Atualmente, o clima prejudica a colheita norte-americana enquanto a seca atrapalha o plantio no Centro-Oeste brasileiro, indicando, ao menos por enquanto, valorização da oleaginosa, com contratos para maio de 2015 sendo negociados a valores próximos aos US$ 10,00 no mercado futuro. Em um cenário vulnerável a diversos fatores, como se dará a produção e a comercialização nacional?
Há pelo menos um consenso entre os especialistas ouvidos pelo Jornal do Comércio: a supersafra está precificada. Ou seja, não há condições previsíveis para que o preço do bushel caia dos US$ 9,00. Uma recuperação maior dependeria, por outro lado, de uma quebra da produção sul-americana, especialmente no Brasil e na Argentina. “O plantio está atrasado no Brasil devido ao período de seca prolongada do Sudeste para cima. Os contratos vão ser empurrados para cima enquanto houver estresse de seca em estados como o Mato Grosso, Goiás, Piauí, Maranhão e Bahia”, diz o consultor Carlos Cogo.
No Rio Grande do Sul, onde o plantio acontece mais tarde, as opiniões são divergentes, mas ninguém aposta em redução significativa da área, mesmo com os ganhos financeiros mais baixos em comparação com a última safra. Afinal, a demanda mundial, puxada pela China, subiu 4,5% em 2014, e há perspectiva de incremento de 5% em 2015. Além disso, a soja segue mais rentável do que o milho, que também sofre com a desvalorização no mercado internacional. Para Luiz Gutierrez, da consultoria Safras & Mercado, o cultivo ocupará 4% mais espaço, chegando aos 5,2 milhões de hectares, enquanto a produção subirá 9%, atingindo a marca de 14,56 milhões de toneladas no Estado. Mais reticente, o economista Antônio da Luz, da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul) aposta em estabilidade em nível estadual e retração de 1% na área nacional.
Em relação à comercialização, a valorização do dólar pode recuperar, até certo ponto, a rentabilidade de quem planta no Brasil. A tendência, segundo os economistas, é de que a cotação siga em alta no próximo ano, tendo em vista o processo de recolhimento da moeda em circulação promovido pelo governo dos Estados Unidos. “Cerca de 90% dos insumos para a safra nacional foram comprados com o dólar na faixa de R$2,20. Todo o ganho do dólar a partir de agora será transferido diretamente para o preço. Ou seja, se estiver em R$ 2,50 em maio, quando realizarmos a colheita, o produtor terá um ganho real de 14% sobre esse valor”, explica Cogo.
Consultores agrícolas recomendam venda no mercado futuro
A venda no mercado futuro, estratégia comum nos Estados Unidos, não é amplamente difundida entre os produtores brasileiros. Atu- almente, apenas cerca de 14% da safra nacional foi negociada antecipadamente. Na mesma época do ano passado, por exemplo, o índice era de 35%. Os agricultores gaúchos, por sua vez, anteciparam a venda de menos de 5% da produção até o momento, o que pode ser explicado pela baixa cotação da soja no mercado internacional. “Não se trata de um erro, pois não havia bons preços para fixar. Além disso, a maioria dos produtores estava capitalizada e preferiu comprar insumos à vista, por exemplo”, explica o consultor Carlos Cogo.
O economista da Farsul, Antônio da Luz, diz que a entidade vem incentivando os produtores a operarem na bolsa, negociando em contratos futuros, pelo menos, o equivalente aos custos de produção. Para Luz, aqueles que travam preços todos os anos têm um fluxo de caixa mais positivo em longo prazo, afinal, mesmo podendo limitar seus ganhos, eles evitam grandes perdas. “Ganham menos, mas ganham sempre. Os que não fazem uso desse mecanismo podem ter anos extraordinários, mas, também, outros péssimos. Nesse sobe e desce, o ano bom tem que pagar o ano ruim e mais os juros”, destaca.
Para o consultor da Safras & Mercado, Luiz Gutierrez, o produtor deveria comprometer, no mínimo, 20% da sua produção antes da colheita, com objetivo de se capitalizar e criar uma base financeira segura para gerir os riscos das vendas após a safra. “No Brasil, ainda há certo receio em se aventurar em territórios como a bolsa e o mercado externo. Mas o agricultor deve perder o medo e buscar informações, pois tais mecanismos abrem leques para uma melhora da gestão”, ressalta. A partir de agora, os negócios devem ser impulsionados pela recuperação dos preços. “As cotações em Chicago parecem não ter mais força para recuarem. As oportunidades certamente aparecerão”, completa Gutierrez.