O potencial do hidrogênio verde (H2V) para a cadeia de fertilizantes foi o tema central do painel Diálogos Energia e Futuro, realizado nesta quinta-feira (4/9) na Expointer. O debate destacou três empresas gaúchas selecionadas em um edital de R$ 102,4 milhões do governo estadual para projetos de transição energética.
A tecnologia do H2V permite uma nova rota para a fabricação de fertilizantes. A energia de fontes renováveis é usada na eletrólise da água para gerar o hidrogênio, que por sua vez é matéria-prima para a amônia, base dos nitrogenados. O processo substitui o uso de combustíveis fósseis e resulta em um insumo sustentável, sem emissão de carbono.
A aplicação da tecnologia pode ampliar a autonomia do Brasil na produção de insumos agrícolas e diminuir a dependência das importações, que hoje expõem o setor às variações do mercado externo e a cenários geopolíticos.
Durante o evento, a Renobrax detalhou seu projeto para instalar uma unidade no Vale do Taquari. A planta terá capacidade inicial de produção de 2 mil toneladas de amônia verde por ano, com o objetivo de descarbonizar a produção e gerar soluções para o campo.
“O fertilizante a partir do hidrogênio verde ainda não é competitivo frente à amônia cinza. Nosso desafio é buscar nichos de mercado que valorizem o produto sustentável e garantam viabilidade econômica”, afirmou Stevan Silveira, diretor-executivo da Renobrax.
A BeGreen Bioenergia apresentou seus projetos desenvolvidos na Universidade de Passo Fundo (UPF), com foco na descentralização da produção em unidades de menor porte. O investimento inicial é de R$ 50 milhões para produzir fertilizantes líquidos capazes de atender 30 mil hectares.
A iniciativa busca integrar agricultores e universidades para desenvolver cadeias de grãos e proteína animal de baixo carbono. “Queremos mostrar que é possível produzir proteína de baixo carbono no Rio Grande do Sul, exportando não apenas grãos, mas valor agregado em forma de alimentos sustentáveis”, disse Luiz Paulo Hauth, diretor da BeGreen.
Já a Infravix Engenharia planeja implantar uma planta industrial em Rio Grande com capacidade para 100 mil toneladas anuais de ureia verde. O investimento previsto é de US$ 150 milhões, cerca de R$ 850 milhões, e utilizará hidrogênio verde e captura de carbono para gerar amônia e ureia.
Segundo o consultor técnico Roberto Zuch, o volume de produção pode suprir até 10% da demanda de fertilizantes do estado. “Produzir fertilizantes no Estado é fundamental para reduzir nossa dependência externa e fortalecer o agronegócio gaúcho diante das oscilações geopolíticas”, comentou Zuch.
Os projetos apresentados posicionam o Rio Grande do Sul como um polo na produção de fertilizantes sustentáveis. O edital do governo do Estado foi apontado pelos participantes como um marco para viabilizar as iniciativas, uma vez que os custos de implantação da tecnologia ainda representam um desafio para as empresas.