Publicado em 05/05/2023 09h30

Startup do agro lança plataforma colaborativa de compartilhamento de preços

Ferramenta inédita de busca por melhores preços constata que variação de valores podem chegar a 40%.
Por: Emerson Alves

Regra básica da negociação, a pesquisa de preços antes de uma compra - ou venda - pode representar uma economia importante no orçamento. Especialistas apontam que os consumidores que pesquisam os valores de produtos e serviços com frequência são menos suscetíveis a grandes variações, uma vez que conseguem distinguir quando um produto está, de fato, mais barato ou caro, já que a precificação no varejo é muito dinâmica. 

No agronegócio, as aquisições de insumos e maquinários chegam a alcançar cifras astronômicas. As informações divulgadas nem sempre são exatas, devido a questões de segurança do produtor rural, que precisam ser levadas em conta, e às próprias particularidades das negociações realizadas, que envolvem uma série de variáveis – como quantidades comercializadas, formas de pagamento ou tempo de relacionamento entre vendedor e comprador. Dentro desta realidade, as divulgações mais comuns são de estimativas de intenção de compra pelo mercado atacadista, com dados como preços mínimo e máximo, médias estaduais ou discriminados por região.

Esse ambiente tão específico começa a mudar, com o lançamento de uma plataforma colaborativa de compartilhamento de preços, focada no agro. No ar desde o mês de janeiro, a CampoValor oferece uma busca por valores de uma variedade imensa de produtos agrícolas, que vão desde sementes e defensivos a arame para cercas, além de uma variedade de maquinários, com opções detalhadas de pesquisa, como por produto ou região. Os gestores revelam que, com o uso da ferramenta, é possível constatar diferença de até 40% nos preços de alguns insumos, em datas e localizações próximas.

“Em uma cidade próxima, o valor pode ser bem menor do que você está pagando, por isso a nossa plataforma interessa e traz benefícios a todos os segmentos. Para o produtor, é vantajoso saber os valores que estão sendo praticados e comparar se tem feito boas compras. Além disso, ele passa a ter mais argumentos para negociar com o vendedor e, quem sabe, chegar a valores mais interessantes. Já o distribuidor pode ampliar a sua base de consumidores, porque quando alguém faz uma busca e ele aparece com um preço atrativo, como consequência será procurado espontaneamente”, explica Ian Linares, CEO e fundador da startup. Ele acrescenta que ter maior visibilidade ajuda na precificação, com base nos preços praticados pelo mercado. “O distribuidor pode ver se está cobrando muito caro ou barato demais e conseguir estabilizar em um valor próximo”. Para o fabricante, que hoje tem pouquíssimas opções de pesquisa de mercado, é uma excelente possibilidade de monitorar como estão sendo negociados os próprios produtos -  e os da concorrência ­- depois que saem da indústria.

Como funciona na prática

Por ser uma plataforma colaborativa, na CampoValor é o próprio usuário que fornece dados para a ferramenta, por meio do compartilhamento de notas fiscais no formato Danfe.  “Assim como  tem acesso às informações de outra compras ou vendas realizadas , o usuário também alimenta o banco de dados com as compras ou vendas do mesmo”, detalha Linares. Depois de armazenados, há a validação da idoneidade da nota, o cruzamento de informações e por fim os relatórios emitidos são de acordo com as solicitações realizadas, de forma segura e sem identificação de quem fez o envio.

O idealizador da startup garante que o modelo de negócio está baseado no sigilo de informações. “Só se divulga dados comerciais genéricos que interessam ao mercado, como o produto, volume, valor e, em alguns casos, a localização de quem vendeu. Asseguramos que qualquer informação pessoal do usuário não é compartilhada com ninguém, ele nunca vai aparecer. Não só não usamos, como é ilegal fazer isso”, pondera, referindo-se à Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD). Linares lembra, ainda, que são utilizados dados reais de negociações que ocorreram de fato e não o que alguém, simplesmente, declara ou divulga. “Além da nossa base de dados ser muito valiosa, tem também a confiança dos usuários, não vamos arriscar porque não queremos perdê-los. Por isso, todos compartilham mas sem saber quem compartilhou”.

O acesso à plataforma é pelo aplicativo ou no computador (campovalor.com.br) e de fácil utilização. O serviço é gratuito e, à medida que o usuário for acrescentando notas (enviadas por arquivo em PDF ou foto do documento), acumula pontos que vão garantir novas – e mais amplas - pesquisas de preços e produtos. O resultado da busca é uma listagem  com os top 10 mais relevantes da sua região e do seu perfil e que pode ser salva na própria plataforma. As negociações ocorrem fora do ambiente da CampoValor, diretamente entre as partes, sem qualquer conflito de interesses ou conluio da plataforma com vendedores e fabricantes. Além disto, a plataforma pretende ser passar por auditorias de terceiros para assegurar sua imparcialidade.

O projeto da startup começou a tomar forma em 2020, mas a ideia começou a ser gestada anos antes, a partir de experiências profissionais de Linares no Brasil e no exterior. Biólogo, com mestrado e doutorado em administração de gestão de projetos no agro, Linares conta que empreender em favor do agro é uma meta de longo tempo. Criada com recursos próprios, a CampoValor oferece acessos gratuitos, como forma de impulsionar o número de usuários e de aumentar a base de dados. “Quanto mais notas enviar, mais pontos o usuário vai acumular e, consequentemente, terá acesso a um maior de número de consultas. Mais adiante serão mais benefícios, temos valor a agregar principalmente para o produtor e para o distribuidor”, afirma o CEO.

A plataforma colaborativa de compartilhamento de preços começa a ser utilizada, também, por associações, sindicatos e cooperativas, que veem no modelo uma importante forma de demonstrar valor a seus associados. “Com o uso da plataforma temos condições de mostrar às entidades e aos produtores o quanto pagaram a mais ou o quanto conseguiram economizar comprando a opção mais barata”, acrescenta Linares. Outros ganhos, especialmente para o produtor, estão no caso do mesmo solicitar financiamentos, pois todas as notas enviadas ficam salvas no celular, para que ele use quando precisar. “Somos uma empresa independente e sem vínculos com qualquer fabricante ou distribuidores, não privilegiamos ninguém nesse sentido. Prezamos pela transparência, queremos levá-la ao mercado do agro e alavancar uma mudança de cultura, aumentando a eficiência dos processos para todos”.

Publicidade