Ao longo dos anos, hábitos simples como pegar um táxi, alugar um imóvel ou simplesmente pedir uma comida foram se transformando com o surgimento de novas plataformas e modelos de negócio. Inspirado nessa tendência, que uma startup quer revolucionar a forma como os produtores compram seus produtos agrícolas, e o Rio Grande do Sul, tem sido uma das principais regiões a aderir ao novo sistema. Inspirado no formato de venda colaborativa., o formato de negócio começou a ser criado há três anos pela startup Produce, de Chapecó (SC), e hoje já conta com mais de 3.500 consultores cadastrados em praticamente do território brasileiro.
O agricultor Donizete da Luz é consultor da Produce em Ernestina (RS), desde o ano passado. Dono de uma propriedade voltada para a produção leiteira onde também produz milho, avezem e silagem, ele conta que se interessou pelo trabalho e renda extra devido ao compromisso da startup com qualidade e entrega dos insumos. “O produto é muito bom, o preço bem em conta e a entrega rápida, então percebi que o negócio era bom para faturar uma renda extra”, conta Donizete. O produtor, de 28 anos, ressalta que a facilidade proporcionada pela tecnologia também faz a diferença. “Hoje em dia a gente tá sempre com o telefone na mão e o aplicativo oferecido pela Produce facilita muito. Como é uma cidade pequena, meus clientes são basicamente os vizinhos e amigos e pessoas que tenho contato nas redes sociais”.
A proposta visa encurtar os intermediários da cadeia de vendas, proporcionando condições e preços diferenciados para o produtor. Os consultores - chamados de Producers -, visitam as propriedades onde oferecem todo o apoio técnico, após receberem treinamento e capacitação necessária. Além disso, a entrega dos insumos é realizada diretamente no endereço do agricultor, sem outro intermediador.
A Produce compra os produtos de fornecedores ou fecha parcerias. A empresa iniciou o negócio com a comercialização de híbridos de milho na região Sul, mas agora tem um portfólio com mais de 100 produtos, que inclui sementes de trigo, feijão, aveia e pastagens e fertilizantes e atua em todo o país, com centros de distribuição espalhados pelas regiões produtoras.
Para o diretor da Produce, Guilherme Trotta, a essência do negócio está no relacionamento com o produtor rural e os profissionais do setor, que encurtam os intermediários da cadeia de vendas. “O agro funciona muito na base do relacionamento. O produtor compra com base na confiança e nossa plataforma de vendas foca no conceito de empreendedorismo social”, diz o administrador.
A empresa, uma S.A. de capital fechado que já teve duas rodadas de investimento, não revela os números de faturamento, mas, segundo Trotta, o negócio “vai de vento em popa”, com aumento de 639% nas vendas no ano passado, crescimento de 411% no número de consultores e quase o triplo de produtores atendidos. A meta dos diretores é ampliar para 15 mil consultores em todo país ainda este ano. Os Producers recebem uma premiação por negócio realizado e não precisam necessariamente ser do agro. Todos que se cadastram passam por capacitação e têm assistência dos agrônomos e zootecnistas da empresa para iniciar o trabalho.
“A Produce é a porta de entrada para quem quer trabalhar no agro, mas não sabe como começar, não é agrônomo ou não conhece o mercado. A empresa tem hoje a maior força de vendas do agronegócio brasileiro. Há até pessoal da área de saúde e policial rural aposentado trabalhando com a gente”, diz Trotta, que atuou durante muitos anos nos quadros da Natura.
Segundo ele, o consultor não paga nem compra nada para iniciar as vendas. Ele faz o contato com o cliente, apresenta os produtos, registra o pedido por aplicativo e a empresa se encarrega da avaliação de crédito, entrega e cobrança. A taxa de inadimplência não chega a 2%. A premiação do Producer depende do insumo vendido. No caso dos híbridos de milho, a comissão é de 15% ante uma média do mercado de 2%, segundo Trotta, mas o consultor não tem carro da empresa, plano médico ou registro.
A renda de cada consultor vai depender do seu volume de vendas. Muitas vendas, especialmente de sementes, são feitas para pagamento com o resultado da safra. Nesse caso, o consultor tem 50% da comissão antecipada e recebe o restante quando o produtor paga. Segundo o gestor, a renda média de um producer é de R$ 3.000 a R$ 5.000, mas há quem ganhe até R$ 80 mil, no caso da comercialização de grande volume de sementes, que são mais comuns em Mato Grosso, de onde vêm 60% dos pedidos da startup.