A notícia avassaladora do Washington Post,no último fim de semana, a Mars e a Barry Callebaut, as duas maiores processadoras da prima para a fabricação de chocolates do mundo, conforme noticiado pelo Washigton Post, lançam um alerta: "vamos ficar sem cacau”.
De acordo com o artigo original a principal causa é por conta da excessiva demanda pelo produto, que pode gerar um futuro potencial desastroso para quem gosta do doce, levando a uma escassez generalizada. Longe dos olhos do consumidor final, há uma série de outros fatores que estão impedindo um franco desenvolvimento dessa cultura em todo o mundo.
As processadoras têm fortes motivos para se preocuparem, afinal são elas que controlam os preços e a bolsa de valores, sem plantar um só pé de cacau. Com base nas informações coletadas por meio da “Previsão de Safras Futuras”, uma espécie de espionagem “branca”, promovidas pelas processadoras nos países produtores. Contratam técnicos que escolhem pontos estratégicos em várias propriedades nas regiões produtoras e sistematicamente coletam dados de frutos e flores para a partir dessas informações realizarem cálculos futurísticos de safras. Nada de mais se as mesmas não usassem essas mesmas informações para deixar os produtores reféns dos preços na bolsa de valores!
O défice de produção de cacau está perto de atingir os valores mais negativos dos últimos 50 anos. Mas o consumidor final do chocolate ao comprar o produto que lhe trás prazer no paladar, não está preocupado com a origem daquele produto, muitos ou a grande maioria nunca ouviu falar em cacau! O chocólatra não sabe, por exemplo, dos efeitos de cada realidade dos países produtores. Não sabem que no Brasil os produtores estão convivendo com o efeito de uma doença fúngica devastadora, a Vassoura de Bruxa, falta de crédito, mão de obra sem qualificação ; que no Continente Africano há uma exploração desumana na produção do cacau, além do tempo seco na África Ocidental, em particular na Costa do Marfim e no Gana (onde se produz mais de 70% do cacau a nível mundial) ; em alguns países da américa há a presença da Monilíase, uma das doenças mais devastadoras da cacauicultura, causada pelo fungo moniliophthora roreri. Doença fúngica que, segundo a Organização Internacional do Cacau, dizimou entre 30 e 40% da produção mundial.
Obviamente que todos estes fatores, somado a outros de pano de fundo, também têm contribuído para esta tendência de redução do chocolate em todo o mundo. E um dos primeiros efeitos desta realidade já se faz sentir no preço do cacau nos mercados internacionais, o preço do cacau 60% desde 2012, ano em que o consumo de chocolate ultrapassou a produção de cacau. Só este ano, a matéria-prima já sofreu um agravamento de 24%.
Efeitos e soluções
No seu conjunto, estes efeitos terão reduzido a produção entre 30% e 40%, o que é também resultado do fato de vários agricultores estarem mudando o estilo de vida, em especial no Brasil, fato apontado pela última pesquisa da DIEESE (“O mercado de trabalho assalariado rural brasileiro” ), e das dificuldades enfrentadas para produzir cacau o que tornou-se um negócio difícil.
De acordo com a Organização Internacional do Cacau, citada pela Bloomberg, até 1 de outubro do próximo ano vão consumir-se mais 70 mil toneladas métricas de cacau do aquilo que se vai produzir. Só o ano passado, comeram-se 70 mil toneladas de cacau a mais do que as produzidas e, em 2020, alertam as duas empresas, esse diferencial pode chegar a um milhão de toneladas e a dois milhões 10 anos depois.
Numa tentativa de resolver este problema, segundo o The Washington Post, estão apostando no desenvolvimento de uma nova árvore de cacau que produz sete vezes mais que as plantas atuais.
Do ponto de vista de quem produz cacau a demanda por chocolate é um fator positivo. Mas o que realmente precisa é controlar o "apetite insaciável" das processadoras que estão preocupadas apenas com os lucros e não com as vidas que estão por trás de todo processo e que cada Governo dê a devida atenção aos seus produtores. E não é encontrado apenas maior produtividade por plantas que teremos a solução, precisamos tirar a cacauicultura do retardo tecnológico; melhorar a qualidade de vida do trabalhador rural, oferecendo a esse as mesmas facilidades do meio urbano para que ele permaneça no campo; implementar politicas de créditos com juros baixos na produção do cacau e do chocolate fino. Qual o prazer que sentirá um chocólatra ao saber que por trás daquele produto que lhe proporciona um êxtase, há uma série de histórias de sofrimentos que envolvem maus tratos, trabalho escravo, exploração e tráfico de crianças, assassinatos, sonegação fiscal, juros exorbitantes e barracões.