Uma vara de alumínio medindo três ou seis metros com um mecanismo na ponta. “De um lado uso uma faquinha, que faz o corte; depois que deixo o cacho menos preso à palmeira, uso o outro lado, que tem um engate, e puxo a vassoura para baixo com uma corda que funciona como elevador. Faço isso em 30 segundos. Já consegui vender dez mostrando como se faz. Cada um custa R$ 300”, relata o agricultor.
Tudo isso sem precisar subir, sem o galho ferir, sem a formiga atacar e sem ninguém cair. “Depois da peconha chegamos a usar uma vara com uma foice na ponta. Muitas famílias usam isso, para cortar e deixar cair. Uma vez o que caiu foi uma foice na mão da minha mãe. Olha o perigo”, diz Edilson da Costa.
Foi o próprio Edilson que produziu todas as peças, soldou, testou e regulou. “Houve erros, fui aperfeiçoando. Tem peconheiro que diz para mim que é mais rápido sozinho que usando o apanhador, mas sozinho eles não conseguem descer muitos cachos, fora que isso cansa muito mais”, argumenta.
Wolverine – Não bastasse Edilson acelerar o processo da colheita, ele também queria debulhar mais rápido. Surgiu, então, o Debulhador. “A gente tirava com o dedo, arrastando os galinhos do cacho até cair todos, mas isso feria a mão. Alguns eram duros e deixavam a mão preta. Então pensei que se tivéssemos uma garra, como aquele super-herói, o Wolverine, seria mais fácil. Pensei em fazer algo parecido, como um pente para escovar a vassoura do açaí”, conta o agricultor.
Edilson Costa é um dos agricultores orientados pela equipe da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Pará (Emater) no município de Abaetetuba, no Baixo Tocantins. Segundo o agrônomo Flávio Ikeda, técnico e pesquisador da Emater, a maior dificuldade de inserir o invento no meio rural familiar é o tradicionalismo.
“As pessoas não querem largar a tradição da peconha, estão ligadas a isso e querem primeiro ver como funciona a invenção. Eu estava em uma visita à propriedade dele quando vi o que ele estava usando e começamos a conversar sobre isso. A invenção é fantástica e evita muitos problemas. Estamos começando na Emater um processo para auxiliá-lo a patentear a criação e até inserir no mercado. Ele já deve fazer umas dez para uma loja de Tomé-Açu”, relata.
O Açaí Açu é um tipo de açaí vindo do Amazonas, que tem uma palmeira só. A árvore não perfilia e produz cachos muito maiores que a palmeira comum. Para se ter ideia, são três cachos do tipo Açu para produzir duas rasas, que podem render doze litros do vinho grosso de açaí; já do tipo comum são necessários seis cachos para produzir uma rasa, que rende apenas seis litros. “Como essa palmeira é diferente, com cacho mais largo e mais duro para debulhar, já estou criando uma adaptação das ferramentas para podermos atender quem o produz”, completou o Edilson.
Caroço de açaí serve como lenha
O Pará tem cerca de 50 mil famílias vivendo de agricultura. Segundo o diretor técnico da Emater, Rosival Possidônio, a invenção de Edilson da Costa pode trazer melhorias a todas elas. “A gente orienta e leva as informações para as propriedades e produtores. A invenção acelera o serviço, o que vai gerar interesse inclusive dos grandes produtores. Vamos usar os recursos do fomento e viabilizar fontes de financiamento, e diminuir o custo da produção”, relata.
Assim tem sido com o uso do caroço de açaí batido como lenha, por exemplo. Tecnologia simples e barata, que a Emater tem incentivado entre os agricultores a usarem nas casas de farinha. É o caso de José Brandão Jr., agricultor que há dois anos passou a fazer farinha. “A gente produzia mandioca demais, uma parte até estragava. Então resolvemos fazer uma Casa de Farinha. Fui atrás dos fornos mecanizados e vi as vantagens de usar o caroço do açaí no lugar da lenha, que é mais barato e não agride o meio ambiente”, revela.
Em um dia fazendo farinha, para aquecer os fornos seriam necessários dez metros cúbicos de lenha. Com o caroço do açaí são cinco sacas, cerca de 40 quilos por dia. “Além da vantagem financeira, o sistema de ventoinha consegue direcionar a intensidade do fogo, o que diminui o risco de queimar. O caroço pode estar molhado que pega fogo do mesmo jeito, diferente da lenha. Depois ainda pego as cinzas e uso de adubo”, completa o agricultor.