Publicado em 22/10/2014 09h05

Inflação chega aos sacolões; tomate dispara 40% em Belo Horizonte

redução do plantio de verduras e legumes nas regiões produtoras já chegou ao varejo e comprometeu o orçamento das donas de casa
Por: Marinella Castro, Luiz Ribeiro

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Os efeitos da estiagem já chegaram aos sacolões, nos quais os preços das hortaliças, frutas e legumes, em pleno período de safra, estão em alta. Alimentam a inflação em época que deveriam ajudar a aliviar a pressão do custo de vida.

Levantamento do site Mercado Mineiro em 16 estabelecimentos da capital mostra que alguns itens, de forma atípica, dispararam entre agosto e este mês. É o caso do tomate, que no início do ano costuma ser apontado como vilão da inflação, mas agora, em plena época de colheita, deveria estar barato. Em Belo Horizonte, nos últimos 60 dias o preço médio do fruto acelerou, em média, 40%, saltando de R$ 2,80 para R$ 3,91. Frutas refrescantes também não escaparam do dragão.

A maior alta observada pela pesquisa foi no preço da melancia. O quilo da fruta, que é vedete em épocas de calor, saía por R$ 1,29 em agosto. Na última semana já era possível observar reajuste de 24,81%, uma vez que o preço médio era de R$ 1,61. Mas ontem era fácil encontrar o quilo sendo vendido por R$ 1,99. Já o preço médio do limão tahiti também assusta quem vai ao sacolão, passou de R$ 3,27 para R$ 3,99, aumento de 22,02%, e novas altas no varejo devem deixar a limonada mais cara. Na Centrais de Abastecimento do estado (CeasaMG), onde os produtos são vendidos no atacado, o valor da fruta dobrou. A caixa de 20 quilos do limão tahiti, vendida a R$ 40 em setembro, passou para R$ 80 neste mês.

A enfermeira Edilene Paulinelli notou que o preço do limão acelerou. E não foi apenas a fruta que fez o sacolão da dona de casa pesar mais no bolso. Ela aponta que a inflação está generalizada, atingindo vários itens. “Acredito que a seca está encarecendo os preços. O quiabo, que no mês passado eu comprava por R$ 8,90 bandeja, agora está por R$ 14,90. Frutas como o kiwi também subiram bastante.” Nem o chuchu escapou. Ontem, Edilene, que sempre pesquisa preços, comprou a verdura em um sacolão do Bairro Serra, Região Sul da capital, aproveitando a oferta: “Vou pagar pelo quilo R$ 1,99, mas o preço do chuchu na região que frequento chega a R$ 3,29”. Semanalmente, a enfermeira desembolsa cerca de R$ 120, com frutas, legumes, verduras e carne para quatro pessoas. “O preço da carne também subiu muito. Há três meses gastava perto de R$ 80 com essas compras”, calcula.

ALAVANCA Segundo o Mercado Mineiro, em agosto o quilo do chuchu custava em média R$ 1,90. Em outubro, acelerou para R$ 2,57, aumento de 35,26%. O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acumulou nos últimos 12 meses até setembro, alta de 6,75%, acima do teto da meta (6,5%) do governo para o ano, sendo que a maior pressão veio dos alimentos. Pierre Vilela, superintendente do Instituto Antonio Ernesto de Salvo (Inaes) da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais (Faemg), diz que a longa estiagem prejudicou a colheita alavancando prejuízos pulverizados por todo o estado. “Devido a seca, os preços estão atípicos. O calor excessivo e a temperatura extrema prejudicam a qualidade dos produtos. Há regiões onde a perda na lavoura de tomate, por exemplo, atinge quase 100%.”

Para o especialista, os alimentos só darão refresco ao IPCA a partir de janeiro de 2015. “Se a chuva começar agora, a recuperação dos hortifruti acontence em 30 dias. No entanto, a tendência de baixa deve ser captada em novembro, período em que tradicionalmente é percebida a alta no preço das carnes devido as festas de fim de ano.”

O hábito de pesquisar da consumidora Edilene Paulinelli faz bem. O levantamento do Mercado Mineiro mostra que a variação entre estabelecimentos é grande. Esse é o caso do quilo da batata, para o qual a diferença alcança 339,71% entre os estabelecimentos, com preços variando entre R$ 0,68 e R$ 2,99. Alguns produtos também registraram queda de preço em velocidade mais modesta do que subiram. Esse é o caso da couve: o preço médio do quilo, de cerca de R$ 1,05, diminuiu 2,54%. A analista financeira Fernanda Laguna também é adepta das pesquisas. Para driblar os reajustes, ela opta por fazer substituições. “Nos últimos três meses o meu gasto com o sacolão aumentou perto de 25%”, estima.

Castigo maior no Norte de Minas

Os lugares que mais são castigados pela estiagem prolongada também são os mais atingidos pela alta dos preços dos hortifrutigranjeiros. É caso de Espinosa, no extremo Norte do estado. No município, a elevação dos preços das frutas e verduras é influenciada pela queda na produção e também pelo custo do frete, já que 70% dos produtos vendidos na cidade saem do entreposto da CeasaMG, na Grande Belo Horizonte, a 700 quilômetros de distância.

Gerente de um supermercado em Espinosa João Paulo Ribeiro Teixeira conta que, nesta semana, o preço do tomate subiu tanto que está preferindo não revender o produto no estabelecimento onde trabalha. Ele disse que antes o tomate era vendido ao consumidor a R$ 2 o quilo. Com a alta dos últimos dias, de mais de 100%, o fruto terá que ser vendido a pelo menos R$ 3,75, para cobrir os custos do frete. “A este preço, é preferível nem ter o produto, pois quando o valor é muito alto, as pessoas não compram”, disse João Paulo. Ele relaciona outros hortifrutigranjeiros que tiveram elevações de preços nos últimos dias: o pimentão a R$ 4,15 o quilo (alta de 26% na ultima quinzena), o chuchu a R$ 2,80 o quilo (aumento de 29%) e a cebola roxa, que chegou a R$ 4,15 o quilo (elevação de 38%).

O gerente de supermercado lembra que até o fim do ano passado, boa parte das verduras e frutas comercializadas em Espinosa era oriunda do cultivo de cerca de 500 pequenos produtores no núcleo de irrigação do Estreito, instalado junto à barragem homônima, no Rio Verde Pequeno. Porém, com o agravamento da seca, há mais de quatro meses que os agricultores do Núcleo de Estreito pararam de produzir, forçando a “importação” dos alimentos da Ceasa da GrandeBH.

O aumento dos preços de hortifrutigranjeiros afeta o bolso da população também em Montes Claros – polo do Norte de Minas. Sócio de um sacolão e também de um atacado de frutas e verduras na cidade, Ricardo Nunes Costa, informa que, até agora, o aumento que mais assusta é o do tomate, que, em uma semana, subiu 50%, passando de R$ 2 para R$ 3 para o consumidor. “Mas a tendência é que daqui em diante, aconteça o aumento de preços de outros produtos, pois a área plantada diminuiu muito devido à falta de chuvas”, afirma Ricardo. Ele disse que a estiagem afetou também as reservas subterrâneas e os produtores que contam com plantio irrigados foram obrigados a interromper a produção por causa da diminuição do nível dos poços tubulares.

IMPORTADOS O comerciante conta que compra tomate de uma região produtora do próprio Norte de Minas, entre os municípios de Salinas e Taiobeiras. Mas, por causa da seca, a produção caiu muito. Por isso, em breve, será obrigado a “importar” o fruto do Espírito Santo, o que vai influenciar em novo aumento do preço, por conta do custo do frete.

A explosão dos preços influenciada pela falta de chuvas também é sentida no Mercado Municipal de Montes Claros. A verdureira Maria das Dores Pereira Lopes, de 62 – e que há oito trabalha no local –, se assusta com a alta dos preços dos últimos dias. “De uma hora para outra, subiu tudo: o tomate, o quiabo, o chuchu, a abóbora. Se Deus não tiver misericórdia e mandar chuva logo, vai ficar até difícil pra gente trabalhar”, diz Maria das Dores.

Outro comerciante do mercado, Gilvani Freitas Melo, de 38, lamenta que, além de provocar a elevação dos preços, por causa da lei da oferta e da procura, a seca também compromete a qualidade dos produtos. “Se falta água até para o povo beber em São Paulo, para produzir a coisa está pior ainda. Com a seca, as frutas estão ficando murchas e sem vida.”

A alta nos preços dos hortifrutigranjeiros pesa nos bolsos de consumidores como a professora Delvani de Souza, de 42, moradora de Montes Claros. “As coisa estão muito caras por causa da seca. E a tendência é que preços venham subir mais ainda pois a seca não vai acabar da noite para o dia. Peço a Deus para ter dó da gente. Sem água, não tem alimento”, diz Delvani

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