Publicado em 03/01/2022 20h54

Em duas décadas, consumo de alimentos aumentou 48% no mundo

Desafio é aumentar a produção sem aumentar o impacto ambiental, concluiu Agrivision 2021
Por: Assessoria de Imprensa

Os dados são da Tropical Forest Alliance, plataforma global que apoia compromissos do setor privado em prol da produção de alimentos com sustentabilidade: o consumo de alimentos aumentou 48% em termos globais nas duas primeiras décadas do século XXI em comparação ao mesmo período no século passado. "Se queremos alimentar 10 bilhões de pessoas em 2050 de uma forma sustentável, justa e transparente, precisamos pensar, juntos, em novas formas de fazer isso acontecer. Estou convencido de que a única forma de alcançarmos esse propósito é trabalhando em parceria como indústrias e produtores. O desafio é imenso. Teremos de produzir nos próximos 30 anos mais alimentos do que produzimos nos últimos 8 mil anos", alertou Fulco van Lede, CEO da Nutreco, durante o Agrivision 2021, evento que reuniu porta-vozes do agronegócio mundial para debater desafios e oportunidades da produção de alimentos de maneira sustentável para nutrir a população global, que está em crescimento.

O problema é iminente: 50% dos recursos do planeta já foram usados para atividades humanas. Diante dos números, Saskia Korinsk, CEO da Trouw Nutrition – empresa global da Nutreco que atua em alimentação animal –, reforçou que a responsabilidade é muito grande para que apenas uma empresa lidere a busca por novas formas de produzir alimentos. Para isso, todos os profissionais ligados ao setor produtivo têm papel significantemente a desempenhar na crescente demanda por carnes, de forma sustentável.

"O futuro importa, e importa para todos. Por isso, as discussões e trocas precisam ser cada vez mais frequentes. Assim como percebemos na pandemia, quando lidamos com os problemas reunindo esforços coletivos somos muito mais rápidos em encontrar soluções. Espero que consigamos fazer o mesmo com o desafio de alimentar mais pessoas sem impactar mais o meio ambiente. É tempo de agir", destacou Saskia.

Com participação do vice-presidente da WWF-US, Jason Clay, a reflexão sobre a velocidade em que as mudanças têm acontecido se tornou o centro do debate. "Tudo acontece de forma muito mais rápida do que poderíamos imaginar há alguns anos. Isso significa que temos de aprender mais rápido e também responder com maior agilidade. O que é sustentável hoje pode não ser amanhã".

O futuro das proteínas animais tem destaque quando o assunto é encontrar novas formas de produção. Para fomentar o tema, Justin Sherrard, Estrategista Global de Proteína Animal do Rabobank, lembrou que o mundo já possui fontes de proteínas alternativas, como carne cultivada em laboratório e fontes de proteínas não-animais. "O mercado de proteínas animais continuará crescendo, mas grande parte desse avanço ocorrerá nos países em desenvolvimento. Não tanto pela riqueza, mas muito pela crescente urbanização". Sobre as proteínas alternativas, ele explicou que muitas ainda têm preços pouco atrativos. Por isso, as proteínas tradicionais ainda continuarão a ser mais procuradas. Especialmente no curto prazo.

Ainda sobre esse tema, Marcel Sacco, Vice-presidente de Novos Negócios da BRF, complementou que a nova realidade não é de substituição das carnes. "Trata-se de oferecer mais opções aos consumidores. Podemos combinar a oferta existente de proteínas animais com novos produtos".

Fazenda de caviar alimentada por vacas leiteiras

O Dr. Rogier Schulte, professor de sistemas agrícolas e ecologia da Wageningen University & Research, na Holanda, compartilhou no Agrivision uma nova forma de pensar a agropecuária: o conceito de "fazendas-modelo". A ideia é que no futuro seja mais comum o uso dos recursos naturais para a produção de diferentes alimentos, simultaneamente, como já acontece na Indonésia, com os sistemas de cultivo de arroz, consorciado com peixes e patos.

 Em outro exemplo, ele citou a fazenda As Ziedi, na Letônia, que tem 2.000 vacas leiteiras, além de 3.000 hectares de terras com diferentes culturas. "O leite é o subproduto. O principal produto é o estrume, que é colocado em biodigestores anaeróbios, que geram eletricidade. Mas a energia também é um subproduto, cujo principal produto é o calor, pois permite o crescimento de esturjões e enguias. Em dois anos, os peixes estão preparados para despesca, também um subproduto. Aqui, o caviar é o negócio principal. É uma fazenda de caviar alimentada por vacas leiteiras".

 A mesma ideia de que a solução para os problemas atuais pode ser encontrada na natureza foi reforçada pelo fundador do One Planet Business for Biodiversity e ex-CEO da Danone, Emmanuel Faber. Para ele, a indústria investe muito tempo e recursos na produção de alimentos não tão saudáveis e sustentáveis. "Quando produzimos, estamos oferecendo soberania alimentar às pessoas". Faber alertou que o modo de olhar a natureza como um dado científico no laboratório não é a solução. "Precisamos usar tecnologias não para substituir a natureza, mas para colocá-la de volta ao centro do nosso sistema. A diversidade de espécies cultivadas na agricultura é muito baixa. Precisamos recuperá-la reintroduzindo espécies de volta", pontuou.

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