do Sul, Reinaldo Azambuja (PSDB), por exemplo, deve acompanhar a partida do grupo em Porto Murtinho e depois participar de evento com o governo paraguaio em Assunção, no dia 1º de setembro.

Também devem acompanhar ou se integrar a expedição em algum dos trechos o ministro e coordenador geral de Assuntos Econômicos Latino-Americanos e Caribenhos do Ministério das Relações Exteriores, João Carlos Parkinson de Castro, o embaixador do Chile, Jaime Gazmurie e o ministro das Relações Exteriores do Paraguai, Didier César Olmedo Adorno, entre outras autoridades.

Apresentação da expedição

A apresentação oficial do evento vai ocorrer na noite desta quinta-feira (24) em Campo Grande. Essa será a segunda grande expedição promovida pelo Setlog-MS para analisar as alternativas de corredores até os portos chilenos no oceano Pacífico. A primeira foi realizada em 2013 e percorreu uma opção pela Bolívia, partindo de Corumbá.

Além das duas expedições, a entidade fez mais cinco viagens de prospecção, em que foram mapeadas possíveis rotas, até chegar a está última por Porto Murtinho.

“Ela é a mais barata e a que atende às necessidades técnicas para atingirmos os portos do Chile”, concluiu o presidente do sindicato.

Acompanhe a cobertura da expedição em g1.com.br/rila