Foi o fim de uma longa expectativa e de muitas negociações. Após 12 anos sem importações de material genético da raça Devon, 1.500 doses de sêmen do reprodutor inglês Tilbrook Elite chegaram ao Brasil, na semana passada. Os compradores são seis criadores do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina, todos associados da ABCDB, que fizeram a aquisição em conjunto.
O touro Tilbrook Elite, nascido em 2019, é mocho homozigoto, de propriedade da Tilbrook Granje, de Huntingdon, cidade no condado de Cambridge, leste da Inglaterra. É filho de um Forde Abbey, propriedade referência na criação de Devon no Reino Unido, e de mãe Tilbrook, genética reconhecida dos criadores brasileiros.
Um dos compradores, Gilson Barreto Hoffmann, da Cabanha Santa Lúcia, de André da Rocha (RS), acredita que os criadores brasileiros de Devon utilizam mais genética, IATF e FIV do que os de outros países. “Os brasileiros estão muito empenhados em investir no melhoramento genético e isso certamente se reflete na qualidade do plantel. Um touro reprodutor selecionado e moderno, sem dúvida vai influenciar positivamente nos índices reprodutivos do rebanho”.
Também foram parceiros na aquisição os criadores Adelar Santarem, da Cabanha Aparecida, de Caxias do Sul (RS), Alfredo da Silva Tavares, da Cabanha Timbaúba, de Pedras Altas (RS), Claudio Plácido Silva Ribeiro, da Fazenda Palmeira, de Camaquã (RS), Marcos Pandolfi, da Camboatã Agropecuária, de Camaquã (RS), e Simone Bianchini, da Cabanha São Luiz, de São José do Cerrito (SC). A pecuarista catarinense lembra que foi o pai, Ivo Bianchini, quem efetivou a última importação, em 2012, de um reprodutor Stonegrove. E comemora que a atual aquisição é de um touro com sangue aberto. “É um sucesso grandioso. O rebanho Devon é relativamente pequeno e estava precisando de linhagens diferentes para novos cruzamentos. Acredito que haverá uma maior abertura e a raça deverá despertar mais atenção”, projeta Simone, também vice-presidente da ABCDB.
A importação foi intermediada pela Araucária Genética Bovina, de Londrina (PR). Com mais de 30 anos de experiência, o CEO Marcelo Vezozzo relata empenho e dedicação para concretizar a importação, visto que são muitos os entraves. “Realizo um trabalho artesanal, porque cada importação é única, mas os desafios que precisamos superar são inúmeros. Envolve muitos detalhes e variáveis”.
A comercialização de material genético bovino entre países envolve uma série de exigências e precauções, começando pelas sanitárias, conforme explica Vezozzo, também médico veterinário. “Na Europa, só pode ser exportado sêmen de reprodutores de zona livre para doenças como a vaca louca e o vírus Schmallenberg. Caso haja um caso confirmado, todo o rebanho, automaticamente estará suspenso para exportação.”
Da mesma forma, aqui no Brasil o MAPA (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento) tem uma série de requisitos zoosanitários para autorizar o desembarque de sêmen bovino congelado em solo nacional. “São exigências como avaliações, comprovação de genealogia, DNA detalhado e negativas de doenças, os protocolos são rígidos para manter o rebanho brasileiro saudável e em condição de livre para doenças. O nosso trabalho começa com uma análise se o touro desejado se enquadra nessas regras”, conta o especialista Vezozzo.
Com o sêmen em casa, o grupo de criadores deve começar a utilizar o material em inseminações na próxima primavera, com a estreia dos primeiros descendentes de Tilbrook Elite, em pastos brasileiros, em 2025.