Publicado em 17/04/2023 08h35

Produção sustentável de carne bovina: desafios e oportunidades para o comércio entre Brasil e China

Por Eduardo de F. Caldas, Coordenador para o Brasil da Tropical Forest Alliance (TFA)
Por: Eduardo de F. Caldas, Coordenador para o Brasil da Tropical Forest Alliance (TFA)

Para continuar relevante e competitivo mundialmente, o setor produtor de carne bovina brasileiro precisa estar alinhado não só com as exigências de seus consumidores finais, que estão cada vez mais preocupados em ingerir proteínas animais que venham de fontes sustentáveis, mas também com a agenda global de redução de CO2 almejada por diversos países.

Essa é uma lição que os frigoríficos parecem já ter entendido ao estabelecerem metas para diminuir e até zerar emissões de carbono até 2040, a exemplo daqueles que exportam produtos com certificação carbono neutro a partir de suas operações no Brasil. 

Contudo, empresas e produtores de pequeno e médio porte ainda engatinham para se adequarem ao novo cenário e isso é preocupante, pois eles são essenciais no longo prazo para que o Brasil sustente seu protagonismo e, inclusive, incremente as exportações que são fundamentais para a balança comercial do País. 

Para se ter ideia, segundo dados da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec), as exportações de carne bovina brasileira subiram 40,8% entre janeiro e dezembro de 2022 em relação ao mesmo período de 2021 e devem ultrapassar a marca de três milhões de toneladas entre 2025 e 2030. Entre os principais destinos da carne bovina nacional, a China se mantém em primeiro lugar, com 1,2 milhão de toneladas, totalizando US$ 7,9 bilhões em faturamento em 2022. 

Por isso, é essencial a existência de alianças entre entidades para um comércio sustentável de carne. Em primeiro lugar, é importante lembrar que a produção de carne bovina no Brasil tem sido cada vez mais influenciada pelo mercado internacional. A série de etapas, desde a criação dos animais até o abate e a distribuição dos produtos, está cada vez mais sob o escrutínio de agentes externos ao Brasil. Cada uma dessas fases pode ter impactos significativos no meio-ambiente, positivos, inclusive Portanto, é fundamental que os agentes da cadeia possam ter uma comunicação fluida. Atualmente, a China, que é um exemplo de mercado estratégico, está estabelecendo diálogos com o Brasil neste sentido. 

Esse é o caso, por exemplo, da The Beef Alliance, uma iniciativa apoiada pela Tropical Forest Alliance (TFA) e parceiros, que visa promover o diálogo e construir uma cadeia de produção mais responsável e saudável entre o Brasil e a China, os maiores exportadores e importadores de carne bovina do mundo, respectivamente. 

Financiado pelo Programa Partnerships for Forests, a The Beef Alliance é o resultado de uma parceria com o Imaflora e outras instituições para contribuir com as empresas em ações progressistas do setor, buscando eliminar a degradação de biomas ligada ao comércio de carne , garantindo assim uma relação comercial segura e sustentável entre os dois países. Um dos objetivos da iniciativa é catalisar, conjuntamente, oportunidades para o crescimento sustentável do suprimento de carne, bem como desenvolver soluções para garantir uma transição suave durante esse processo.

Segundo dados do Governo Federal, o mercado chinês foi o destino de mais da metade das vendas, tanto em preços (60,9%) como em volumes (53,3%), em 2022. Depois da China, os Estados Unidos foram os maiores compradores da carne bovina brasileira, proporcionando uma receita de US$ 904,1 milhões, com 173.141 toneladas adquiridas. Além disso, também no ano passado, outros 110 países aumentaram suas aquisições de carne bovina brasileira. Novamente, vale lembrar que muitos desses governos já têm estipuladas ou desenham estratégias para reduzir as emissões de carbono. A China, por exemplo, tem planos de zerar as emissões de carbono até 2060.

É imprescindível ressaltar que empresas nacionais já se beneficiam com a produção sustentável no Brasil, esse é o caso daquelas inscritas no Programa Carne Sustentável do Pantanal, do governo sul-mato-grossense. A iniciativa diminui o imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) em 50% para os criadores que optam pelo sistema de produção sustentável e em 67% para os pecuaristas que aderem ao modelo de produção orgânica no Pantanal.

Está cada dia mais fácil e possível produzir mais e sem desmatamento ou degradação dos biomas brasileiros. Há também uma grande demanda por carne bovina sustentável no mercado mundial, produzida com segurança e sustentabilidade.

Nos últimos anos, ouvimos muito sobre sustentabilidade nas propriedades rurais. O objetivo dos players do setor deve tornar esse processo mais simples, aproveitando os critérios ambientais que já temos e combinando-os com os padrões de monitoramento a serem cada vez mais harmonizados com a China e com outros países. Dessa maneira, estabeleceremos um ponto de partida, uma vez que isso agrega valor aos vários elos da cadeia produtiva, como pecuaristas e compradores. Isso influencia outros setores da economia na mesma direção, então o foco está em mobilizar primeiro o setor privado.

Por fim, a crise climática requer medidas firmes e urgentes. Estudos mostram como o desmatamento e a mudança nos biomas prejudicam a produtividade no campo e afetam o suprimento e o custo dos alimentos. Portanto, é necessário desenvolver e aplicar soluções sustentáveis para manter as florestas e outros ecossistemas naturais protegidos para mitigar a crise climática. 

Agora é a hora de mudar a curva de degradação dos biomas brasileiros e fortalecer a sustentabilidade no agronegócio. Não podemos fazer isso sem envolver o setor produtivo, priorizando ações que garantam um futuro equilibrado para as próximas gerações.

 

Publicidade