Publicado em 31/08/2016 16h00

Agro ainda é pouco subsidiado no Brasil, analisa Wedekin

Segundo o diretor da Wedekin Consultores, por mais que o cenário seja otimista para o futuro, há uma grande dívida a ser sanada com os produtores
Por: DÉBORA DUARTE, DE SÃO PAULO (SP), COM RAPHAEL SALOMÃO

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Mesmo apresentando resultados positivos, o agronegócio ainda recebe pouco subsídio e sofre com problemas deinfraestrutura no Brasil, segundo o diretor da Wedekin Consultores, Ivan Wedekin. Ele reconhece que a oferta de crédito para o setor cresceu muito nos últimos anos. No entanto, acredita que os produtores rurais ainda precisam de mais apoio.

Tomando por base dados do Banco Central de 2015, o consultor avalia que os financiamentos para a agropecuária ainda têm pouca representatividade no volume total de crédito na economia brasileira.  Até dezembro do ano passado, o estoque em todo o Sistema Financeiro Nacional somava R$ 3,22 trilhões.  No mesmo período, o volume de crédito rural para pessoas físicas ficou perto de R$ 154 bilhões. 

“Em um país de crédito escasso, podemos considerar isso um bom nível. O que precisamos saber é como financiar esse crescimento”, expõe. Wedekin entende que, além de pouco representativo, o crédito é caro para o produtor rural brasileiro. Segundo ele, enquanto nos Estados Unidos, as taxas de juros variam de 3% a 3,5% ao ano, no Brasil, os juros chegam a superar os 14%. E, de um modo geral, no Brasil, apenas 2,6% da receita dos agricultores está ligada ao uso dos financiamentos públicos.

De acordo com o consultor, em 2015, as culturas de soja, milho, café, cana-de-açúcar e arroz foram as que mais demandaram crédito de custeio. Por região, os Estados do Paraná, Rio Grande do Sul e São Paulo foram os que mais registraram empréstimos. Já Mato Grosso, principal produtor nacional de grãos, está em quinto no ranking. Apenas 15% do capital de giro no setor é financiado pelo crédito rural.

Isso acontece porque o Estado têm agricultores com extensas áreas produtivas, que tiram os 85% dos recursos de seus próprios bolsos, ou de seus fornecedores. “Esse sistema é um ‘cobertor curto’, ou seja, faz racionamento do crédito que é o limite do que o produtor pode sacar no banco”, explica Wedekin, que já chefiou a Secretaria de Política Agrícola do Ministério da Agricultura (SPA/Mapa).

Já na agricultura familiar, ele avalia que os recursos do governo federal têm atendido à demanda de uma forma geral e o dinheiro tem sido usado na melhoria da atividade produtiva. O número de contratos de investimento, por exemplo, passa de um milhão. Em volume financeiro, chega a R$ 52 bilhões, o que representa 10% da receita geral dos produtores.

Mesmo assim, ele considera pouco, especialmente quando comparado com outros países.  “O governo é importante, mas do ponto de vista de custo, o Pronaf (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar) custa R$ 13 bilhões por ano enquanto o Bolsa Família custa R$ 22 bilhões”, compara.

Apesar das dificuldades, lembra ele, o agronegócio brasileiro se mantém entre os principais produtores e fornecedores, uma posição que deve ser comemorada.  “Só temos mercado lá fora porque somos competitivos em uma agricultura de mercado altamente empreendedora”, disse na última segunda-feira (29/8) no 6º Congresso Brasileiro de Fertilizantes, promovido pela Associação Nacional para Difusão de Adubos (Anda), em São Paulo (SP).