Publicado em 11/12/2016 22h11

Orfeu mira consumo em casa e muda estratégia para café industrializado

Empresa pretende concentrar pelo menos metade dos seus negócios nas cápsulas de dose única
Por: Raphael Salomão

capsulas de cafe
A expectativa da empresa é de que metade das vendas seja representada pelo segmento de cápsulas.  Foto: Karsten Seiferlin/CCommon

A Orfeu Cafés Especiais está mudando sua estratégia para o mercado brasileiro. Motivada pelo crescimento do consumo residencial, a empresa aposta principalmente na cápsula, que vai ganhar representatividade nos negócios com café industrializado da companhia.

Em até dois anos, a expectativa é de que metade das vendas seja representada pelo segmento de dose única. O café vendido diretamente a restaurantes deve responder por outros 40% e o torrado e moído por 10%. Até agora, os negócios vinham se concentrando nos restaurantes, que respondiam por 80% das vendas.

“O crescimento do consumo residencial tem sido mais rápido. As pessoas estão tomando mais café em casa e não querem mais qualquer café”, afirma a diretora geral, Amanda Dias Capucho, que chegou à empresa há quatro meses, depois de acumular passagens por empresas como Basf e Nestlé.

A diversificação é um dos principais pontos da estratégia de "relançamento" da marca, que começou a ser executado em outubro. Foram lançados dois blends, um deles orgânico. Além das cápsulas, há opções de embalagens de 250 gramas de café torrado e moído adaptado aos diferentes modos de preparo, como a prensa francesa e o chamado aeropress.

Amanda Capucho não revela o valor investido. Explica apenas que os recursos têm sido destinados também ao marketing – especialmente na internet – e ao reforço na industrialização do café. Novos equipamentos visam quintuplicar a torrefação e o uso da capacidade anteriormente instalada vem aumentando.

“Usávamos apenas 10% da capacidade na nossa máquina que coloca o café nas cápsulas”, exemplifica Amanda Capucho. “Mas, além da capacidade ociosa que vamos aproveitar, estamos nos antecipando a gargalos futuros”, acrescenta.

A marca Orfeu existe há 11 anos, mas o café que lhe dá origem vem da Fazenda Sertãozinho, que existe há mais de seis décadas, na região sul de Minas Gerais. As lavouras são todas de arábica, plantadas com variedades como catuaí vermelho e bourbon amarelo. A classificação é certificada pela Associação Brasileira de Cafés Especiais (BSCA, na sigla em inglês), garante a executiva.

A produção é verticalizada. A matéria-prima sai dos cafezais da propriedade e é industrializada em maquinário próprio. São 350 funcionários nas diversas fases do processo. Dessa forma, explica Amanda, é possível manter o controla da qualidade do produto, além de reduzir riscos de mercado, como o sobe-e-desce dos preços do café.

Apesar de ter maior valor agregado, o café industrializado consome a menor parte do volume colhido na Fazenda Sertãozinho. Apenas 5% viram Orfeu, comercializados quase totalmente no mercado interno. Os outros 95% são exportados em grão, operação separada e gerenciada por outro executivo.

A partir dos investimentos na marca de cafés especiais, Amanda Capucho espera mudar essa proporção. Ela acredita que o produto em pacotes e cápsulas de dose única pode ganhar mercado mesmo com a atual crise econômica no Brasil, maior produtor e segundo maior consumidor global da bebida.

“O brasileiro consome muito café e está buscando essa origem brasileira. Agregar valor aqui, ter consumidor aqui tem seus riscos, mas há benefícios. Há quem veja a crise como momento de parar. Nós estamos vendo como oportunidade para uma empresa brasileira e com café produzido aqui.”