A variabilidade existente no solo é resultado da interação de diversos fatores, tais como relevo, material de origem e da relação/ação do homem nestas áreas, principalmente através da prática agrícola. A utilização de fertilizantes pode ao longo do tempo promover uma maior heterogeneidade química do solo, entretanto, usar as lavouras para a agricultura, mesmo que buscando promover esse equilíbrio maior, acaba também por aumentar essa variabilidade. Lembrando que o objetivo de grande parte dos produtores é extrair o melhor resultado possível de sua lavoura de forma sustentável, destaco que as práticas da agricultura de precisão buscam suportar os mesmos em direção a este objetivo. Ajudando a identificar quais são as regiões com potencial de incremento de produtividade, bem como quais são as áreas passíveis de retorno econômico inferior, devido ao baixo potencial produtivo e algumas vezes impossibilidade de superação produtiva frente à baixa fertilidade do solo.
A aplicação de insumos durante o manejo dos solos pode ser feita através de taxa variável, sempre que essa prática for economicamente viável. O mapeamento das propriedades químicas do solo e a identificação da variabilidade espacial de componentes dele são essenciais para que este tipo de aplicação possa ser realizada. Esta nova fase de aplicação de fertilizante sugeriu novas formas de trabalho, e uma delas foi a aplicação em taxa variável que tem o potencial de otimizar o uso de fertilizantes e minimizar os impactos negativos no meio ambiente.
Com a introdução das novas tecnologias de agricultura de precisão, criou-se também a possibilidade de se aplicar fertilizantes de forma contínua em taxas variáveis, introduzindo quantidades conforme a necessidade de cada ponto no campo. Essa otimização tem apresentado resultados significativos na economia e sustentabilidade do plantio. A mudança trazida por esses novos métodos de aplicação faz com que as amostragens de solo passem de uma média de toda a área, para análises pontuais, evidenciando a variabilidade espacial de todo o campo, segundo pesquisa do KUHAR, J.E, 1997.
Diferentemente da aplicação uniforme de fertilizantes e corretivos, que pode resultar em áreas com aplicações abaixo ou acima da dose necessária, a aplicação com taxas variáveis possibilita a adequada produtividade e eficiência do uso de nutrientes com simultânea redução do potencial para poluição ambiental. Isso é apontado conforme as análises do estudo: de David J. Mulla e outros pesquisadores como Bongiovanni & Lowenberg-Deboer e Wollennhaupt.
Em uma extensa revisão de literatura, confirmaram que as técnicas de agricultura de precisão podem contribuir para a manutenção da sustentabilidade da agricultura, através da aplicação de fertilizantes apenas nos locais onde e quando há necessidade. Os benefícios vêm desta aplicação em pontos exatos e reduzem as perdas por empregos excessivos de fertilizantes. A principal deficiência detectada pelos autores foi o escasso número de trabalhos que realmente mediram o impacto ambiental ou utilizaram sensores, sendo que a maioria estimou benefícios ambientais indiretamente, ou seja, contabilizando a redução de insumos.
O plantio nem sempre é realizado no melhor cenário de área, existem interferências de relevo, vegetação e solos que muitas vezes, para um melhor manejo, é realizada esta operação respeitando essas diretrizes. Lembro que muitas vezes a semeadora está configurada levando em conta um ponto da máquina. Por isso, em um momento em que a operação está acontecendo em movimento de curva, as linhas externas e internas viajam mais rápido ou mais lento do centro da plantadora. As sementes plantadas nas linhas internas das curvas (>R) são mais próximas, e aquelas nas linhas externas estão em um distanciamento maior.
Com isso, outro recurso importante criado a partir desta análise foi a compensação em curva, que é justamente respeitar o arranjo espacial de cada semente e a quantidade de fertilizantes em gramas por metro, indiferente de como a máquina está depositando a mesma. Isso se aplica tanto na semente quanto no fertilizante. Destaco que o desligamento linha a linha é desempenhado na operação de semeadura quando o sistema detecta uma área que já tenha sido realizada a operação, evitando sobreposição de semente e fertilizante nas linhas de plantio, principalmente áreas de bordaduras e arremates, proporcionando significativa economia e preservação ao meio ambiente.
O desligamento linha a linha é mais utilizado na deposição da semente, poucos relatos estão ligados ao seu uso no desligamento na aplicação do fertilizante em linhas individuais de semeadura. O agregado de tecnologia será combinado com vários fatores para melhorar os processos através do controle da plantabilidade, por meio de sistemas eletroeletrônicos de dosagens de fertilizantes e sementes, com o objetivo de evitar desperdícios, nutrir as plantas para que expressem seu máximo potencial produtivo. Gerando, assim, efetivos controles na deposição espacial nas lavouras, considerando as variações topográficas, as variabilidades dos solos, com objetivo de reduzir os custos operacionais, promovendo maior economia de fertilizantes, facilidades operacionais e segurança nas aplicações aos operadores. Realizando assim as operações de forma independente e autônoma, com precisão e uniformidade e com aumento de produtividade das culturas.
O agricultor poderá, com o sistema de dosagem autônoma, analisar a variabilidade de áreas, trazendo diagnósticos de informações através de mapas e plataformas digitais, para a tomada de decisão escolhendo as quantidades de fertilizantes específicos para cada cultura, e poder aplicar os fertilizantes de forma homogênea ou heterogênea.
A operação na lavoura será automática realizando a variação de dosagem de forma instantânea, conforme o mapeamento da quantidade de fertilizante a ser aplicado em cada espaço do talhão. Todo esse processo será realizado através de controladores, acionadores elétricos e sensores atuando em tempo real com aplicação de alta precisão de dosagens variáveis em diferentes pontos. Para confirmar, diversos estudos relacionados à viabilidade da aplicação de insumos em taxa variável versus taxa fixa estão disponíveis no que se refere à adubação a lanço, entretanto, quando se fala em adubação formulada em linhas de semeadura (no sulco), as informações são limitadas, apesar de 45% de todo o fertilizante vendido no Brasil ser comercializado em fórmulas NPK, segundo a Associação Nacional para Difusão de Adubos, ANDA (2014) para aplicação nos sulcos de semeadura.
Neste contexto, a aplicação do fertilizante formulado a taxas variáveis nas linhas individuais de semeadura, realizando a deposição, medição instantânea da vazão do fertilizante, desligamento linha a linha, compensação em curvas de plantio, entre outros, terão um grande impacto para a produção agrícola sustentável do Brasil e do mundo.
*Presidente da FertiSystem Group e presidente diretor executivo do Parque Tecnológico do Agro - Tecnoagro