Apesar de a vigência do Vazio ter sido modificada – uma demanda do segmento que foi discutida durante todo ano passado – duas vezes em 2014, a polêmica sobre o assunto, cujo objetivo é minimizar os efeitos da ferrugem asiática e consequente não permitir a realização de safrinha de soja, está longe de acabar. Contentes e descontentes seguem defendendo seus pontos de vistas em torno das formas de amenizar as ocorrências da doença fúngica e manter o equilíbrio produtivo e financeiro das lavouras.
Em outubro, quando a primeira normativa foi publicada, foi alterado o período do Vazio – que era de 15 de junho a 15 de setembro, 90 dias corridos – para 1º de maio a 15 de setembro, ou seja, 137 dias, uma dilatação de prazo de mais de 50%. A Instrução nº 011/2014 alterou as datas de início e do final do Vazio, “e os produtores deverão estar atentos ao novo calendário, até porque o plantio da safra feito já na segunda semana de setembro, como se tornou tradição em alguns municípios como Sapezal e outros ao longo da BR 163, não será mais possível”, alerta a analista da Associação dos Produtores de Soja e Milho do Estado, Franciele Dal´Maso.
Para a entidade, a nova data ficou mais ajustada às necessidades do produtor e poderá de fato reduzir a pressão que os fungos da doença exercem sobre as lavouras, especialmente, as mais precoces. “Casos de ferrugem asiática nas lavouras estão chegando cada vez mais cedo e acreditamos que com esse novo calendário o manejo poderá ser mais eficaz, com o fungo surgindo mais ao final do ciclo. Se o produtor seguir a nova normativa, que trata até da importância das aplicações preventivas, poderemos ter uma safra mais tranquila a partir de 2016”. A normativa regulamenta ainda o trato das plantas vivas de soja – as que nascem de forma voluntária, ao se perder no transporte, por exemplo, são chamadas de guaxas – para quem cultiva na safrinha o girassol. Como explica Franciele, o artigo 16 da Instrução Normativa, diz que excepcionalmente nessa condição, fica estabelecido o prazo de até 25 dias para eliminação total das plantas vivas de soja germinadas voluntariamente, "ou seja, quem planta o girassol, a destruição das guaxas pode ser feita a partir do dia 25 de junho e não necessariamente no dia 1º, para não atrapalhar a reta final de produção do girassol”.
Sobre a data final do Vazio, a Aprosoja/MT não acredita em prejuízos aos produtores que têm como hábito plantar variedades superprecoce, ainda na segunda quinzena de setembro. “Esses 15 dias a mais de espera não terão impacto na área plantada e tão pouco no desenvolvimento das plantas. Existem diversos materiais precoces no mercado e o produtor que cultiva algodão após a soja, poderá seguir com sua rotina. Talvez, haja apenas a necessidade de rever, ajustar, o planejamento”, explica Franciele. Ela acredita que haja um pouco mais de concentração no ciclo de crescimento das lavouras.
OUTRO LADO - A dilatação do Vazio Sanitário é uma forma de conter a expansão da cultura da soja como opção de segunda safra, em Mato Grosso, conforme argumentam os especialistas da área. No ano passado a adesão à safrinha foi recorde, mais de 100 mil hectares plantados e foi justamente essa movimentação que levou à necessidade de rever o período do Vazio. Como frisa o coordenador da Comissão de Defesa Sanitária Vegetal do Ministério da Agricultura em Mato Grosso (CDSV/Mapa), Wanderlei Dias Guerra, o plantio sucessivo pode aumentar o risco de problemas fitossanitários como ferrugem, nematoídes e pragas como percevejos e lagartas. “Ao contrário de todas as recomendações da Comissão, desconsiderando também o posicionamento da Embrapa Soja, e de dezenas de outras instituições de pesquisa do país, por forças políticas que acreditam assim estarem defendendo os produtores de soja, publicaram no apagar das luzes de 2014 uma nova Instrução Normativa”, exclama.
Como observa, “esta normativa, apesar de ter um aspecto bom, ao alterar o final do Vazio Sanitário, ainda permite que os produtores cultivem soja sobre soja, a pior das alternativas, sobretudo, conforme a pesquisa tem demonstrado, com a acentuada perda de eficiência dos fungicidas registrados contra a ferrugem asiática, em razão do uso excessivo dos mesmos princípios ativos. A sojicultora, maior força nos superávits comerciais e fonte de proteínas para produção de carnes, está em risco”, lamenta Dias Guerra.