Em meio a uma renovação da cadeia do trigo, que passa por um momento desafiador por conta de fatores climáticos e geopolíticos, a edição comemorativa de 30 anos do Congresso Internacional da Indústria do Trigo reuniu mais de 520 pessoas em Atibaia (SP) entre os dias 25 e 27 de outubro, tendo como destaque em sua programação discussões sobre o mercado no Brasil e no mundo, além de uma nova geração entrando cada vez mais nos negócios envolvendo o cereal e questões relacionadas a ESG e inteligência artificial.
Com foco no contínuo desenvolvimento do setor, o evento contou com a participação de importantes players da cadeia produtiva e com representantes do poder público, como o Presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), Pedro Lupion, que reforçou o compromisso com o segmento.
“A FPA representa todos os setores da agropecuária, para contemplar as suas necessidades e solucionar os gargalos. O trigo vive um momento difícil nas questões de preço, mercado, logística e armazenagem. Isso impacta os negócios das empresas presentes nesse Congresso e a nossa responsabilidade é buscar resoluções para esses problemas”, afirma.
Um debate sobre o mercado do trigo foi estabelecido no primeiro painel do evento, que teve como palestrantes a Co-country Head da Olam Brasil, Catia Jorge, o Senior Trading Manager da Bunge, Eduardo Bulgareli, e o analista de mercado da Safras & Mercado, Élcio Bento.
Mesmo com produção e consumo estáveis em nível mundial, Catia alertou que os preços e custos de produção têm se mostrado os principais desafios do mercado internacional, influenciado pelas incertezas trazidas pelo conflito entre Rússia e Ucrânia, principalmente no que diz respeito ao corredor de exportação no Mar Negro, e pela demanda de países como a China, que apresenta uma demanda volátil de importação.
No Brasil, Élcio Bento indicou que a projeção atual é de uma safra de 9,5 milhões de toneladas, em função das quebras ocasionadas pela chuva, com destaque para o Rio Grande do Sul, com perdas em produtividade e qualidade do cereal produzido. Essa quantidade de trigo conseguirá saciar 75% do consumo total brasileiro, com a demanda restante contemplada por trigo de origem argentina, russa, e uruguaia, por exemplo.
Eduardo Bulgareli complementou apontando que a última safra brasileira permitiu que o País ganhasse credibilidade no quesito exportação, com trigo de boa qualidade sendo comercializado em mercados como a África, por exemplo.
Nos últimos anos, as empresas ligadas ao trigo vêm passando por um processo de renovação, com gerações mais jovens assumindo cargos de gestão nos negócios. Esse foi o tema do segundo painel do Congresso, que teve como porta-vozes desse movimento o Coordenador Financeiro e de Suprimentos da S.A. Moageira e Agrícola, André Vosnika, o Gerente Industrial da Orquídea Alimentos/Tondo S.A., Felipe Tondo, e a Gestora de Pessoas do Grupo Dallas, Izabel Zorzo.
O moderador da palestra foi o comentarista do Jornal da Cultura e colunista da Folha de S.Paulo, Luiz Felipe Pondé, que analisou o contexto histórico sobre os choques entre gerações na sociedade. Segundo ele, as bases para o que encontramos até hoje estão no século XIX, reforçando que a entrada de pessoas mais jovens nos negócios é o movimento natural no mundo corporativo.
Os palestrantes, todos na faixa etária dos 30 anos, explicaram que, ainda que as ferramentas que as novas gerações têm em mãos sejam diferentes, o conceito por trás do trabalho nas empresas relacionadas ao trigo permanece o mesmo, com reconhecimento ao propósito e aos valores traçados pelos pioneiros e às inovações trazidas pelos mais jovens.
Inteligência emocional, vontade de aprender e adaptabilidade são as características que André, Felipe e Izabel buscam nos profissionais de uma geração mais nova que a deles, para que eles, ao mesmo tempo, contribuam com seu repertório de conhecimentos e façam uso da expertise de quem já está no mundo corporativo há mais tempo.
Com o avanço da agenda ESG nas empresas, a Abitrigo convidou dois profissionais relacionados a esse tema para discutir essa realidade no setor tritícola. O gerente Corporativo de Sustentabilidade e Meio Ambiente da Klabin, Júlio Nogueira, e a diretora do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC), Valéria Café, conduziram o debate.
Para Valéria, as principais necessidades de governança corporativa no agro estão ligadas a plano de sucessão e mapeamento de riscos corporativos e operacionais. Entre os desafios para atender essas demandas estão a falta de informações e referências adaptadas e adequadas para o agronegócio, o receio de estabelecer novas burocracias e de aumentar os custos, além da descentralização do poder. O alicerce para uma boa governança, segundo a diretora, segue cinco princípios que se aplicam a qualquer tipo de organização: integridade, equidade, responsabilização, transparência e sustentabilidade.
Júlio Nogueira explicou que os consumidores estão cada vez mais conscientes sobre questões envolvendo ESG e sustentabilidade, e as instituições financeiras já incorporaram parâmetros ambientais, sociais e de governança em seus critérios de avaliação para fechamento de negócios. Por isso, na visão do profissional, integrar a agenda ESG à rotina das empresas é uma questão de sobrevivência para os empreendimentos.
Com novas tecnologias sendo adotadas pelas empresas para otimizarem suas tarefas e potencializarem seus negócios, a inteligência artificial é uma das protagonistas desse novo momento no mundo corporativo. O último painel do evento debateu esse tema, com a participação do cofundador da Plataforma AAA Inovação, Arthur Igreja, e do fundador e CEO da Bnex, Fernando Gibotti.
Igreja detalhou que 2023 é um ano marcado pela revolução do descolamento do ritmo do ser humano em relação às tarefas executadas, em que o trabalho não tem mais a ver com a velocidade e as limitações do ser humano. Nesse sentido, recursos de inteligência artificial são adotados para elevar a produtividade das empresas, permitindo um maior destaque financeiro àquelas que incorporam essa tecnologia à sua realidade.
Com as evoluções tecnológicas e da sociedade e a transformação no consumo das pessoas, Fernando Gibotti ressaltou que o uso da inteligência artificial tem sido feito para incrementar vendas e margem de lucro, contribuindo para identificar perfis de compra e tendências de comportamento, prevendo o impacto delas nos negócios.
“Eventos como esse Congresso são extremamente importantes para que possamos reunir a indústria, o produtor, o governo e demais envolvidos na cadeia produtiva, com o objetivo de debater os desafios enfrentados atualmente e planejar o futuro do trigo no Brasil, de forma a atender as necessidades desse setor em expansão”, finaliza o Presidente-Executivo da Abitrigo, Rubens Barbosa.