O presidente da Rússia, Vladimir Putin, ameaçou novamente romper o acordo internacional que criou um corredor de exportação de grãos ucranianos no Mar Negro, alegando que os países mais pobres não estavam recebendo grãos suficientes. Putin já fez a mesma falsa afirmação anteriormente, levantando dúvidas sobre a sobrevivência no longo prazo do pacto mediado pelas Nações Unidas e pela Turquia.
Corredor de exportação pelo Mar Negro viabilizou transporte de grãos da Ucrânia em meio à guerra com a Rússia
Cerca de 28% das mais de 3 milhões de toneladas de grãos exportadas sob o acordo foram para países de renda mais baixa, como Egito, Índia e Irã, entre outros. A maior oferta também ajudou a reduzir os preços, aliviando a pressão sobre algumas das populações mais vulneráveis do mundo.
"Esperamos realmente que uma parte significativa disso - até agora isso não foi alcançado - ainda passe pelo programa de alimentos da ONU para os países mais pobres", disse Putin, na sexta-feira (16/9), durante encontro com o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan. Esta foi a primeira reunião entre os dois desde que o presidente russo ameaçou abandonar o acordo.
Caso a Rússia decida mesmo romper o acordo, é provável que cause outra disparada nos preços globais de alimentos, num momento em que 50 milhões de pessoas estão sofrendo com fome severa, de acordo com a ONU. Putin já disse várias vezes que as sanções ocidentais contra a Rússia estão prejudicando os países mais pobres do mundo. Durante evento no Usbequistão nesta sexta-feira, Putin reiterou pedidos para que a Europa acabe com o que ele chamou de restrições à importação de produtos agrícolas russos.
"Anteontem, eu informei (o secretário-geral da ONU, António) Guterres que 300 mil toneladas de fertilizantes russos estão se acumulando nos portos marítimos da União Europeia. Estamos prontos para transferi-los sem custos para países em desenvolvimento", disse Putin.
Outras autoridades russas também já acusaram o Ocidente de não implementar outro aspecto do acordo de exportação de grãos ucranianos, que prevê a facilitação de exportação de alimentos e fertilizantes russos. A União Europeia não impôs sanções a alimentos e produtos agrícolas russos, e divulgou um esclarecimento em julho para garantir que as sanções não obstruíssem a entrega desses produtos a outros países.
Mesmo assim, Guterres está trabalhando com autoridades dos EUA e da Europa para resolver problemas logísticos, de financiamento e seguro que poderiam atrapalhar as exportações russas. Isso faz parte de uma estratégia mais ampla para evitar que a Rússia abandone o acordo.