Há praticamente dois meses sem chuva significativa, o Norte Pioneiro é, atualmente, a região mais seca do Estado. A estiagem está preocupando os produtores rurais, pois atingiu a época ideal para o plantio da soja, que se estende do fim de outubro a novembro. "Estamos em alerta, pois sem umidade no solo, a semente não se desenvolve. Isso pode resultar em perda da semente ou baixa produtividade", explica o chefe do Núcleo Regional de Jacarezinho, Fernando Gonçalves Vieira.
"A situação hoje é uma colcha de retalhos. Tem lugares que choveu um pouco, mas grande parte da região está seca. As cidades que estão em uma situação um pouco melhor são Andirá, Itambaracá e Sertaneja, mas no restante existe uma preocupação", afirma o economista do Departamento de Economia Rural (Deral), do Núcleo Regional de Agricultura de Cornélio Procópio, Santo Pulcinelli Filho.
Na região de Cornélio Procópio, 60% dos agricultores já plantaram. Outros 40% ainda aguardam situações climáticas mais propícias. O atraso no plantio deve comprometer até a safra de milho safrinha, em 2015, uma vez que durante a época ideal para início do cultivo de milho, os agricultores devem estar colhendo a soja plantada com atraso.
A produtora Solange Tosca Galli, de Cornélio Procópio, está no grupo dos que estão aguardando a chuva antes de jogar as sementes no solo. "Já perdi duas colheitas por conta da seca, não quero passar por isso de novo", diz. Ela possui um sítio de 14 alqueires, e lamenta que o atraso a impossibilitará de plantar milho. "Temos que plantar o milho até o dia 20 de março, para que o frio não prejudique os grãos. Mas com esse atraso será impossível, pois nesta época estaremos preparando a colheita da soja." Ela planeja cultivar culturas alternativas como a aveia, durante o inverno de 2015, para garantir, ao menos, a nutrição do solo e uma safra mais produtiva de soja em 2016.
No município de Santa Mariana, 80% dos 300 produtores já plantaram. "Mas em 20% das propriedades houve perda das sementes", afirma o presidente do Sindicato Rural, Anselmo José Bernardelli.
Conforme Bernardelli, a situação dos agricultores é ainda mais preocupante, em função da última colheita do trigo. A região de Cornélio, uma das maiores produtoras dessa cultura no País, colheu cerca de 2,6 toneladas, mas não havia compradores suficiente. "Os moinhos estão
abastecidos com grão importado. Muitos produtores venderam em leilões do governo a preços baixos, que não dá para cobrir os custos. Sem dinheiro, estamos sofrendo para quitar dívidas e manter a propriedade", revela.
Produtividade
Segundo o Deral, a expectativa inicial era de uma produção de 1,5 milhão de toneladas de soja no Norte Pioneiro (cerca de 70% vindo da região de Cornélio Procópio). "Ainda é cedo para falar em perda de produção, mas possivelmente terá, pois dois meses de estiagem é uma situação atípica, que acaba comprometendo a planta", pondera Santo Pulcinelli Filho.
Para evitar maiores danos, o economista do Deral acredita que grande parte dos agricultores que já semearam, optarão pelo replantio. "É uma prática usada pontualmente, em áreas de maior ressecamento, mas nesta safra acredito que grande parte terá de ser replantada".