Pesquisadores do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Esalq/USP, avaliam que os preços atuais podem levar produtores a manter a área cultivada na segunda safra que, a depender do clima, pode gerar oferta não muito distante da obtida em 2014, podendo inclusive pressionar as cotações. “As vendas externas, portanto, continuarão sendo o fiel da balança. Em resumo, vem pela frente mais um ano desafiador aos agentes envolvidos com a comercialização deste cereal”, comenta o professor da Esalq/USP Lucilio Alves, à frente das pesquisas de grãos do Cepea.
O milho 1ª safra teve redução de área, preterido em favor principalmente da soja. Segundo a equipe Cepea, os preços vigentes no período de decisão da temporada de verão não eram atrativos para produtores de milho, devido à oferta recorde em 2013/14 e ao menor ritmo de exportação. Além disso, as chuvas escassas no Sudeste e em parte do Centro-Oeste também afetaram a decisão de cultivo no verão.
De acordo com a Conab, a área da 1ª safra de milho de 2014/15 deverá ser de 6,18 milhões de hectares, com redução de 6,6% em relação ao ano anterior. A produtividade média nacional é estimada em 4.736 kg/ha pela Conab, o que representa queda de 1%. Com isso, a oferta nacional do verão seria de 29,3 milhões de toneladas, 7,5% inferior à de 2013/14. Se os dados se confirmarem, será a menor produção na 1ª safra em 15 anos.
Apesar disso, dados da Conab apontam que, no final de janeiro haverá estoques na casa de 15,5 milhões de toneladas, o que equivaleria a 48% do que foi colhido na safra verão 2013/14. “Portanto, no primeiro semestre, haveria disponibilidade de 44,7 milhões de toneladas, que representa 81,3% de todo o consumo interno de 2015, estimado pela Conab em 55 milhões de toneladas, um recorde”, contabiliza o professor Lucilio Alves.
Assim, novamente, recaem sobre a 2ª safra os principais fatores de impacto sobre os preços ao longo da temporada 2014/15. Com base na relação receita/custos, dados iniciais do Cepea apontam para uma menor área cultivada e também para menor uso de tecnologias, comparativamente a 2013/14. Paralelamente, o fator clima também pode pesar sobre as estimativas. Os riscos, portanto, se sobressaem, especialmente quando se consideram os diferenciais de base entre os portos e a região de Campinas, referência para o contrato futuro na BM&FBovespa.
Numa simulação que considere a mesma área cultivada na segunda safra de 2013/14 (estimada pela Conab), mas com produtividade média nacional 2,4% maior, a oferta da 2ª safra poderia chegar a 49,4 milhões de toneladas. Somados estoques iniciais, oferta da 1ª safra e um pouco de importação, a disponibilidade anual de milho chegaria a 94,45 milhões de toneladas. Ao se descontar o consumo interno, o excedente chegaria ao recorde de 39,45 milhões de toneladas.
Segundo a equipe Cepea, mesmo que se subtraiam exportações de cerca de 20 milhões de toneladas, no final de janeiro de 2016, haveria ainda estoques na casa de 20 milhões de toneladas. Reservas nestes níveis não permitiriam recuperações expressivas de preços em 2015. Somente algum fator que colabore para exportação muito acima de 20 milhões de toneladas por ano-safra pode mudar o cenário de preços. Porém, agentes não esperam que isso aconteça no curto prazo.
No mercado internacional, a concorrência por compradores (importadores) estará acirrada, observa o pesquisador Lucilio Alves. Os estoques mundiais também estão crescentes, tanto nos principais países exportadores como nos maiores consumidores, fazendo com que a relação estoque final/consumo volte aos maiores níveis desde a safra 2002/03 – o maior em 12 anos. Com isso, as transações mundiais devem cair, reduzindo as oportunidades de vendas.
Regionalmente, por enquanto, referente à 2ª safra de milho, há estimativas do Deral/Seab, para o Paraná, e do Imea para Mato Grosso. Estes dois estados foram responsáveis por cerca de 60% da oferta de milho da 2ª safra nos últimos anos.
Em Mato Grosso, a estimativa inicial de safra do Imea/MT aponta que a área cultivada com milho na 2ª safra deverá ser 12,5% menor na safra 2014/15, limitando-se a 2,83 milhões de hectares. O menor interesse do produtor é explicado pelo atraso no plantio da soja, após as chuvas escassas em outubro, e também pelos preços considerados pouco atrativos. Essa deverá ser a menor área cultivada com milho no estado desde a temporada 2010/2011.
A produtividade também pode baixar, de 91,6 sacas por hectare para 86 sc/ha, segundo o Imea/MT. Com isso, Mato Grosso produziria na 2ª safra 14,59 milhões de toneladas, 18% a menos que no ano anterior.
No Paraná, para a 2ª safra, o Deral/Seab estima a área de milho 1% inferior, na casa de 1,87 milhão de hectares. A produção seria de 9,92 milhões de toneladas, 5% menor que a da safra passada.