As misturas de defensivos agrícolas e fertilizantes no preparo das caldas hoje são fundamentais no dia a dia no campo, principalmente pela praticidade na aplicação, mas também porque geram economia de tempo e combustível, dentre vários outros benefícios. Mas, o que parece simples, exige diversos cuidados para evitar problemas e até mesmo para que não haja perda da eficiência de alguns ingredientes ativos que se está aplicando, ou seja, prejuízo na certa.
Este processo começa no conhecimento das propriedades da água que será utilizada. De acordo com o químico e pesquisador em adjuvantes agrícolas da Sell Agro, Marcelo Hilário, é importante destacar alguns detalhes que à primeira vista não parecem relevantes. Como o pH da água, teores de cálcio e magnésio (qual sua dureza), índices do ferro, além do pH final da calda após a adição dos defensivos e fertilizantes. Sem esses dados o preparo de calda pode se tornar um verdadeiro pesadelo.
“Isso porque, mesmo quando a calda não “talha”, algumas interações entre defensivos e metais presentes na água em sua forma aniônica, ou mesmo entre defensivos e fertilizantes entre si, apesar de não serem detectadas visualmente, podem reduzir parcialmente ou completamente a eficiência sobre o alvo”, pontua.
Sobre o pH, por exemplo, é preciso saber seu valor na água e na calda final. Em especial na segunda, o especialista explica que os defensivos agrícolas têm sua performance otimizada em determinadas faixas ou valores de pH, e ao contrário, podem ter redução de eficiência ou mesmo inativação, “dependendo do valor de pH em que se encontram”.
Traçando uma analogia, na escola, quando se estuda química básica, aprende-se que ao misturarmos um ácido com uma base, teremos a formação de um sal e a produção de água. Trazendo para o campo: não dá para preparar uma calda com ingredientes que tenham pHs em faixas opostas, isso é, que sejam ácidos e alcalinos. “Porque na calda, a reação entre eles, e a formação de sal, pode levar exatamente ao que se chama de “talhar a calda”. A formação daquela “gororoba”, daquele “godó” que entope filtros, que gruda na parede e no fundo dos tanques, e se torna um pesadelo para os times de aplicação”, alerta Hilário.
O segundo ponto a ser levado em consideração é a dureza (cálcio e magnésio) e o teor de ferro da água. Pois muitas moléculas de defensivos interagem fortemente com esses três elementos quando estão presentes na água sob a forma de cátions, que são metais em solução com carga positiva. “E dependendo da quantidade de cada um deles, a redução da eficiência é muito grande, podendo chegar à completa inativação”, lembra o pesquisador da Sell Agro.
Quando a água que será utilizada para preparar a calda tem cálcio, magnésio e ferro, a orientação é para a adoção de adjuvantes que possuam em sua formulação agentes quelantes (ou quelatizantes), que sequestram estes cátions e garantem que eles não reajam com nenhum defensivo da mistura.
Mesmo após tudo isso, Garcia destaca que interações químicas ainda podem acontecer entre os ingredientes, gerando os chamados efeitos de interação entre os ingredientes da calda. “Por isso é preciso realmente estudar os produtos que serão utilizados e como serão aplicados, atenção máxima aos detalhes”, reforça.
Não menos importante do que todos os pontos já citados, a quantidade de água usada na pré-mistura e o nível de agitação são pontos cruciais de boas práticas no preparo das caldas. “Via de regra, deve-se colocar água até a metade do volume da pré-mistura, adicionar os defensivos, e se sobrar “espaço”, completar com água até o volume final”, esclarece Garcia. Tudo isso sob agitação constante, que deve ser o mais forte possível. E claro, respeitar a ordem de adição recomendada em função do tipo de formulação do produto a ser utilizado, para evitar problemas de incompatibilidade física.