Segundo José Bento Sterman Ferraz, professor da FZEA/USP, há um equívoco sobre a emissão de gases de efeito estufa (GEE) pelos ruminantes. Eles representam apenas 3,9% das emissões globais, enquanto transporte, eletricidade e indústria/comércio somam cerca de 90%. Além disso, o metano bovino dura apenas 12 anos na atmosfera, sendo absorvido pelas plantas no ciclo da fotossíntese, ao contrário do CO₂ fóssil, que permanece por milênios. Esses dados desmontam a ideia de que a pecuária seria a principal responsável pelo aquecimento global.
A eficiência alimentar dos bovinos é um fator essencial para reduzir emissões. Animais mais produtivos convertem alimentos em carne mais rapidamente, diminuindo o tempo de permanência no rebanho e, consequentemente, a geração de GEE. Ferraz destaca que, dentro de um mesmo lote, há bovinos que consomem até três vezes mais alimento que outros para o mesmo ganho de peso, evidenciando a importância da seleção genética para maior eficiência e menor impacto ambiental.
“A pequena parcela de gases emitidos pela pecuária está diretamente ligada à eficiência alimentar dos ruminantes. O ponto central é que animais menos eficientes precisam de mais tempo consumindo alimentos para transformar em carne e, portanto, mais tempo gerando GEE. A conta é simples: o animal que possui capacidade para conversão de alimentos em carne de forma mais rápida pode ser abatido em menos tempo e parar de gerar esses gases”, explica Ferraz.
No entanto, a busca exclusiva por eficiência alimentar pode comprometer a reprodução. A falta de gordura corporal impacta a fertilidade das novilhas, prejudicando a produção de bezerros. Por isso, é essencial equilibrar genética e manejo nutricional para otimizar produtividade e sustentabilidade. O avanço da inseminação artificial e o uso de touros geneticamente superiores ainda enfrentam resistência, mas têm grande potencial para transformar o setor.
“O mercado de genética mudou muito nos últimos anos. Menos de 30% das vacas brasileiras são inseminadas, mostrando um grande potencial para as biotecnologias reprodutivas. No entanto, cerca de 70% das mais de 70 milhões de vacas são fecundadas por touros, seja por monta natural ou repasse. Não podemos ignorar a importância do uso de touros geneticamente selecionados. A oferta desses touros, com frete grátis ou subsidiado, tem ajudado na difusão de material genético de alta qualidade. A escolha adequada do material genético, sem modismos, é essencial para combater falsas informações e contribuir com a segurança alimentar de milhões de pessoas”, conclui Ferraz.