A cooperação técnica entre as duas instituições já existe há mais de dez anos, sempre com foco na área de ecologia química, ciência que estuda as substâncias químicas envolvidas nas interações entre os organismos nos ecossistemas. No caso da Embrapa e do Instituto de Pesquisa de Rothamsted, o interesse específico está centrado na compreensão dos sinais químicos que os insetos e plantas utilizam na sua defesa, como os semioquímicos e feromônios. Esses compostos, muitos dos quais são voláteis, são transmitidos pelo vento e emitidos pelos insetos e plantas para vários fins. No caso dos insetos, os mais importantes envolvem a comunicação para acasalamento, alimentação e defesa. Já nas plantas, os sinais estão relacionados basicamente à defesa.
Os cientistas descobriram que a compreensão sobre a forma de utilização desses sinais químicos pelos insetos e plantas permite que interfiram na comunicação entre eles, monitorando e controlando a infestação nas lavouras agrícolas e melhorando a defesa das plantas.
Plantas serão usadas como “sentinelas” nas lavouras de milho
A pesquisa que está sendo iniciada este ano pelas instituições se baseia na utilização de plantas “sentinelas” nas lavouras de milho. A ideia é realizar um screening em diferentes cultivares de milho para avaliar a sua resposta ao estresse biótico causado pelo ataque da lagarta do cartucho. “Serão selecionadas aquelas que têm a capacidade de defesa altamente induzida pelo ataque, cujo perfil químico muda drasticamente quando comparado ao de plantas livres de danos”, explica a pesquisadora da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, Maria Carolina Blassioli. Essas plantas serão usadas como “sentinelas”.
Segundo a pesquisadora, já foi demonstrado que as plantas atacadas emitem sinais voláteis que funcionam como um sinal de alerta para as plantas sadias. Em resposta a esses sinais, elas ficam em alerta, preparadas para responder e se defender do ataque do inseto mais rapidamente e mais eficientemente, diminuindo assim o dano causado pela lagarta. Além disso, os sinais liberados pelas plantas sentinelas atraem os inimigos naturais da lagarta.
Essa metodologia de controle biológico de pragas é baseada no sistema push-pull e funciona a partir do sistema de rodízio de culturas agrícolas, combinando plantas com aptidão natural para controlar pragas agrícolas a partir de semioquímicos ou características físicas, sem a necessidade do uso de agrotóxicos. O segredo está em reunir, em uma mesma lavoura, plantas com capacidade natural para repelir e outras capazes de atrair os insetos-praga, impedindo a sua reprodução.
A metodologia push-pull está sendo utilizada com muito sucesso na África, no Quênia e outros quatro países, há cerca de 20 anos e já beneficia mais de 70 mil produtores, como explica o chefe do Departamento de Ecologia Química e Proteção Agrícola do Instituto de Pesquisa de Rothamsted, Michael Birkett. “No Quênia, a produção de milho cresceu de uma tonelada por hectare para 3,5”, afirma Birkett, lembrando que esse é um forte indicativo de que o método pode ser usado com resultados similares no Brasil.
Pesquisa será iniciada com pequenos agricultores do norte de Minas Gerais
A pesquisa motivou a vinda dele à Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia no período de 9 a 13 de fevereiro, onde se reuniu com os pesquisadores Miguel Borges, Raul Laumann e Maria Carolina Blassioli, que ficarão responsáveis pelo desenvolvimento das ações no Brasil. Os estudos vão contar com aporte financeiro do Newton Fund, pela parte do Reino Unido, e da CONFAP (Conselho Nacional das Fundações Estaduais de Amparo à Pesquisa), pelo lado brasileiro. O Newton Fund é um programa do governo britânico que tem como objetivo apoiar iniciativas científicas e de inovação em países em desenvolvimento.
Segundo Birkett, o objetivo é iniciar o desenvolvimento da metodologia push-pull no Brasil com pequenos produtores de milho do norte de Minas Gerais. “A idéia é incentivar o uso da tecnologia por pequenos agricultores, diminuindo a sua dependência em relação ao uso de agroquímicos que, além de caros, poluem o meio ambiente e prejudicam a saúde”, afirma. Para isso, as instituições contam com a parceria da Embrapa Milho e Sorgo (Sete Lagoas, MG).
Estudos buscam genes de resistência à lagarta
De acordo com Maria Carolina, a pesquisa já está sendo iniciada na Unidade com a caracterização genética de variedades de milho, selecionadas pela Embrapa Milho e Sorgo, para conhecer os genes envolvidos na resistência à lagarta do cartucho.
Depois de identificados os genes, os cientistas passarão à segunda etapa que é a busca de variedades com características similares nos bancos genéticos da Embrapa. Eles esperam que essas etapas estejam concluídas até o final de 2015.
A terceira e última etapa é testar essa metodologia no campo e transferi-la para o setor produtivo, o que será feito pela Embrapa Milho e Sorgo.
“Se a metodologia mostrar bons resultados com os produtores mineiros, o intuito é ampliá-la para outras regiões produtoras de milho no Brasil e, futuramente, para outros produtos agrícolas”, conclui Birkett.