Publicado em 03/04/2024 11h11

Carro flex polui menos que elétrico e boi não causa impacto relevante, diz pesquisador da FGV

Pesquisador da Fundação Getúlio Vargas (FGV) Daniel Vargas apresentou argumentos que desmontam afirmações de autoridades dos países desenvolvidos sobre quem contribui mais para o aquecimento global com a emissão de gases causadores do efeito estufa (GEE) e quais as estratégias adequadas para mitigar esse problema.
Por: Semadesc - Secretaria de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação

Vargas proferiu palestra na manhã dessa segunda-feira (1° de abril) durante a abertura do Fórum Estadual de Mudanças Climáticas realizado pela Semadesc (Secretaria de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação) de Mato Grosso do Sul. O evento acontece no Sebrae/MS e reúne autoridades, pesquisadores, estudiosos, ativistas, técnicos, produtores e empresários.

Com o tema “Transição Verde: conversão do verde ao valor”, o pesquisador aponta quatro setores vistos pelos técnicos do IPCC (Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas) como potenciais poluidores e que são vitais para o desenvolvimento dos países tropicais, a saber: a Agricultura, a Pecuária, o Transporte e o Comércio.  O IPCC é o organismo da ONU que concentra as discussões e elabora diretrizes para as políticas de combate às mudanças climáticas.

A desconfiança lançada sobre a Agricultura tem a ver com a premissa de que, qualquer aumento na produção demande, necessariamente, devastação de florestas para ampliar a área plantada, explicou Vargas. Isso porque, na Europa, sobretudo, a média de produtividade das culturas se mantém inalterada há anos, portanto só conseguem conceber aumento de produção com ampliação da área plantada. No Brasil, com a adoção de tecnologias sustentáveis, as safras têm sido cada vez maiores sem que a área plantada aumente na mesma proporção.

Outra distorção apontada pelo pesquisador diz respeito a quem fica com o ônus da poluição gerada durante o processo produtivo. Essa conta muda de destino a depender do setor em questão. Na exploração de petróleo, por exemplo, o ônus fica para os países que compram os derivados. Já na produção agrícola, a conta recai ao país que produz. Essa perversão do sistema comercial precisa ser revista porque prejudica os países tropicais (América Latina e África), grandes produtores de alimentos, enquanto beneficia os países ricos que têm na exploração do petróleo importamte matriz econômica.

Boi-gelo e energia limpa

O alvo predileto dos idealizadores da legislação climática tem sido o boi, que em seu ciclo de vida emite uma quantidade importante de gás Metano, o segundo maior vilão do efeito estufa (atrás apenas do gás carbônico, o CO2). Vargas rebate a teoria da pecuária poluidora e assegura que, feitas as contas corretamente, pode-se concluir que o boi é uma “geladeira” ambulante. Isso porque, parte do Metano que é gerado pelo bovino é transformado em água e CO2 num período de até 10 anos após a emissão. Esse CO2 acaba sequestrado pela vegetação que serve de alimento para o rebanho, de modo que o saldo de GEE acaba zerado nesse processo.

“O Metano não é como o CO2 que dura até mil anos na Atmosfera. Não pode ser computado de forma cumulativa. A depender da qualidade do sistema produtivo implantado, julgado na melhor forma científica, o boi pode ser uma geladeira para o planeta”, afirmou.

Por fim, outro mito desfeito pelo pesquisador em sua palestra é a hipotética superioridade do carro elétrico que circula na Europa, em contraponto ao motor flex movido a gasolina e etanol (ou só etanol) usado no Brasil. “O carro elétrico em si não polui nada, nem escapamento tem. Mas a energia que move esse carro é gerada por usinas termelétricas à base de carvão mineral, combustível altamente poluidor”, completou.

Nesse sentido, Vargas conclui que o carro flex chega a ser 30% menos poluidor que o carro elétrico europeu. Essa constatação já fez as empresas e organismos governamentais repensarem a produção em massa de carros elétricos. Pelo menos até que consigam fontes limpas de energia, o que o Brasil também tem em abundância. Em 2023, 93,1% de toda eletricidade gerada no Brasil partiram de fontes renováveis, como hidrelétricas, parques eólicos, fazendas solares e usinas a biomassa, conforme estudo da Central de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE).

O pesquisador entende ser necessário um trabalho firme no âmbito diplomático para reajustar o balanço de responsabilidades de cada um na emissão de GEEs e nas ações mitigadoras. A primeira tarefa é criar métricas para referenciar cada processo produtivo e chegar a um balanço correto de carbono. “Talvez não haja país mais bem posicionado e referendado no mundo para liderar essa tarefa que o Brasil”, acredita.

O Banco de Dados de Emissões para Pesquisa Atmosférica Global (Edgar) aponta a China como o país com a maior emissão de gases do efeito estufa (29,2%), seguida dos Estados Unidos (11,2%), Índia (7,3%), enquanto todos os países membros da União Europeia respondem por 6,7%. Mesmo sendo o quinto maior país em território e a 9ª maior economia do mundo, o Brasil tem uma parcela pequena de 2,4% no total de emissões.

 

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