Publicado em 23/10/2014 17h32

Afinal, quem foi melhor na economia?

O desempenho da economia brasileira voltou ao centro do debate político na eleição presidencial.
Por: Gazeta do povo Online

Por um lado, o baixo crescimento verificado nos últimos anos e a alta da inflação em 2014 pautaram o discurso por mudanças feito por Aécio Neves (PSDB). Já a presidente Dilma Rousseff (PT) defende que, apesar desses percalços, seu governo manteve uma taxa de desemprego baixa mesmo em um contexto de crise econômica e que a redução da pobreza e da desigualdade foram conquistas do governo petista. Ela diz ainda que a inflação durante seu governo é inferior à da era FHC.

A comparação entre os governos petistas e tucanos ficou ainda mais forte depois que Aécio declarou que, caso vença, indicará Armínio Fraga para o Ministério da Fazenda. O economista foi presidente do Banco Central durante o segundo mandato de Fernando Henrique. Durante a campanha, sua atuação no cargo sofreu fortes críticas da atual presidente. A reportagem da Gazeta do Povo avaliou os discursos de Aécio e Dilma e os comparou com os dados históricos da economia nacional nos últimos 24 anos.

Ponto fraco de Dilma é o baixo crescimento

O crescimento do país talvez seja o maior calcanhar de Aquiles de Dilma Rousseff (PT) – e, não por acaso, tem sido uma das principais críticas de Aécio Neves (PSDB). Mesmo considerando uma otimista e pouco provável variação positiva do PIB de 1,5% neste ano (o mercado estima que, na realidade, o país deve crescer só 0,3%), o crescimento do país durante a atual gestão será a menor desde 1990. Mais do que isso, a evolução do PIB ainda está abaixo da grande maioria das economias do planeta no período: é o pior desempenho entre os Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) e está abaixo da média da América Latina e é inferior até mesmo ao dos EUA.

Se a comparação for entre quatro anos dos mandatos dos últimos presidentes, o crescimento durante o atual governo é o menor. A presidente justifica que essa retração na economia é causada pela crise internacional. Ainda assim, comparando os dados do Brasil com os do resto do mundo, o país fica bem atrás – inclusive em comparação com a América Latina. Apenas a zona do Euro vive um momento pior.

Para o economista Felipe Salto, da Tendências Consultoria, o crescimento do Brasil costumava ser próximo ao do resto da América Latina. Nos últimos quatro anos, houve um descolamento – que, na sua opinião, deve-se mais a fatores domésticos do que externos. Alguns desses fatores seriam a queda de produtividade da indústria, o excesso de protecionismo e o desajuste da política fiscal.

O economista Luciano D’Agostini, do Grupo de Pesquisa Macroeconomia Estruturalista do Desenvolvimento, vê na estrutura do PIB brasileiro o motivo da desaceleração da economia – algo que pouco mudou desde a era FHC. Para ele, o PIB do país depende excessivamente do consumo da população e do governo e tem baixa taxa de investimento e de produtividade. Segundo D’Agostini, com o aumento do poder de compra durante a era Lula, o país pôde crescer ao longo da última década. Entretanto, o alto endividamento das famílias freou o consumo, que, por sua vez, comprometeu o crescimento. Para D’Agostini, a possibilidade da retomada do crescimento no curto prazo é nula.

Inflação com FH e Lula caiu, mas voltou a crescer

De todos os indicadores econômicos, a inflação talvez seja a que mais pese na decisão do eleitor na urna. Isso acontece porque, independentemente de qualquer discurso, o eleitor sente diretamente no bolso quando os preços sobem. Durante a campanha, Aécio Neves (PSDB) e Dilma Rousseff (PT) trocaram muitas farpas sobre o tema. O tucano diz que a inflação está fora de controle, enquanto a petista argumenta que os índices de inflação atuais são muito inferiores aos da gestão tucana.

Olhando apenas os números, de fato, a inflação do governo Dilma é mais baixa do que a do governo Fernando Henrique Cardoso. Nos últimos quatro anos, os preços subiram, no total, 27% – considerando o índice de inflação de 2014 em 6,74%, IPCA do mês de setembro. Nos dois quadriênios da era FHC, esses índices foram de 43% e de 39%, respectivamente.

Entretanto, é preciso considerar também que o governo tucano sucedeu um período de hiperinflação. Nos quatro anos anteriores, os preços subiram 2.581.611% – ou seja, o que custava 100 em 1990 passou a custar 2,5 milhões em 1994. Naquele ano, de lançamento o Plano Real, o IPCA foi de 916%. No ano seguinte, primeiro da gestão tucana, esse índice estava em 22%.

Para o economista Felipe Salto, da Tendências Consultoria, é preciso observar a tendência da inflação, antes de compará-las numericamente. De 1994 a 2010, ela caiu progressivamente, primeiro com Fernando Henrique, depois com Lula. Nos últimos quatro anos, entretanto, a tendência foi de crescimento. Desde 2005, a inflação não passava dos 6% ao ano – em 2011, a inflação foi de 6,5% e em 2014, a previsão do mercado é que ela feche em 6,45%.

A presidente atribui essa piora a um choque de oferta: no debate da última quinta-feira, no SBT, ela disse que a falta de chuvas contribuiu para perdas na agricultura e para o aumento do custo da energia, o que gerou pressão sobre os preços. Para Salto, ainda que isso influencie no resultado final, a alta na inflação tem mais a ver com a política econômica do governo – a manutenção da taxa de juros em um patamar baixo seria um exemplo de fator que estimulou a inflação.

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