Caminhoneiros que iniciaram protesto contra o constante aumento do diesel nesta segunda-feira em Dourados (MS) vão bloquear a passagem apenas de veículos carregados com carga de grãos. Um acampamento foi montado na região conhecida como “Trevo da Bandeira”, entroncamento entre a BR-163 e BR-463, rodovias que dão acesso a todas as regiões do país.
Jorge Souza, representante do Grupo GS, é um dos líderes do manifesto. De acordo com ele, o protesto é pacífico, por tempo indeterminado e somente os caminhões com carga a granel serão parados nas rodovias. “Não queremos prejudicar as pessoas que utilizam as rodovias, queremos solidariedade e apoio dos caminhoneiros para que unamos força para lutar contra as burocracias que emperram o setor”, explica.
Uma carta de protesto foi criada em Dourados pelos caminhoneiros e empresários do setor de transportes. A redução do aumento do diesel é considerada principal bandeira de luta, no entanto, eles também pedem que seja criada uma tabela mínima do valor do frete, baseada no preço do diesel. Hoje, cada empresa ou caminhoneiro autônomo dá o seu preço e transporta a carga aquele que é submetido a aceitar o menor frete.
Outras reivindicações da categoria são a redução da alíquota do ICMS do diesel no Estado, de 17% para 12%. Esse assunto seria uma das prioridades do governador Reinaldo Azambuja durante campanha, mas até agora, depois de eleito, ele não anunciou se será possível conceder essa redução. A diminuição do preço do pedágio nas rodovias brasileiras também é outra reivindicação, bem como a sanção da lei 4246/12, que altera regras da jornada de trabalho de motoristas profissionais. Basicamente, a proposta reduz períodos de descanso e aumenta as prorrogações das horas trabalhadas atualmente. A atual lei, segundo a categoria, estaria onerando as empresas e prejudicando os caminhoneiros que são obrigados a levar mais tempo para entregar a carga.
Dificuldade
Em 212 o governo federal reduziu os juros de financiamento para a compra de caminhões por transportadores autônomos ou para a renovação da frota das empresas. Isso fez com que muitas pessoas que nunca atuaram no setor de transporte de cargas passagem a migrar para o setor, provocando um aumento consideravelmente de empresas e de caminhoneiros autônomos. Com tanta concorrência no mercado, a lei do frete pelo baixo preço tornou-se acirrado. José Xavier é dono da transportadora Rodomaster em Dourados. Ele foi uma das pessoas atraídas pelos juros baixos, adquiriu mais veículos e renovou a frota, acreditando que o setor seria promissor. No entanto, tudo se inverteu. "Hoje, podemos dizer que há mais caminhões do que carga no mercado e as empresas passaram a se endividar”, explica.
Cassio Basália, dono da transportadora Rosa dos Ventos, também renovou a frota e adquiriu mais caminhões. Segundo ele, há 12 anos o diesel representava 40% do valor do frete e hoje chegou a 60%. “Com o aumento de insumos como pneu, mão de obra para conserto dos veículos e de demais itens, está tornando-se impossível colocar um veículo para rodar”, disse ele, referindo-se ao valor do baixo frete que os donos das cargas querem impor para as transportadoras. Por conta desses problemas, Cássio teve que demitir 20 dos 40 caminhoneiros de sua empresa e 50% de seus caminhões estão parados. Ele ainda não tem para quem vender os veículos, pois o mercado está cheio de caminhões para venda e não há compradores.
André Pagani é presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Transporte Rodoviário em Dourados. Segundo ele, somente nos últimos dois meses cerca de 300 caminhoneiros foram demitidos na cidade e a tendência é aumentar. “Estamos preocupados porque a situação econômica atinge em cheio às transportadoras e os caminhoneiros são atingidos também”, reclamou.
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