Em um ambiente em constante evolução, a gestão de risco e adoção de estratégias de comercialização se tornam cada vez mais necessárias, aponta Victor Ikeda, trader da mesa de operações do Rabobank Brasil. De acordo com ele, o cenário atual do agronegócio brasileiro traz “grandes desafios aos produtores para as próximas safras, principalmente considerando o período entre 2022 e 2023”.
“Além do constante e típico monitoramento de aspectos relacionados ao campo (clima, tecnologias, práticas agrícolas, entre outros), fatores como volatilidade cambial, mercados internacionais de commodities e custos de produção têm colocado ainda mais complexidade à atividade agrícola”, explica ele.
Com isso, destaca Ikeda, as ferramentas de gestão financeira tendem a ganhar cada vez mais relevância, com o objetivo de proteger a margem da produção: “Assim como o produtor utiliza ferramentas como, por exemplo, novas tecnologias de sementes, defensivos agrícolas de ponta e maquinários modernos para superar os desafios do campo, soluções em comercialização devem ganhar cada vez mais espaço nesse cotidiano na evolução da atividade agrícola”.
Um dos pontos-chave é a compra de insumos. “Uma alternativa é alinhar a aquisição dos insumos com a venda da produção para calcular a relação de troca. Dessa forma, é possível saber o custo em sacas por hectare da próxima safra e, com isso, evitar que a aquisição de insumos a preços elevados ocorra, sem a contrapartida de cotações atrativas na hora de vender”, aponta o trader da mesa de operações do Rabobank Brasil.
“Para proteger as margens, o produtor também deve estruturar sua política de comercialização com intuito de definir o uso de ferramentas e estruturas de vendas da produção, assim como criar parâmetros para acelerar ou reduzir o ritmo de suas negociações em função dos efeitos que a volatilidade pode trazer ao negócio agrícola. Isso vale tanto para a produção que está sendo colhida do ciclo 2021/2022 quanto para seu planejamento da safra 2022/2023”, argumenta.
Além disso, ele destaca a importância de ter os custos bem controlados e monitorados: “Um exemplo considerando a soja é a questão de carregamento do grão após a colheita. O cenário econômico mostra juros mais elevados em comparação com o ano passado, assim como custos de armazenagem (energia elétrica) mais altos. Consequentemente, o carrego do produto fica com valor mais elevado e ter esse dimensionamento é essencial para calcular preços de comercialização que apresentem efetivamente margens mais atrativas, considerando esses custos”.
Para a safra 2021/22, ressalta, é importante considerar esses fatores relacionados ao carrego (custo de oportunidade do capital e armazenamento) na estratégia de comercialização referente ao volume que foi colhido e armazenado: “Para otimizar as margens, eventual expectativa de aumentos de preços da soja ao longo de 2022, por exemplo, devem ser suficientes para, ao menos, pagar os custos de carregamento”.
“Uma boa estratégia de comercialização deve considerar o planejamento de vendas de forma a orientá-las, seja antes ou após a colheita da produção, a proteger as margens. O mercado é volátil e vale estar preparado para atuar e tomar decisões em diferentes cenários tanto de preços em alta quanto em possíveis quadros de baixas do mercado. A política de comercialização aliada a boa apuração de custos, governança e ferramentas de gestão são essenciais para a sustentabilidade dos negócios agrícolas. Estratégias orientadas à minimização da volatilidade dos resultados no longo prazo possibilitam ao produtor otimizar sua gestão de seus riscos e espaço para planejar seus investimentos”, conclui.