Reunião no dia 14 de outubro, em Alegrete, durante a Expofeira, instalará uma comissão com dirigentes de entidades de produtores de 11 municípios (responsáveis por 20% dos pouco mais de 2 milhões de animais abatidos por ano no Estado), da Secretaria Estadual da Agricultura (Seapa) e do Ministério da Agricultura (Mapa) e do sindicato de frigoríficos para discutir uma proposta alternativa. A obrigatoriedade de uso do sistema, foco da rejeição do projeto anterior, ainda tem divergência.
A ameaça de fechamento da unidade do Marfrig, em Alegrete e com 640 empregados, por falta de animais reacendeu a discussão. A planta se insere no modelo agroexportador da companhia, que depende do monitoramento para ampliar embarques a mercados como o europeu, segundo executivos do Marfrig. "A gente sabe da proposta do governo. Fomos contra a exigência e não a rastreabilidade", demarcou o presidente do Sindicato Rural de Alegrete, Pedro Piffero. Para o segmento, a diferença na nova investida é que vai "começar de baixo para cima".
A reunião foi aprovada após consenso entre presidentes de 11 sindicatos. Estão na lista Alegrete, Barra do Quaraí, Itaqui, Maçambará, Manoel Viana, Quaraí, Santana do Livramento, Santiago, São Borja, São Francisco de Assis e Uruguaiana. As entidades tiveram encontros recentes com executivos do Marfrig, que apresentaram a necessidade de rastrear os animais, além de outras exigências como incentivo tributário e ajustes em temas ambientais de inspeção. "O projeto anterior foi feito entre governo e indústria, e na execução, a parte mais importante, que é o produtor, não sabia de nada", lembrou o dirigente rural, que ressalta não haver posição sobre a obrigatoriedade. Piffero lembrou que a companhia também deu certeza de manutenção da unidade.
Piffero citou que o Sistema Brasileiro de Identificação e Certificação de Bovinos e Bubalinos (Sisbov) é voluntário. "Mas tem de fazer algo viável, não adianta fazer se não atender ao mercado externo", admitiu o ruralista, que é um dos vice-presidentes da Federação da Agricultura do Estado (Farsul). O convencimento dos produtores, adiantou Piffero, será trabalhado na comissão. A coordenadora da Câmara da Pecuária do Estado, Anna Suñe, comemorou como avanço a retomada da pauta e ressaltou que o monitonamento só vai funcionar com grande adesão. "Vamos buscar o consenso sobre o modelo", adiantou Anna. O prazo para conclusão é incerto.
O titular da Seapa, Claudio Fioreze, preveniu que o projeto só voltará à Assembleia Legislativa com aceitação. "Não quero guerra, e sim consenso." Um dos vice-presidentes da Farsul garantiu que a rastreabilidade virou prioridade. Hoje, apenas 150 mil cabeças em 150 propriedades são controladas pelo Sisbov. Anna lembra que o número já foi de 170 propriedades. O dirigente alegou que custo para manejo e registro dos dados no sistema de controle é o que mais preocupa. "O mais barato é o brinco", citou Piffero, referindo-se ao chip do boi. Além disso, o produtor rural ressaltou que a indústria terá de pagar mais pelo produto (boi ou carcaça) rastreado.
"Se tiver valorização, a gente busca a tecnologia", afirma Piffero, citando que programas de certificação de associações de criadores Angus e Hereford, por exemplo, pagam bonificação sem rastrear rebanho. Neste caso, o produtor previa entregar matéria-prima com mais padrão, novilho jovem e base genética britânica. Essa carne é a mais cobiçada pelo mercado nacional e tem potencial no Exterior. Duas das cinco plantas que o Marfrig operava foram paralisadas desde 2013. "Fizemos duas reuniões com a companhia, mas deixamos claro que o trabalho não beneficiará apenas uma empresa", destacou Piffero. A região tem 25% do rebanho total gaúcho, com 13,4 milhões de cabeças entre bovinos de corte e leite. A planta, que é arrendada e foi erguida pelo Frigorífico Alegretense nos anos 1970, é habilitada a exportar à União Europeia e Rússia e única credenciada no Estado para fornecer à China.