Produzir alimento concentrado no inverno para o trato animal também já é opção em Venâncio Aires. Embora seja uma prática pouco comum na região, a ideia ganhou mais um estímulo durante o 28º encontro do Grupo do Leite de Venâncio Aires, realizado na quarta-feira, 20. Foi o primeiro encontro desde fevereiro de 2020, quando começou a pandemia de Covid-19.
De acordo com o engenheiro agrícola e extensionista da Emater, Diego Barden dos Santos, nos dois últimos anos houve dificuldade de garantir alimento concentrado nos verões, devido à estiagem que prejudicou as lavouras de milho, o principal item utilizado por agricultores locais para fazer silagem. “Em 2021, tivemos 750 hectares de trigo, mas quase tudo foi para venda do grão, pouquíssimo para silagem. E essa cultura de inverno, junto com a aveia, também é uma possibilidade de ter um alimento com potencial energético para produção leiteira”, diz.
Santos destaca que a prática ainda não é comum em Venâncio, mas que se houver manejo correto com plantio, corte e trato cultural, se torna uma opção importante para garantir alimento na maior parte do ano.
Ao encontro da fala do extensionista da Emater, está a experiência do agrônomo Marcelo Klein, que trabalha na Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), de Passo Fundo. Foi ele quem palestrou para os cerca de 40 produtores que foram ao auditório do Sindicato dos Trabalhadores Rurais (STR) para saber mais sobre o assunto.
Klein explica que, embora o milho seja a silagem com maior qualidade, nos últimos anos a cultura tem enfrentado problemas com a estiagem e um novo inimigo: a cigarrinha (inseto que causa danos na planta já adulta). “É importante destacar que não se trata de substituir o milho, mas o cereal de inverno vem para agregar e diminuir os riscos de falta de alimento. Fazer no inverno dá mais segurança na propriedade, é mais certeiro, já que, por exemplo, não se tem problema com falta de água.”
Possibilidade
Entre os produtores de leite que acompanharam a palestra estava Heitor Luiz Richter, 51 anos, morador de Linha Santana. Interessado, Richter comentou que usar o trigo para fazer silagem no inverno é sim uma opção e o que mais pesaria na decisão dele é o tamanho da propriedade.
O agricultor tem 7,2 hectares e metade é usada para pastagem das vacas. “Para fazer silagem de milho já preciso alugar terra de um vizinho. Se for fazer no inverno, também precisaria alugar, mas daí não plantaria o milho safrinha, que já tive muitas perdas com a seca. Então o trigo pode ser algo viável.”
Saiba mais
Marcelo Klein explica que a silagem de milho é um concentrado mais energético e com menos proteína. Já os cereais de inverno têm menos energia, mas têm mais fibra e mais proteína. “E essa fibra é muito mais digestiva para o gado de leite e corte.”
O agrônomo da Embrapa também destaca que as culturas mais comuns para fazer silagem no inverno são o trigo, a triticale, a aveia e a cevada, geralmente plantadas em junho e colhidas em setembro. “Todas têm sementes disponíveis, então isso não seria uma dificuldade de encontrar no mercado.”
Conforme Klein, a silagem de cereais de inverno tem avançado aos poucos pelo Rio Grande do Sul e ainda é uma novidade em várias regiões. “São pouquíssimos produtores que fazem isso há uns 15 anos. Na região do Planalto já é algo mais consolidado.”