Apesar da forte parceria comercial entre Brasil e China no agronegócio, os investimentos diretos do país asiático revelam uma realidade distinta. Entre 2007 e 2024, a agricultura representou apenas 5% do número total de projetos de investimentos chineses no Brasil, ocupando a quinta posição no ranking setorial.
Um levantamento do Conselho Empresarial Brasil-China (CEBC), divulgado em setembro de 2025, aponta que empresas chinesas iniciaram 303 projetos no país ao longo desses 18 anos. O volume totalizou US$ 77,5 bilhões em investimentos confirmados. Desse montante, o agronegócio absorveu 5% do valor.
O setor elétrico brasileiro foi o principal destino dos aportes chineses, liderando tanto em valor quanto em número de projetos. Com 45% do total investido e 41% dos empreendimentos, a eletricidade atraiu grandes projetos de infraestrutura energética, incluindo aquisições e novas plantas.
Na segunda posição aparece o setor de petróleo, responsável por 29% do valor total e 7% dos projetos. A indústria manufatureira ocupou o terceiro lugar em valor, com 8% dos aportes, e o segundo em número de projetos, com 22% do total, indicando uma maior quantidade de empreendimentos de menor porte.
A mineração ficou com 6% do valor investido e 2% dos projetos, enquanto obras de infraestrutura representaram 4% do total em valor e 3,3% em número de empreendimentos.
A análise regional revela forte concentração dos investimentos chineses na região Sudeste, que absorveu 54% dos projetos entre 2007 e 2024. O estado de São Paulo lidera com 35,6% de todos os empreendimentos, seguido por Minas Gerais, com 12%.
O Nordeste aparece em segundo lugar entre as regiões, com 15% dos projetos, seguido pelo Centro-Oeste (14%), Sul (10%) e Norte (7%). Goiás ocupa a terceira posição no ranking estadual com 6,1% dos projetos, enquanto a Bahia aparece em quarto lugar.
O ano de 2024 marcou um ponto de inflexão nos investimentos chineses no Brasil. Os aportes confirmados somaram US$ 4,18 bilhões, um salto de 113% em relação a 2023. O desempenho colocou o país como terceiro maior receptor mundial de capital produtivo chinês no período.
O número de projetos atingiu o recorde histórico de 39 empreendimentos em 2024, um crescimento de 34% na comparação anual. Esse avanço foi muito superior ao aumento geral dos investimentos estrangeiros no país, que foi de 13,8%, segundo dados do Banco Central.
Em 2024, o setor elétrico manteve a liderança, respondendo por 34% do valor total (US$ 1,43 bilhão) e 56% dos projetos (22 empreendimentos). O crescimento de 115% em relação a 2023 foi impulsionado principalmente por aportes em energias renováveis, como parques eólicos e solares.
Os projetos chineses em sustentabilidade e energia verde chegaram ao recorde de 27 empreendimentos, representando 69% de todos os projetos chineses no país em 2024. O movimento está alinhado à política "Nova Indústria Brasil", lançada em janeiro de 2024, que foca em descarbonização e transição energética.
No último ano, os investimentos chineses se espalharam por 14 estados brasileiros, seis a mais que no ano anterior, evidenciando um processo de descentralização. Embora São Paulo tenha mantido a liderança com 31% dos projetos, sua participação relativa diminuiu.
O estudo do CEBC mostra ainda que 79% dos investimentos em 2024 foram realizados via projetos greenfield, ou seja, para a criação de novos empreendimentos, indicando uma preferência pela expansão da capacidade produtiva em vez de aquisições de ativos existentes.