Pesquisa da Embrapa e da Universidade Federal de Viçosa (UFV) demonstrou que a farinha integral feita com o sorgo BRS 305, desenvolvido pela Embrapa, reduziu o acúmulo de gordura no fígado em ratos, uma condição médica conhecida como esteatose hepática. Os cientistas ainda registraram vários outros efeitos benéficos promovidos pelo alimento, como o auxílio no controle do excesso de gordura no organismo (adiposidade) e a redução de triglicérides e de ácido úrico. O sorgo também promoveu melhora na sensibilidade à insulina e na tolerância à glicose. Os animais analisados receberam dieta rica em gordura e em frutose, conhecida pela sigla HFHF.
O resultado desta pesquisa integra a tese de doutorado de Oscar David Medina Martinez (à direita na foto ao lado) e foi publicado no periódico internacional Journal of Cereal Science, no artigo Dry heated whole sorghum flour (BRS 305) with high tannin and resistant starch improves glucose metabolism, modulates adiposity, and reduces liver steatosis and lipogenesis in Wistar rats fed with a high-fat high-fructose diet - ScienceDirect (Farinha de sorgo BRS 305 com alto tanino e amido resistente, aquecida a seco, melhora o metabolismo da glicose, modula adiposidade e reduz a esteatose hepática e a lipogênese em ratos Wistar alimentados com uma dieta rica em gordura e frutose).
“Observamos que as alterações metabólicas ocasionadas pela dieta rica em gordura saturada e frutose foram revertidas pelo tratamento com a farinha do sorgo BRS 305, substituindo-se 50% das recomendações diárias de fibra alimentar, por dez semanas”, relata a professora Hercia Stampini Duarte Martino, do Departamento de Nutrição e Saúde da UFV. Além desses benefícios, registrou-se nos animais tratados menor acúmulo e maior quebra de gordura corporal, e ainda menor inflamação e estresse oxidativo no fígado e no plasma sanguíneo. O objetivo desse estudo foi verificar o efeito da farinha de sorgo BRS 305 no tratamento das alterações metabólicas ocasionadas por uma dieta rica em gordura e frutose em ratos Wistar.
Segundo Martino, o estudo mostra que o sorgo pode ser um alimento em potencial para contribuir na reversão dos prejuízos ao organismo ocasionados pela dieta rica em gordura saturada e frutose, característica da dieta ocidental observada nos dias atuais.
A pesquisadora Valéria Queiroz, da Embrapa Milho e Sorgo, ressalta que esses resultados estão associados à alta concentração de taninos e amido resistente, ao perfil de compostos fenólicos e à elevada capacidade antioxidante presentes nesse híbrido de sorgo.
Ela conta que a Embrapa, há mais de uma década, desenvolve pesquisas visando agregar valor nutricional e funcional aos grãos de sorgo para uso na alimentação humana. O híbrido BRS 305 foi selecionado, entre centenas de genótipos avaliados, como material superior nessas características de interesse, e seu potencial funcional vem sendo comprovado por outras pesquisas como essa (veja quadro abaixo).
“A melhora no metabolismo de glicose, associada à redução da inflamação, do estresse oxidativo e do excesso de gordura corporal, promovida pelo consumo do sorgo, é vital para a redução do risco de desenvolvimento de doenças crônicas, como a diabetes mellitus, o câncer, doenças cardiovasculares, entre outras. Portanto, o sorgo, como um alimento de baixo custo e excelente composição nutricional, pode contribuir diretamente para a saúde e a qualidade de vida da população”, complementa Hércia Martino.
O BRS 305 (foto à esquerda) é um híbrido de sorgo granífero, desenvolvido pela Embrapa ainda na década de 1990, para uso na alimentação de bovinos. A pesquisadora Valéria Queiroz explica que, em 2010, a Embrapa Milho e Sorgo, em parceria com diversas universidades, iniciou uma linha de pesquisa com o objetivo de valorar e difundir o uso do sorgo na alimentação humana no Brasil. “Centenas de genótipos de sorgo, incluindo linhagens, variedades e híbridos foram avaliadas quanto à composição em substâncias bioativas. Entre esses, o híbrido BRS 305 se destacou com altos teores de compostos fenólicos totais, taninos, amido resistente e elevada capacidade antioxidante; portanto, com alto potencial de uso na produção de alimentos com alegação de propriedades funcionais, ou seja, que podem trazer benefícios para a saúde”, disse Queiroz.
Entre os resultados obtidos, um estudo em parceria com o Departamento de Nutrição e Saúde da UFV mostrou que o genótipo BRS 305 continha concentração oito vezes maior de fenólicos totais e 21 vezes maior de taninos em relação ao sorgo BRS 309, e níveis sete vezes maiores de fenólicos totais e cinco vezes maiores de taninos em relação ao sorgo BRS 310 (veja artigo). Além disso, de acordo com Cícero Beserra de Menezes, melhorista de sorgo da Embrapa, esse híbrido também apresentou características agronômicas interessantes, pois, entre 12 materiais avaliados sob deficiência hídrica, o sorgo BRS 305 foi um dos dois mais produtivos. Os dados da pesquisa foram publicados neste artigo.