Com as chuvas que acabam de chegar, após três semanas secas e com temperaturas de mais de 40 graus, o quarto maior exportador mundial da commodity deve novamente se superar, numa tentativa de garantir a maior arrecadação possível à agricultura, apurou a Expedição Safra Gazeta do Povo, em viagem de uma semana que envolveu 500 produtores em entrevistas e eventos técnicos organizados pela Agrotec.
São 3,15 milhões de hectares cultivados neste verão (com potencial para 9,5 milhões de toneladas) e 550 mil ha em planejamento (910 mil t), num sistema que promete elevar a produção paraguaia à marca recorde de 10,5 milhões de t — 1 milhão a mais do que em 2013/14. Isso mesmo que a “safrinha” repita resultados da última temporada, avaliam os técnicos da Expedição.
Apesar de problemas pontuais, as lavouras de verão vão bem. E as discussões concentram-se na segunda semeadura de soja, que se consolida como aposta de peso e ganha posição de safra coringa. Isso porque pode ser ampliada ou reduzida na competição com o milho, dependendo das cotações de dezembro. Neste momento, o cereal aparece empatado com a oleaginosa, com cerca de 550 mil ha.
Nas áreas com soja sobre soja, haverá três cultivos numa mesma temporada, considerando também o trigo (inverno). No próximo ano, essas terras receberão soja seguida de milho, num sistema de cinco safras em dois anos, privilégio de regiões tropicais e subtropicais.
As lavouras atuais não saem da estiagem de outubro ilesas. Mas casos de perdas são exceção. Em Santa Rita (departamento de Alto Paraná), Silvestre Stiipp plantou 10% mais soja (1,2 mil hectares), mas descarta alcançar a marca de 4 mil quilos por hectare do verão passado. Os técnicos que visitaram a área consideram que, ainda assim, ele pode ultrapassar a média nacional de 3 mil kg/ha. Nos departamentos de Itapúa, Caagazú e Canindeyú, o clima tem sido mais favorável.
Cartada estratégica
Além de intensificar o cultivo de soja e milho, o Paraguai diversifica a produção para equilibrar a renda do agronegócio. A estratégia ganha força em época de grãos em baixa. Carne bovina, frango, leite e a tradicional erva-mate ganham expressão na “meia lua da soja”, que corresponde ao Leste do país.
As apostas em fontes alternativas de renda são mais expressivas no Sul e no Centro dessa região, onde concentram-se as cooperativas. Em Bella Vista (departamento de Itapúa), o agricultor David Fischer conta que, depois de perder área para a soja, a erva-mate tem renda bruta dez vezes maior que a da oleaginosa (até US$ 3,7 mil/ha). “O consumo interno continua forte, e agora estamos exportando erva”, explica. Ele mantém a soja em 60 ha e a erva em 10 ha, com assistência técnica da Colonias Unidas, a maior cooperativa do Paraguai.
As cooperativas Bergthal e Sommerfeld (departamento de Caaguazú) investem em sistema agroindustrial que associa grãos, laticínios e fábricas de alimentos como pães e massas, com o cultivo de milho para alimentação animal e de trigo para abastecimento de 15 moinhos concentrados na região. A exportação não se restringe à soja. “Neste ano, nossa região tem 700 mil toneladas de trigo para o Brasil”, diz o gerente geral da Bergthal, Billy Peters.
Com 250 hectares de soja, que promete colheita mais volumosa mas renda menor, o agropecuarista Koda Kozo, de Pirapó (também Itapúa), engorda 700 animais em 70 hectares. Como no Brasil, a carne bovina atinge preços recordes (equivalentes a R$ 110 por arroba de boi em pé). “Estou produzindo carne especial, que tem demanda cada vez maior no próprio mercado interno.” Ele não castra os novilhos, para que os hormônios naturais se encarreguem de garantir mais músculos que gordura.