Publicado em 28/11/2016 17h19

Políticos não dão respaldo a pressão da sociedade, diz cientista político

Para Fernando Abrucio, classe política brasileira tem problema de timing em relação a mudanças
Por: Raphael Salomão

A sociedade brasileira dá sinais de que está ciente da necessidade de mudanças no país, mês isso não tem encontrado respaldo por parte da classe política. A afirmação foi feita pelo cientista político Fernando Abrucio, durante o Única Forum, promovido pela União da Indústria de Cana-de-açúcar, em São Paulo (SP).

“A questão é de timing. O timing do político é mais lento que o da sociedade”, disse Abrucio. “Há uma mudança, mas os políticos não a engoliram por completo a pressão da sociedade, que deve ser maior em 2018”, acrescentou.

Na avaliação dele, o sistema político brasileiro não se preparou para as consequências do período pós-impeachment da presidente Dilma Rousseff. Abrucio acrescentou como componente de incerteza política, a delação premiada de executivos da Odebrecht, investigada na operação Lava Jato.

“Essa delação é a mãe de todas as crises e vai trazer mais pressão sobre os políticos”, afirmou.

O economista da Fundação Getúlio Vargas, Samuel Pessoa, relativizou o peso da delação da Odebrecht, dizendo que, em parte, o sistema político já está preparado. Segundo ele, a depender da clareza das informações a serem prestadas pela empresa, pode até ser um fator positivo.

Sobre a situação da economia brasileira, Pessoa afirmou que o impacto da Operação Lava Jato é menor do que se pode imaginar. Ainda assim, avaliou o atual cenário econômico como o pior dos últimos 120 anos, considerando a queda do PIB per capita da população.

“O setores da microeconomia foram destruídos. A crise atual é de modelo”, afirmou Pessoa, para quem a recuperação da economia nacional deve vir apenas em 2018. “O que está fora do lugar no Brasil são os juros altos e a poupança baixa”, disse ele.

De acordo com o economista, a Proposta de Emenda Constitucional que limita os gastos públicos, em tramitação no Senado, deve ser aprovada no mês de dezembro. Além disso, há “alguma solução” para a crise administrativa em administrações estaduais no país.

“A notícia boa é que o país acordou para o problema da Previdência”, acrescentou Pessoa. “Se em três, quatro anos, for feita uma profunda reforma da Previdência, voltamos para juros normais”, disse ele.