A agricultura brasileira é uma das mais competitivas do mundo devido ao aumento da produção nas últimas décadas, acompanhado pelo crescimento da produtividade sem aumento da área cultivada. Ao mesmo tempo, o país é um exemplo de inclusão social e sustentabilidade no campo, com uma legislação ambiental moderna e respeitada por governos e produtores. Essas foram algumas das conclusões da apresentação do diretor do Departamento de Assuntos Comerciais do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) do Brasil, Benedito Rosa do Espírito Santo. Ele foi o conferencista do segundo encontro do ciclo de videoconferências Políticas públicas nas Américas face à agenda pós-2015 de desenvolvimento, na sexta-feira (24), organizado pelo Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA).
O diretor do Mapa ainda apontou outros fatores como o sistema de financiamento do setor, cuja legislação impõe exigibilidades bancárias “sem igual no mundo”; os investimentos em Pesquisa e Desenvolvimento (P&D); e a qualidade da mão de obra. “O sucesso também não seria possível sem a disponiblidade de terras e capital. Outros setores da economia brasileira nasceram com recursos da agricultura”, avaliou.
Segundo Benedito, ainda que o país tenha produtividade e sustentabilidade exemplares, persistem pontos importantes para se avançar. “Salvo algumas cadeias produtivas, há outras nas quais a agricultuta do Brasil não consegue competir”, afirmou. Ele cita os custos elevados com logística e a elevada burocracia como explicações possíveis para os entraves a uma ainda maior competitividade. “O custo da logística local está fora da curva internacional”, alertou. Outro fator apontado pelo conferencista foi a necessidade de novos avanços biotecnológicos para garantir que o país alcance novos ganhos substanciais no setor.
Ferrovia dará novo impulso às exportações
A economista do United States Departament of Agriculture (USDA), Constanza Valdez, participou do debate desde Washington. Ela ressaltou a importância da pesquisa e da inovação para a agricultura brasileira. “O investimento no setor tem a ver também com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), que investe em tecnologia desde os anos 70″, lembrou. Constanza Valdes ainda frisou que há previsões que projetam o Brasil como o maior exportador de produtos agrícolas em 15 anos e o impacto que a ferrovia que, dentro de três anos, ligará Mato Grosso ao Pará terá na competitividade brasileira ao facilitar as exportações agrícolas para a Europa.
A coordenadora da Unidade de Estudos Econômicos e Sociais da Secretaria de Agricultura, Ganadería y Pesca de Argentina, Maria Soledad Puechagut, ressaltou o papel do Zoneamento Agrícola, instrumento de política agrícola e gestão de riscos. O Zoneamento é estabelecido anualmente por portaria do Mapa e minimizar os riscos climáticos e permite a cada município identificar a melhor época de plantio das culturas, nos diferentes tipos de solo e ciclos de cultivares. O outro debatedor foi o professor Rafael Navas, da Faculdade de Tecnologia do Estado de São Paulo (Fatec), que analisou o contexto histórico do desenvolvimento da agricultura nacional. Ele citou que as políticas agrícolas brasileiras surgiram entre as décadas de 40 e 50 do século passado, quando o país também se industrializava. “Decidiu-se que a agricultura era importante e necessitava de novas técnicas de produção direcionadas para as exportações”, disse. Navas ainda recomendou que o governo inclua o enfoque territorial e a agroecologia em políticas futuras.
O ciclo Políticas públicas nas Américas face à agenda pós-2015 de desenvolvimento é promovido pelas representações do Institudo Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA) no Brasil e nos Estados Unidos. Serão realizadas 12 videoconferências para debater os impactos das políticas agrícolas de diferentes países das Américas nas economias dos países da região. Nos próximos dois eventos serão discutidas as políticas agrícolas do Canadá e do Chile, nos dias 07 e 20 de novembro, respectivamente. O primeiro encontro foi sobre a Farm Bill, norma agrícola norteamericana, que entrou em vigor em fevereiro deste ano, e elevou os recursos para o seguro agrícola.