Publicado em 05/12/2016 17h02

Animação de Ana Maria Primavesi sobre a vida do solo é restaurada

Produção dos anos 1960 ainda serve de base para estudos e análises sobre o tema, fundamental na obra da agrônoma
Por: Débora Duartem com Vinícuis Galera

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O filme, mesmo depois de muitos anos, é essencial para entender como um bom solo é responsável por uma agricultura saudável. Foto: Ana Maria Primavesi/Divulgação

“A natureza não muda. É sempre a mesma coisa”. É dessa forma que Ana Maria Primavesijustifica o sucesso de seus antigos estudos na agroecologia atual. Em 1963, quando trabalhava na Universidade de Santa Maria (RS), a engenheira agrônoma desenvolveu uma animação de 45 minutos chamada “A vida do solo” e, hoje, 46 anos depois, o filme foi restaurado, disponibilizado na internet e mostra o pioneirismo de Primavesi nos estudos sobre o solo.

Como em todos os projetos de sua vida, o longa-metragem tem o objetivo de conscientizar as pessoas para o uso da agricultura orgânica, sem o uso de substâncias químicas.  Nas cenas, os microrganismos, elementos químicos e matéria orgânica ganham vida, tornando-se personagens de uma história que tem o intuito de provar, de maneira didática, que o solo é vivo.

“Primavesi é uma pessoa que compreende, com tanta densidade, a questão da dinâmica do solo que ela conseguiu traduzir isso em imagens”, conta Virgínia Mendonça Knabben, geógrafa, autora da biografia Ana Maria Primavesi: histórias de vida e agroecologia e responsável por ter resgatado a animação produzida na década de 1960. 

A partir do desenvolvimento de um livro muito importante para o setor, A Moderna Agricultura Intensiva, Primavesi começou a entrar na questão principal do estudo sobre o solo: o momento de olhar para a planta e entender quais nutrientes faltam ou excedem naquele substrato para um desenvolvimento melhor e mais saudável da cultura. Pensando nisso, Primavesi e seu marido designaram uma série de desenhistas em tempo integral para produzir o filme. Com poucos recursos, o processo durou mais de quatro anos. Depois de lançado na universidade em 1968, os arquivos se perderam no tempo.

Quando estava escrevendo seu livro, Virgínia entrou em contato com alguns colegas que trabalharam com Primavesi na Universidade Santa Maria e acabou encontrando o material na íntegra. “Era uma mídia muito antiga, tivemos que transformar em DVD. Foi um longo processo antes de publicar no Youtube”, explica.

Para a geógrafa, o filme, mesmo depois de muitos anos, é essencial para o aprendizado sobre o solo e como o bom funcionamento do ambiente é responsável por uma agricultura saudável. “Atualmente temos uma tecnologia que burla muitas etapas do que acontece no solo. É fundamental entender essa dinâmica para saber a importância da agricultura orgânica, sem interferências”, justifica Virgínia.

Os 45 minutos da animação são apresentados por Primavesi de forma muito didática.  Por isso, muitas vezes seus estudos foram atacados e tidos como não-científicos. De acordo com Virginia, a verdade é o oposto: “É difícil você pegar uma coisa tão abstrata e colocar em imagens. Primavesi domina tanto o assunto que consegue explicá-lo de uma maneira simples”.

Ana Maria Primavesi pode ser considerada uma divisora de águas nos estudos sobre o solo e, principalmente, sobre a agroecologia. Quando alguém a indaga sobre agricultura orgânica em larga escala, seu argumento é tão simples que chega a ser óbvio. “Durante 5 mil anos, a agricultura foi orgânica e a humanidade comeu. Se continuar assim, o solo vai ser destruído e a gente vai comer o quê?”.

Segundo Virgínia, Primavesi possui pensamentos tão inovadores que, mesmo hoje, as pessoas têm dificuldade em acompanhar e entender. Com 96 anos, a engenheira agrônoma está tendo muitas de suas obras relançadas pela editora Expressão Popular e suas ideias ainda servem de base para quem está começando a estudar a agroecologia.

Confira a animação “A vida no solo” na íntegrano Youtube: https://www.youtube.com/watch?v=5CP0xYOLEcM