As agroalianças estratégicas são fundamentais para garantir o protagonismo do Brasil no comércio internacional. Diante do atual cenário geopolítico e das tensões globais, o país deve ser flexível e adotar uma postura de cooperação com diversas nações, sem se posicionar em lados antagônicos. Essa foi umas avaliações do Embaixador Roberto Azevêdo, diretor geral da OMC (2013-2020), consultor da ABAG, presidente da 9G Consultoria e presidente Global de Operações da AMBIPAR, durante a palestra inaugural “Agroalianças e o Futuro”, do 24º Congresso Brasileiro do Agronegócio, uma realização da Associação Brasileira do Agronegócio (ABAG), em parceria com a B3 - a bolsa do Brasil, que acontece nesta segunda-feira (11/8).
“O Brasil não pode permitir que qualquer país escolha o lado em que devemos estar. Precisamos de flexibilidade para formar alianças estratégicas e deixar de falar sozinho. O futuro do agronegócio e do comércio global exige uma abordagem colaborativa, em que a iniciativa privada deve também criar seus próprios canais de relacionamento comercial, expandindo suas redes de conexão”, afirmou Azevêdo.
Segundo o Embaixador, o papel do governo é fundamental, mas não é suficiente para o Brasil alcançar seu pleno potencial no mercado global. A iniciativa privada, especialmente o setor agropecuário, precisa ser proativa e buscar novas parcerias comerciais para ampliar sua presença no exterior. Nesse sentido, ele destacou que as agroalianças, entendidas como parcerias entre países, empresas e setores produtivos, são essenciais para fortalecer a posição do Brasil como líder em segurança energética e alimentar.
“O Brasil possui um agro tropical, único, com altíssima competitividade, qualidade e capacidade de produção em grande escala. No entanto, enfrentamos um desafio maior: promover essas agroalianças. É crucial que o setor se una para garantir sua relevância no comércio global, mostrando que somos uma parte essencial da solução”, ponderou Azevêdo, destacando a importância de o Brasil ser visto como um parceiro estratégico no cenário internacional.
Na abertura do CBA 2025, Luiz Carlos Corrêa Carvalho, presidente da ABAG, avaliou que as perspectivas globais para a próxima década são de grande complexidade, com uma nova ordem mundial, marcada pelo enfraquecimento do multilaterialismo e fortalecimento do protecionismo e unilaterialismo. “A geopolítica está no centro das decisões globais e as recentes tarifas refletem esse processo de reposicionamento estratégico dos Estados Unidos. Assim, é urgente o diálogo e a criação de alianças para assegurar o equilíbrio”, disse.
O agronegócio brasileiro vem sendo construído com a argamassa da ciência, a competência e a dedicação de pessoas, sendo responsável pela geração de empregos, pelo superávit da balança comercial e pelos resultados do PIB nacional, além de contribuir para reduzir as emissões de gases poluentes. “Hoje, estamos entregando o documento “Agronegócio frente às Mudanças Climáticas”, posicionamento oficial do agronegócio brasileiro para a COP30, cujo objetivo é reiterar o papel do agro como parte da solução para os desafios do clima e o protagonismo do Brasil, pois nosso setor alia sustentabilidade, práticas inovadoras, produtividade, valorizando aspectos econômicos e as comunidades envolvidas".
A biocompetitividade é outro ponto importante para o país, assim como alianças com países, empresas e produtores, que serão fundamentais, na avaliação do presidente da ABAG, ao setor privado e produtivo. Para ele, é importante ainda estar atento às incertezas internas que interferem mais nas decisões de investimentos do que os desafios externos.
Carvalho ressaltou que o Brasil é o país do agro competitivo, com produção de energia e de alimentos em larga escala, alta produtividade e com práticas ambientais. “Os sistemas energéticos precisam ser resilientes, flexíveis, eficientes para a transição, garantindo os insumos críticos. O mundo despertou pra novas e complexas perguntas e o Brasil pode dar as respostas, construindo pontes construir pontes com os Estados Unidos, com a China e com outras nações, beneficiando a segurança alimentar e energética”, finalizou.
Gilson Finkelsztain, CEO da B3, enfatizou o papel do Brasil como uma potência no mercado de capitais. “Apesar do momento delicado, o Brasil continua sendo um líder em liquidez e prosperidade no mercado de capitais. Este evento representa a chance de abrir novos caminhos para destravar o potencial do setor agropecuário”, afirmou Finkelsztain, destacando números recentes que comprovam a resiliência e a força do mercado financeiro no agronegócio brasileiro, como os R$ 588 bilhões captados em Letras de Crédito do Agronegócio (LCA), o crescimento de 32% das Cédulas de Produto Rural (CPR), atingindo R$ 418 bilhões, ano passado e o estoque de R$ 360 milhões de Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRAs).
“Esses números são uma clara demonstração de liquidez no mercado, o que gera prosperidade para o setor. Temos uma grande oportunidade de expandir e criar novas alternativas para os investidores e produtores”, completou Finkelsztain.
O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, destacou a importância do agronegócio para a economia paulista, com 40% das exportações do estado sendo oriundas do setor. O governador reforçou o compromisso do estado com o agronegócio, destacando ações voltadas para titulação de terras, crédito ao produtor, manutenção das estradas e programas como a revitalização de pastagens.
A Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil) está abrindo um novo espaço em Washington, que irá se somar aos três escritórios da Agência nos Estados Unidos. Essa iniciativa anunciada, durante o CBA, por Jorge Viana, presidente da ApexBrasil, tem o objetivo de representar os setores afetados pelo tarifaço, defendendo os interesses nacionais. Esse trabalho será feito em conjunto com a Amcham e por meio da contratação de consultorias especializadas.
O governador de Minas Gerais, Romeu Zema reforçou que o agronegócio mineiro, em 2024, exportou mais do que a atividade de mineração no estado. “Contamos com uma produção agrícola diversificada e as pastagens mineiras estão sendo recuperadas e transformadas em áreas produtivas sem desmate. Hoje o estado está em fase de crescimento e o Agronegócio faz parte deste avanço”, disse.
Em sua fala, Guilherme Campos, secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura e Pecuária, reforçou que a responsabilidade do Brasil é consolidar ainda mais a liderança do agro, por meio da abertura de novos mercados e da agregação de valor aos produtos agrícolas brasileiros, como café e cana-de-açúcar. Já o deputado federal Arnaldo Jardim, vice-presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), ressaltou que o grupo está acompanhando de perto os desafios geopolíticos e econômicos, especialmente no que diz respeito ao tarifaço e ao equilíbrio fiscal, além de aspectos relacionados ao financiamento, logística e a COP30.
A solenidade de abertura contou ainda com as participações de Alberto Amorim, secretário-executivo da Secretaria de Agricultura de São Paulo; do Embaixador Alexandre Parola; Antonio Mello Alvarenga Neto, presidente da Sociedade Nacional da Agricultura (SNA); Marcelo Regunaga, coordenador do Grupo de Países Productores del Sur e ex-ministro da Agricultura da Argentina; Roberto Rodrigues, conselheiro da ABAG e enviado Especial para Agricultura da COP30; embaixador Rubens Barbosa; e de Silvia Massruhá, presidente da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA).