Pouco trigo da safra nova está sendo negociado até agora, por iniciativa do produtor, que está segurando seu cereal esperando que os preços voltem a subir. A estratégia, no entanto, deve se transformar numa bomba relógio e provocar uma queda generalizada – tanto nas cotações como nos compradores, afirma o analista sênior da Consultoria TF Agroeconômica, Luiz Pacheco.
O Brasil deverá produzir entre 9,2 e 10 milhões de toneladas de trigo na sagra 2021/22. “Esta retração de vendas está sendo promovida pelo próprio agricultor por várias razões: Primeiro, porque os custos de produção subiram. Depois, porque o agricultor viu preços muito bons na safra passada e quer repeti-los na próxima, esquecendo-se de que são safras de volumes bem diferentes. A safra nova terá, no mínimo, dois milhões de toneladas a mais do que a anterior, e este aumento de oferta deverá pesar sobre os preços”, alerta Pacheco.
Além disso, aponta ele, o agricultor está capitalizado pelos excelentes rendimentos de soja, milho e do próprio trigo das últimas duas/três safras e quer esperar. “Como não tem certeza da qualidade e da quantidade que irá colher e só sabe vender no físico, espera colher para vender, o que é um erro muito grande. Não sabe que poderia ter fixado no mercado futuro sem comprometer um quilo sequer de produto e que, se não produzisse, não precisaria entregar nada, muito ao contrário, poderia ganhar neste mercado o que eventualmente perder no físico. O desconhecimento do domínio e do uso desta técnica vai fazer um estrago enorme na próxima safra”, afirma.
De acordo com o analista, haverá acúmulo de ofertas no período entre outubro e dezembro: “No entanto, o mercado brasileiro inteiro (nos estados do Sul seria bem menos) de moagem só precisa de 1,06 MT/mês, portanto, irão sobrar 8 milhões de toneladas em setembro, 7 MT em outubro, 6 MT em novembro, 5 MT em dezembro. Com isto, nem os moinhos, nem as Tradings precisarão elevar os preços para se abastecer”
“Aos níveis em que se encontram, os preços oferecidos hoje aos triticultores brasileiros são os mais altos do mundo. Enquanto isso, US$ 335/tonelada FOB (vendedor, comprador paga menos) são oferecidos nos portos oceânicos da Argentina. Por que razão as Tradings pagariam US$ 10,9/t a mais no Brasil, se poderiam comprar mais barato bem ao lado?”, questiona.
“Para serem competitivos, tanto no mercado nacional de farinhas como no mercado internacional, os preços seguirão em queda proporcional a cada um dos meses citados. Em nossas projeções os preços poderão recuar para R$ 1600,00/tonelada (R$ 91,00/saca) no Paraná e R$ 1.500/tonelada (R$ 89,89/saca)no Rio Grande do Sul no mês de dezembro, abaixo, portanto dos respectivos custos de produção. O agricultor relutará, mas, terá que vender; a sua vingança, porém, será maligna: e) vai reduzir drasticamente a produção no próximo ano. Normal. Mas, poderia não ser assim”, lamenta.
Segundo Pacheco, com um prejuízo calculado em aproximadamente R$ 23,54/saca no RS e R$ 4,92/saca no Paraná, o triticultor irá plantar (muito) menos, atrasando o projeto de expansão da triticultura elaborado pela EMBRAPA/MAPA/ABITRIGO para o setor, com graves consequências para os custos dos moinhos na próxima temporada, que terão que utilizar matéria-prima importada em volume maior do que o normal.
“Tudo isto poderia ter sido evitado e a próxima safra poderia ser de 12 milhões de toneladas se os responsáveis pela comercialização dos agricultores tivessem acompanhado adequadamente os mercados futuros de trigo, especialmente em Chicago (RS) e Kansas (PR/SP/MS/GO/MG) que, nos meses de março e maio passados, ofereceram preços possíveis de se pagar aos agricultores ao redor de R$ 2.326,00/tonelada ou R$ 134,54/saca, valor que cobriria todos os custos descritos e o agricultor, satisfeito plantaria mais”, explica.
“O mercado fez a parte dele, oferecendo a oportunidade de preços lucrativos para a próxima safra, mas que não foram devidamente aproveitados pelos responsáveis da comercialização, a maioria dos quais nem soube disto. Uma pena. O estrago será enorme, para todos - agricultores, moinhos, Brasil. Mas, se o problema é apenas falta de conhecimento e segurança no uso desta técnica, que se trate de aprender! Todos os anos o mercado futuro apresenta excelentes soluções de lucratividade para o trigo basileiro, então, nunca é tarde para começar. Poderemos fazer um curso em Passo Fundo e outro em Cascavel exclusivamente para gerentes comerciais de cooperativas, com a teoria e vários exercícios simulativos para transmitir segurança na volta para casa”, conclui.