SÃO PAULO (Reuters) - Uma simulação feita pela consultoria Céleres a pedido da Reuters indica que o gasto exclusivamente com diesel deverá subir 12 reais por hectare de soja plantada, para 246,50 reais, tomando-se como referência pesquisa de custos feita em Mato Grosso em meados deste ano.
O aumento pode parecer pequeno na comparação com os 1.750 a 1.800 reais desembolsados para o plantio, desenvolvimento e colheita de cada hectare, mas não inclui todos os efeitos indiretos da alta do combustível.
"Vai aumentar também frete, insumos e serviços terceirizados", destacou o analista Jorge Attie, da Céleres.
O efeito do reajuste sobre o transporte rodoviário, modal usado para escoar boa parte da produção agrícola do país, poderá ser mensurado apenas nos próximos meses.
O frete tem potencial para impactar margens dos produtores, uma vez que o preço pago pelos grãos na região de produção é, basicamente, o valor obtido no porto descontado o transporte.
O óleo diesel, segundo a NTC&Logística, associação que reúne mais de 3 mil transportadoras do país, responde por até 40 por cento dos custos dos fretes de longa distância, como os que levam a produção de grãos do interior do país até os portos e indústrias.
"O impacto do aumento do diesel é muito forte", disse Nery Ribas, diretor técnico da Aprosoja MT, entidade que reúne produtores de grãos de Mato Grosso.
Os produtores de soja enfrentam nesta temporada os preços mais baixos dos últimos quatro anos, acompanhando as cotações internacionais, pressionadas pela expectativa de colheitas recordes nos Estados Unidos e no Brasil em 2014/15.
Em função dos preços baixos, o mercado está bastante retraído. Poucos agricultores já fecharam negócios garantindo nível de renda que cubra totalmente os custos do plantio, lembrou Ribas.
O Grupo Mutum, que planta 24 mil hectares de soja na região de Nova Mutum (MT), já se prepara para um forte aumento de custos. Em um mês de trabalho intenso de colheita, por exemplo, são gastos 500 mil litros de diesel para movimentar a frota de dezenas de veículos, incluindo mais de 20 colheitadeira e cerca de 30 caminhões.
"É um ano de margens bem apertadas. Aquela planilha de custos que foi elaborada, vai ser furada (com essa alta do combustível). Hoje um dos itens que mais usamos, que é bastante pesado, é o diesel", disse o gerente do grupo, Luiz Divino da Silva.
Ele lembrou também que o desembolso com o diesel é feito à vista, enquanto a receita é recebida, em geral, somente após a colheita e a entrega do produto, o que aperta ainda mais o fluxo de caixa dos produtores rurais.