Publicado em 21/11/2014 14h57

Brasil precisa recuperar 60 milhões de hectares de pastagens até 2023

Pesquisa também mostra crescimento de mercado de produtos orgânicos, mas afirma que faltam crédito e treinamento
Por: Agrolink com informações de assessoria

pastagens boi

Até 2023, o Brasil precisa recuperar cerca de 60 milhões de hectares de áreas de pastagens com baixa produtividade para poder evoluir em direção a uma economia verde, alerta a segunda fase da coletânea de estudos “Diretrizes para uma Economia Verde no Brasil”, lançada nesta semana (17/11) pela Fundação Brasileira para o Desenvolvimento Sustentável (FBDS). No diagnóstico de Agricultura e Pecuária da FBDS, a pesquisadora Susian Martins afirma que 50% dos pastos brasileiros estão em processo de degradação ambiental e que é preciso recuperá-los com urgência.
Atualmente, o Brasil detém o segundo maior rebanho bovino do mundo, com 205 milhões de cabeças. A produção cresce ano a ano, bem como o consumo. Somos um grande exportador — segundo lugar no ranking mundial — e reconhecidos pela qualidade da nossa carne. Mas é fundamental elevar a qualidade da pecuária, preservando o meio ambiente e aumentando a eficiência.

No estudo, Susian, pesquisadora do Centro de Estudos em Sustentabilidade da Fundação Getúlio Vargas, explica que a degradação de pastagens é o processo de perda de vigor, de produtividade e de capacidade de recuperação natural da cobertura vegetal para sustentar os níveis de produção e a qualidade exigida pelos animais. De modo geral, a causa fundamental desse processo é o manejo inadequado e deficiências na conservação. Com o avanço do processo de degradação, a área perde cobertura vegetal e, consequentemente, diminui o teor de matéria orgânica do solo, promovendo a liberação de CO2 para atmosfera. 

No caminho contrário, quando se investe para repor os nutrientes na pastagem, o produtor assegura uma dieta de melhor qualidade para o gado, reduzindo o tempo de abate aumentando a produtividade. Para estimular essa melhoria, os produtores têm recorrido ao Programa ABC, linha de crédito do Plano ABC criada em 2010 após o Brasil assumir voluntariamente o compromisso de reduzir as emissões de Gases de Efeito Estufa. O Plano ABC apresenta uma série de alternativas produtivas e tecnológicas para minimizar a emissão, enquanto que o Programa ABC visa dar condições para o produtor realizar investimentos necessários e incorporar essas tecnologias ao longo do processo produtivo. Dos cerca de R$ 4,5 bilhões disponibilizados na safra 2013/2014, cerca de 80% foram usados para recuperação de pastagens. Mas ainda há muito a fazer. 

Susian explica que a meta de recuperar 60 milhões de hectares de áreas de pastagens com baixa produtividade e baixa lotação é bem mais ampla que a tímida meta do Plano ABC, de apenas 15 milhões de hectares. Além disso, na opinião dela, é preciso capacitar 10 mil técnicos em práticas de recuperação de pastagens até 2023, para que eles, posteriormente, treinem os produtores rurais por meio da realização de dias de campo, palestras etc. “No estudo, eu mostro a distribuição espacial dessa assistência técnica. Infelizmente ela não está chegando ao Nordeste, que é a região que mais concentra propriedades de agricultura familiar. Hoje, há muito gargalo e carência desse serviço em estados do Norte, do Nordeste e no Norte de Minas”, explica Susian.

Crescimento dos produtos orgânicos 

O estudo da FBDS também revela que os produtos orgânicos, até pouco tempo associados a um modismo das nutricionistas, já têm peso considerável na economia brasileira. Os produtos são cultivados por cerca de 100 mil famílias e movimentam cerca de R$ 500 milhões no ano, com taxas de crescimento de 15% a 20% ao ano. De acordo com a pesquisa, este é um dos setores agropecuários com maior potencial de crescimento em se tratando de economia verde, mas para isso o país deve priorizar cerca de 11 metas até 2020. O objetivo é atingir 1 milhão de propriedades rurais nos próximos cinco anos. 

A pesquisadora Susian Martins está otimista com o desenvolvimento do setor. Ela estabeleceu metas para atingir cerca de 20% dos estabelecimentos rurais do país no período até 2020. “Precisamos disponibilizar linha de crédito diferenciada para sistemas orgânicos de produção, com carência e prazo de pagamento compatíveis com o tempo necessário à maturação do projeto. Outro ponto é apoiar a regularização ambiental de 180 mil estabelecimentos rurais orgânicos e de base agroecológica através do Cadastramento Ambiental Rural (CAR). Embora tenha sido criado em 2012, o CAR só foi publicado no Diário Oficial em 2014 e são ainda poucas as propriedades rurais cadastradas. Sem isso, o produtor rural poderá ficar sem acesso ao crédito”, explica Susian. 

A especialista aponta ainda a necessidade de expandir a Assistência Técnica e Extensão Rural (ATER). Hoje, há muito gargalo e carência desse serviço em estados do Norte, do Nordeste e no Norte de Minas. A meta seria instituir uma Rede Nacional de ATER para promoção da produção orgânica e de base agroecológica para 1 milhão de agricultores familiares com investimento de R$ 1,5 bilhão até 2020. 

O estudo de Agricultura e Pecuária é um dos seis cadernos que compõem o projeto da FBDS, que possui também indicadores para os seguintes temas: Água, Energia, Transportes, Resíduos Sólidos e Mercado Financeiro. A coletânea, que será distribuída para empresas, órgãos do governo e formadores de opinião em geral, apresenta uma radiografia completa destes seis setores da atividade econômica sob o olhar da sustentabilidade, e foi desenvolvida com total autonomia pelos principais especialistas das áreas ao longo de um ano.

Neste material, metas quantitativas foram propostas pela primeira vez e podem gerar soluções a médio e longo prazo. Segundo o presidente da FBDS, Israel Klabin, métricas e indicadores são ferramentas essenciais para o desenvolvimento de políticas públicas e planejamento privado, pois possibilitam enxergar os reais impactos das proposições. “Nossa expectativa é que esses cadernos enriqueçam o debate sobre a sustentabilidade da economia brasileira e, principalmente, sirvam para que governos e empresas construam políticas que contribuam para a transição que tanto almejamos”, ressalta Israel Klabin.  

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