Publicado em 03/09/2023 22h39

Açaí-solteiro: Embrapa discute potencial da cultura

O objetivo foi promover maior interação entre os profissionais envolvidos em pesquisa.
Por: Embrapa

Nos dias 21 e 22 de agosto, analistas e pesquisadores da Embrapa Acre e  Embrapa Amazônia Ocidental realizaram visita técnica em áreas pioneiras de cultivo de açaí-solteiro (Euterpe precatoria), conhecido também como açaí-da-mata e açaí-do-amazonas. O objetivo foi promover maior interação entre os profissionais envolvidos em pesquisa com essa espécie e o desenvolvimento de atividades de projetos em rede.

A ação integrou as equipes dos projetos Tecnologias para o Cultivo Racional de Açaí-solteiro na Amazônia Ocidental - Fase II", liderado pela Embrapa Acre, e o TED Bioeconomia (Bioeconomia e Sociobiodiversidade de Cadeias Produtivas de Importância na Agricultura Familiar com Ênfase nos Biomas Cerrado e Amazônia), liderado pela Embrapa Amazônia Oriental.

Na manhã do primeiro dia, o grupo conheceu o experimento de cultivo de açaí irrigado na Universidade Federal do Acre (Ufac), conduzido pelo professor do curso de Agronomia, Leonardo Paula de Souza, em parceria com a Embrapa. Em seguida, reuniu-se com as chefias de P&D da Unidade do Acre, Jana Saito, e de Transferência de Tecnologia, Daniel Lambertucci, para trocar experiências, esclarecer dúvidas e conhecer mais as ações desenvolvidas com a cultura na região da Amazônia Ocidental. 

A agenda da tarde foi no campo experimental da Unidade. No viveiro, o analista Fernando Pretti ressaltou as dificuldades encontradas no início do processo de produção de mudas de açaizeiro e as conquistas alcançadas pela pesquisa. A bolsista Paula Rufino apresentou o experimento de sua tese que avalia o uso de biochar ou biocarvão, elaborado com resíduos agroindustriais (caroço de açaí, casca de castanha e de cupuaçu), como substrato para a produção de mudas de açaí-solteiro.

Ainda no campo, o analista Lauro Lessa falou sobre o experimento de avaliação de progênies de açaí-solteiro, coletadas em diferentes localidades do estado do Acre, que faz parte do programa de melhoramento genético dessa espécie. A influência do tamanho do recipiente no processo de produção de mudas e o nível de sombreamento adequado para o estabelecimento do açaizeiro em campo também foram temas observados nos experimentos e discutidos pelos visitantes.

Para Aureny Lunz, pesquisadora da Embrapa Acre, o desafio de domesticação da espécie ainda é grande. “Começamos do zero, mas este ano já estamos lançando uma publicação com orientações sobre produção de mudas de açaí-solteiro para viveiristas, bem como para o produtor produzir sua própria muda. Esse material é resultado de um trabalho que envolve uma equipe muito comprometida com essa pesquisa”, destaca.

Para a pesquisadora da Embrapa Amazônia Ocidental, Maria do Rosário Lobato, a visita permitiu conhecer os principais experimentos e as atividades de pesquisa realizadas nas duas Unidades. “Essa oportunidade de troca de experiências é fundamental para que ocorra maior interação da equipe e fortalecimento das parcerias do projeto. Temos muito a realizar pela frente, tanto para o cultivo racional do açaí como para o enriquecimento dos plantios das populações naturais", reforça.

Troca de saberes

No segundo dia, a equipe foi até as propriedades dos produtores de açaí Loy Maleski, em Vila Extrema, e Hamilton Condack, no projeto Reca (RO), ambas em Rondônia, para conhecer áreas de monocultivo e em consórcio, que representam umas das poucas experiências, na região, com o açaí-solteiro em estágio de produção.

O agricultor Maleski, que trabalha com açaí desde 2006, conta que seus primeiros cultivos foram com o de touceira, mas, depois que conheceu o potencial do açaí-solteiro, ampliou sua área apenas com essa espécie, diversificando a produção com coco, abacaxi e citros. 

“Sei que a Embrapa é referência na agricultura. É um orgulho mostrar meu trabalho para seus pesquisadores. Já utilizei muita informação na internet gerada pela Empresa, mas trabalhar em parceria vai fazer a diferença. Isso me dá mais tranquilidade no cuidado dos plantios. Fico feliz”, comenta.

Para Ricardo Lopes, pesquisador da Embrapa Amazônia Ocidental, o intercâmbio no Acre foi uma oportunidade para conhecer experimentos pioneiros com a cultura do açaí-solteiro. “Vimos que os produtores têm realizado e expandido plantios com base em experiências práticas vivenciadas por eles. A partir dessas iniciativas é possível colher informações que podem acelerar nossas pesquisas. Por outro lado, podemos contribuir com conhecimento para que o produtor possa melhorar aspectos relacionados à condução dos plantios”, pontua.

“As áreas de plantios idealizadas pelos produtores mostram que eles também são cientistas. E as soluções que eles criam acabam sendo ponto de partida para muitas pesquisas. É uma prática que deve ser valorizada e esse é um dos motivos que nos trouxe até aqui”, complementa Rosário.

Novos desafios

No início de 2023, a Embrapa Acre, em parceria com a Embrapa Amazônia Ocidental e  Embrapa Rondônia, aprovou o projeto “Tecnologias para o Cultivo Racional de Açaí-solteiro na Amazônia Ocidental, Fase II”. O objetivo principal da iniciativa é  desenvolver tecnologias para o cultivo sustentável do açaí-solteiro para a produção de frutos. As atividades começaram em abril de 2023 com previsão de conclusão em março de 2026.

“O foco do projeto é amplo, envolve o aperfeiçoamento de técnicas de produção de mudas de alta qualidade fitotécnica e o estabelecimento de indicadores fitotécnicos (exigências nutricionais e hídricas, espaçamentos, arranjos agroflorestais e nível de sombreamento para o estabelecimento de plantas em cultivos) para essa cultura. Com o resultado desses estudos, poderemos contribuir com a ampliação dos cultivos comerciais e  aumento da escala de produção de frutos de açaí”, explica  Lunz, líder do projeto.

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