Mercado de café ferve com oferta restrita e tensão comercial
Publicado em 08/09/2025 10h52

Mercado de café ferve com oferta restrita e tensão comercial

Preços do café disparam em agosto com tarifas dos EUA sobre o Brasil, geadas em Minas Gerais e menor rendimento da safra, aponta o Itaú BBA.
Por: Wisley Torales

O mercado de café registrou uma forte escalada de preços em agosto, com o arábica apresentando valorização de 40% em Nova York e o robusta, de 50% em Londres. Uma combinação de fatores, envolvendo choques de oferta e incertezas comerciais, deu origem ao movimento de alta.

No dia 30 de julho, o governo americano anunciou a elevação de 10% para 50% das tarifas sobre as exportações brasileiras. O café, ao contrário do que se esperava, não entrou na lista de exceções, gerando instabilidade nos negócios entre o maior produtor e o maior consumidor mundial do grão.

Nos dias 10 e 11 de agosto, geadas atingiram lavouras no Cerrado Mineiro. Embora de menor intensidade que as de 2021, os episódios provocaram perdas. Estimativas da Expocaccer apontam uma redução de pouco mais de 400 mil sacas para a próxima safra na região, o que representa 5,5% do potencial produtivo local.

A conclusão da colheita 2025/26 no Brasil também trouxe números abaixo do esperado. O baixo rendimento dos grãos de arábica após o beneficiamento levou a uma produção menor que a da safra anterior.

Com base em dados do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), o Itaú BBA trabalha com uma produção de 38,7 milhões de sacas de arábica. O número é 11,5% inferior ao da temporada anterior e 2,2 milhões de sacas abaixo da estimativa oficial do órgão americano.

A projeção para o robusta foi mantida em 24,1 milhões de sacas. Dessa forma, a safra brasileira 2025/26 é estimada em 62,8 milhões de sacas pelo Itaú BBA, ante 65 milhões previstos pelo USDA. A revisão reduz o superávit global para 7 milhões de sacas.

O desempenho das exportações brasileiras no início do ano-safra 2025/26 foi considerado fraco. O resultado coincidiu com a entressafra do Vietnã, maior produtor de robusta, retardando a recomposição de estoques nos países consumidores em um momento de demanda aquecida no Hemisfério Norte.

Nos Estados Unidos, a incerteza tarifária tem levado importadores a adiar compras do Brasil ou limitar as aquisições ao mínimo necessário. À medida que os estoques locais se reduzem, a pressão sobre os preços em Nova York aumenta.

A análise do posicionamento dos fundos não comerciais indica que a disparada dos preços em Nova York não foi acompanhada por um aumento expressivo de posições compradas. O comportamento sugere que o mercado físico, com seus fundamentos de oferta e demanda, tem sustentado a alta.

Diante do quadro, o momento é visto como oportuno para que produtores utilizem instrumentos de hedge, como o Collar de Café, para defender suas margens de produção para a safra de 2026, considerando a elevação dos custos com fertilizantes e os patamares atrativos das curvas futuras.