O Brasil deve produzir na safra 2021/22, que está sendo colhida, 2,6 milhões de toneladas de algodão, disse o presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa), Júlio Cézar Busato, em evento do setor realizado na Bahia e transmitido pela internet.
"Vínhamos muito bem e, infelizmente, faltou a última chuva para o nosso algodão. Estávamos programando 2,8 milhões de toneladas, com possibilidade de chegar a 2,9 milhões de toneladas, mas a chuva não veio, e a nossa estimativa hoje é de 2,6 milhões de toneladas", disse.
Para a safra 2022/23, que será plantada no fim do ano, a perspectiva é de redução de área, mas Busato não estimou de quanto. "Os insumos subiram assustadoramente. Estive conversando com produtores e associações estaduais, e o Brasil talvez diminua a sua área, mas muito pouco. Estamos mais preocupados em produzir algodão para manter o mercado que conquistamos e não deixar nossos clientes sem o algodão brasileiro."
Segundo o representante, o aumento de custo no algodão passa de 50%, puxado principalmente pela elevação dos fertilizantes. "O cloreto de potássio aumentou 400%", disse Busato. Contudo, o milho, que compete na segunda safra por área com o algodão, também teve elevação de custos, lembrou Busato.
Segundo Busato, a rentabilidade tende a ser menor, mas é preciso "olhar para o futuro". "Queremos num futuro próximo ser os maiores exportadores mundiais", afirmou. O presidente da Abrapa lembrou que, no início da pandemia, o Brasil havia colhido sua maior safra, que ficou meses à espera de compradores, e na hora da definição do plantio seguinte o algodão estava cotado a 40 cents por libra-peso.
"Se fosse matemática, o Brasil ia plantar zero. Mas reduzimos apenas 15% a área e produzimos 2,3 milhões de toneladas", lembrou. "Temos nossos investimentos, treinamento de pessoas e um mercado que conquistamos e no qual queremos permanecer. Para a próxima safra vamos trabalhar no mesmo sentido."
Com relação à qualidade, Busato afirmou que apenas 6,9% da área de algodão foi colhida até o momento e é "muito cedo" para apresentar conclusões. "Desses números que temos até agora, o algodão se manteve com boa qualidade em comprimento e resistência de fibra e diminuiu um pouquinho o micronaire."
Questionado pela plateia sobre porcentual elevado de pegajosidade no algodão brasileiro, Busato disse que se trata de caso isolado. "É algum caso que aconteceu e que às vezes produtor nem sabe que aconteceu, porque foi em um canto de um talhão de lavoura em que não houve bom controle dos insetos sugadores", disse.
"Mas hoje temos como saber quem é esse produtor. Tenho falado nas missões que compradores passem essa informação para a Abrapa que nós vamos entrar em contato com o produtor para saber realmente o que aconteceu."
Busato assinalou ainda que a Abrapa está testando a certificação do algodão brasileiro pelo Ministério da Agricultura. "Vamos ter a chancela do ministério de que aquela amostra que saiu de um fardo é uma amostra que foi analisada em laboratório e que o resultado é todo controlado por ele (ministério), como fazem os colegas norte-americanos", disse.
Segundo o representante, a cadeia também busca uniformizar tecnologia que ajuda a identificar o local exato da fazenda em que o fardo foi produzido. "Isso vai dar uma aceleração nos processos de carregamento na fazenda e na exportação também."