O agronegócio, após três anos de forte crescimento, enfrenta um ano de ajuste com preços estáveis ou em queda, apreciação do câmbio e uma pequena quebra na safra, levando a uma leve queda no PIB do setor. Por outro lado, a economia brasileira deve desacelerar menos do que o esperado, com um crescimento do PIB de pelo menos 2% impulsionado por estímulos fiscais, pagamento de precatórios e queda dos juros, o que beneficia o consumo, especialmente no segundo semestre.
“Importante frisar que esses estímulos são de curto prazo. O país não conseguirá seguir crescendo na intensidade que precisa apenas com medidas de curto prazo, como queda de juros e aumento de gastos. A necessidade de seguir com reformas microeconômicas é essencial para que se aumente o patamar de crescimento nos próximos anos. Um passo foi dado pela reforma tributária. Em que pese o excesso de setores que mantiveram benefícios, o fato é que a simplificação trazida pelo novo sistema trará eficiência e aumento de produtividade na economia como um todo. Esse processo será lento, pois a reforma levará dez anos para ser completada, mas uma empresa que quer investir no Brasil o fará com os olhos voltados a esse novo cenário tributário mais positivo que se avizinha”, afirma Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados.
O crescimento econômico precisa de um ajuste fiscal adequado e um cenário global mais favorável. No entanto, desafios significativos persistem, especialmente com várias eleições importantes este ano, incluindo nos EUA. A vitória de Trump ou Biden terá impactos distintos, com Biden potencialmente mantendo o impasse na Europa, enquanto Trump poderia aumentar as tensões, favorecendo avanços russos na Ucrânia e chineses em Taiwan. A rivalidade entre EUA e China deve intensificar, possivelmente beneficiando as exportações brasileiras de commodities, mas os ataques terroristas no Mar Vermelho têm afetado os preços dos fretes e impactado a economia europeia.
“O Brasil terá que ter especial atenção em um mundo em que cada vez mais as questões geopolíticas se colocam no mesmo nível de importância que as econômicas. Isso demandará um esforço diplomático muito grande do país, pois ambos os lados são de vital importância para nós nessa disputa. O fato é que o Brasil precisa fazer um maior esforço para que a imagem do país não saia arranhada por escolhas e falas equivocadas. Seria uma enorme perda de oportunidade em um momento em que o mundo nos olha cada vez mais como uma potência energética e ambiental”, conclui.