As frutas desidratadas fazem parte da tendência mundial de consumo de alimentos saudáveis, um nicho de mercado ainda em construção no Brasil. Mas alguns produtores, principalmente da agricultura familiar, estão apostando na diversificação de produtos desidratados dentro da produção orgânica.
Um exemplo vem do Distrito Federal. A Chácara São Sebastião fica a 35 quilômetros de Brasília no núcleo rural sobradinho dos Melos. Em 10 anos, dona Norma que veio de Minas Gerais largou o trabalho na cidade e conseguiu diversificar uma área de dois hectares, levou ao extremo a expressão fazer muito com pouco. No sistema conhecido como mandala, cada planta tem uma função e ao centro a criação de galinhas para produção de ovos. Por onde se olha tem produção: banana, mamão, goiaba, café. O algodão aqui é como planta medicinal.
– O algodão é um antibiótico natural, assim como todas as ervas que a gente planta aqui. Cada uma tem uma utilidade. Cada um tem uma doença que cura e a gente não sabe que o remédio está na nossa porta e a gente não aproveita – comenta a produtora rural Norma Sueli Martins Siqueira.
A transformação desta diversidade de produtos veio com investimento no sistema de desidratação. A primeira máquina para fazer o processo foi comprada em 2004. O rendimento de cada produto depende da quantidade de líquido. No caso do tomate, cada quilo rende apenas 300 gramas de desidratado. Dona Norma não produz o tomate, ele vem de um exemplo solidário que evita o desperdício.
– A gente tem um grupo participativo do Cerrado, de orgânicos, e, quando sobra, eles passam para a gente para não desperdiçar – comenta Norma.
O mercado que se transformou em uma boa aposta é o de frutas desidratadas. Não existem dados estatísticos confiáveis sobre a produção no Brasil, mas como toda boa tendência de alimentos saudáveis, o mercado europeu é a referência e movimenta 530 milhões de euros com frutas desidratadas. O Brasil participa com 1% do fornecimento de bananas e 3% do mercado de mamão.
Dona Norma está no caminho certo e cada quilo de banana se transforma em seis pacotes de 45 gramas que ela vende a R$ 5. Não é fácil para conquistar os clientes. Ela está presente nas mais diversas feiras em Brasília. A Emater ajudou na assistência para certificar a agroindústria e na qualificação.
– Ela fez cursos de boas práticas de alimentos, gestão e qualificação de alimentos para que não fosse gasto em sua chácara e nem ela fosse pagar o engenheiro de alimentas – diz o extensionista da Emater DF, Alaíde Jardim.
A venda hoje passa de 2 mil pacotes de frutas desidratas por mês. No ano passado chegou a vender esse mesmo volume por semana, enquanto durou o projeto do governo do Estado que comprava dos produtores para atender a merenda escolar.
– Um kit para cada criança e a criançada adorava porque era in natura, não tinha nenhum conservante e simplesmente parou. Para a gente foi um baque. Se a gente entregava 2 mil por semana, agora a gente entrega 2 mil por mês.
O sonho chega com investimento e persistência dentro de um mercado em construção.
– O alimento desidratado é o futuro porque não precisa de geladeira, não precisa de conservante. É só desidratar que dura até ano – comenta Dona Norma.