Publicado em 14/01/2025 10h44

Pinhão: descoberta científica revela Potencial prebiótico e benefícios para a saúde intestinal

Estudo da Embrapa e universidades identifica compostos que estimulam o crescimento de bactérias benéficas.
Por: Wisley Torales

Imagem de Daniel Dan outsideclick por Pixabay

Um estudo recente, conduzido pela Embrapa Florestas (PR) em colaboração com a Universidade Federal de Viçosa (UFV) e a Universidade Federal da Paraíba (UFPB), revelou a presença de dois importantes grupos de prebióticos no pinhão: o amido resistente e os FOS (frutooligossacarídeos). Essas substâncias têm a capacidade de estimular o crescimento de probióticos, microrganismos benéficos essenciais para um ecossistema intestinal saudável, abrindo novas perspectivas para o uso do pinhão na promoção da saúde.

“Os relatos da presença de compostos fenólicos, amido resistente e minerais como fósforo, potássio e magnésio no pinhão já eram conhecidos pela ciência. No entanto, a identificação de frutooligossacarídeos (FOS) na semente de Araucária é uma descoberta inédita e de grande relevância”, explica a pesquisadora da Embrapa Catie Godoy, coordenadora do projeto PINALIM, que deu origem à investigação. Até então, esses compostos eram encontrados em outras fontes vegetais, como o yacon, alcachofras, aspargos e chicória. A cientista acredita que essa descoberta pode aumentar o interesse no consumo do pinhão, com foco em uma dieta saudável e equilibrada.

O estudo, publicado na revista Food and Nutrition Sciences sob o título "Evaluation of the potential of araucaria angustifolia seeds as source of oligosaccharides, resistant starch and growth of probiotic bacteria", apresenta resultados promissores que devem impulsionar novas pesquisas com a semente da Araucária, uma árvore pré-histórica que se encontra na lista de espécies ameaçadas, restringindo-se atualmente às populações remanescentes da Floresta Ombrófila Mista.

Para entender a importância dessa descoberta, é fundamental diferenciar prebióticos de probióticos. Probióticos são bactérias e leveduras benéficas que vivem naturalmente no intestino, auxiliando na digestão e protegendo o organismo contra doenças. Eles também são encontrados em alimentos fermentados como iogurte, kefir, chucrute e kombucha. Já os prebióticos são carboidratos ricos em fibras não digeríveis, que servem de alimento para essas bactérias e leveduras benéficas, ou seja, são o "combustível" para a flora intestinal.

O estudo analisou três variedades de pinhão – Sancti josephi, Angustifolia e Caiova – colhidas em diferentes épocas do ano, correspondendo a diferentes estágios de maturação. Os resultados foram obtidos por meio de análises químicas e experimentais, avaliando a composição dos oligossacarídeos e do amido resistente, além do crescimento de bactérias para investigar o efeito prebiótico. A análise estatística dos dados permitiu determinar as diferenças entre as variedades de pinhão em relação ao conteúdo de oligossacarídeos e ao crescimento bacteriano.

As pesquisas foram conduzidas em parceria com a professora da UFV Célia Lúcia de Luces Fortes Ferreira, especialista em estudos com probióticos. “O amido resistente e o FOS são metabolizados pelos probióticos, mantendo a presença constante dessas bactérias benéficas no intestino. Ao crescerem em presença dessas substâncias, as bactérias acumulam no ambiente, principalmente ácido butírico, e outras substâncias essenciais para a “renovação” do epitélio intestinal. Um ambiente intestinal saudável diminui o risco de diversas doenças locais e sistêmicas”, detalha a professora.

O estudo também demonstrou que o amido de pinhão promoveu o crescimento de bactérias benéficas, comparado com a dextrose (carboidrato simples). Para algumas bactérias, o amido de pinhão promoveu um crescimento superior, demonstrando sua eficácia na multiplicação de probióticos, com destaque para L. plantarum e B. breve. “Esse efeito se deve à presença de amido resistente no pinhão, que escapa da digestão no intestino delgado e é fermentado no intestino grosso, produzindo ácidos graxos de cadeia curta, que trazem diversos benefícios à saúde”, afirma Ferreira.

Apesar dos resultados promissores, o impacto do amido resistente no metabolismo dessas bactérias ainda não está totalmente compreendido, sendo necessárias mais pesquisas para confirmar esse efeito prebiótico, segundo Haíssa Cardarelli, professora da UFPB. Cardarelli e sua orientanda, Fernanda Pereira Santos, darão continuidade aos estudos, utilizando a farinha de pinhão como fonte de crescimento para probióticos, um produto desenvolvido com tecnologia Embrapa.

Natália Marques, coordenadora do programa de pós-graduação em Nutrição Clínica e Funcional do Instituto Valéria Paschoal, destaca o pioneirismo do estudo na detecção de prebióticos no pinhão. “As contribuições para a saúde humana incluem a prevenção de diversas doenças crônicas. Ao valorizarmos a inclusão do pinhão na alimentação, criamos um estímulo positivo para a manutenção das florestas de Araucária, o desenvolvimento de campanhas que estimulem seu uso e a criação de novos produtos com o pinhão”, enfatiza.

A descoberta da presença de FOS e seu comportamento prebiótico nas sementes de Araucaria angustifolia abre diversas possibilidades para a pesquisa e para a aplicação prática. Essa descoberta pode impulsionar o desenvolvimento de produtos alimentares inovadores, que visam à saúde digestiva, como snacks, cereais matinais, suplementos e alimentos funcionais, ampliando o mercado para esse alimento tradicional e contribuindo para a preservação da Araucária.

Com informações da Embrapa

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