O conflito militar entre Rússia e Ucrânia teve início há pouco mais de um mês, mas os seus efeitos já são sentidos ao redor do mundo. No Brasil, uma das maiores consequências é a crise dos fertilizantes, já que a Rússia costumava ser o maior fornecedor do produto. Uma das saídas para a situação, que pode comprometer a produção e as margens de lucro dos agricultores, está no investimento em biofertilizantes.
“Nos últimos três anos, esse tipo de insumo tem se mostrado uma tendência muito grande, pois se trata de um mercado em franca expansão”, ressalta Bernardo Lipski, pesquisador de Agrotecnologia na instituição de ciência e tecnologia (ICT) Lactec.
Segundo uma estimativa do Itaú BBA, as áreas de plantações de soja devem aumentar apenas 0,5% até 2023, um reflexo do aumento dos custos de produção e do risco da escassez dos insumos agrícolas. A crise dos fertilizantes evidenciou a dependência brasileira desses produtos. Apesar do país ser um dos maiores exportadores mundiais do agro, não possui uma produção própria de insumos expressiva.
“É o momento de fazer esse investimento, principalmente diante do aumento de custos que a guerra trouxe para os fertilizantes”, pontua Bernardo.
Um dos exemplos de insumo sustentável que pode ser utilizado é o chamado pó de rocha. Na técnica de rochagem, o pó de minerais como o basalto é aplicado no solo para a sua remineralização. Além de contribuir com a captura de dióxido de carbono da atmosfera, o uso contínuo do processo a longo prazo tende a regenerar o solo, tornando-o mais fértil e provendo as plantas com os nutrientes necessários.
Outra tendência são os biofertilizantes, produzidos a partir de matéria orgânica. “No Lactec, atuamos na produção de biomassa de microalgas, organismos vivos que não apenas nutrem as plantações, mas estimulam o seu crescimento e desenvolvimento”, explica o pesquisador.
A biomassa de algas é versátil: pode ser usada da nutrição de substratos ao tratamento de água, detoxificação e remoção de metais tóxicos. Trata-se de uma alternativa sustentável não apenas porque não polui o solo, mas porque seu cultivo pode utilizar resíduos orgânicos poluentes, como matéria orgânica advinda da criação de animais e subprodutos da indústria.