Especialistas apontam que o cultivo de soja na safrinha vem agravando problemas fitossanitários, como a ferrugem asiática da soja e o nematoide de cisto. “Mas o problema não está restrito a doenças. Ataques de populações de insetos-pragas, principalmente percevejos, mosca-branca, lagarta helicoverpa, ácaros e percevejo-castanho têm sido observados com maior frequência”, afirma Ricardo Abdelnoor, chefe de pesquisa e desenvolvimento da Embrapa Soja.
Ele salienta que a safrinha de soja também acelera o processo de seleção de insetos resistentes às táticas de controle (inseticidas ou plantas Bts). “Vale ressaltar que a intensidade desses efeitos negativos está diretamente relacionada ao tamanho da área que a soja vier a ocupar na segunda safra; quanto maior a área plantada mais graves e intensos serão esses problemas”, alerta o pesquisador.
Sobre o controle de plantas daninhas e/ou plantas espontâneas remanescentes da cultura anterior, Abdelnoor acrescenta que, “à medida que se usa de modo continuado e exagerado a mesma tecnologia, como a soja transgênica resistente a herbicidas, ocorre maior pressão de seleção dos biótipos resistentes a este herbicida. Como exemplo, é possível citar o razoável número de plantas daninhas que se tornaram resistentes ao glifosato, utilizado de forma repetitiva em lavouras com soja RR. Ao considerarmos duas safras seguidas com plantio de sementes com as mesmas características é possível prever o agravamento do problema que já é sério”.
Por fim, o pesquisador mostra que o cultivo de soja safrinha, especialmente quando realizado após a soja verão, fatalmente vai aumentar o custo de produção pelo maior consumo de defensivos e fertilizantes. “O uso contínuo dessa prática possivelmente irá limitar a obtenção de altas produtividades de soja na safra normal e aumentar o risco de perdas de produção em decorrência de estresses ambientais bióticos (doenças, insetos e plantas daninhas) e/ou abióticos”, complementa.