Produtores de café arábica vão precisar de uma dose extra de cautela em 2015 pois a tendência é de queda das cotações internacionais nos próximos meses, com melhora na oferta global do produto. A pressão virá principalmente das condições da safra brasileira, a maior do mundo.
Em 2014, as lavouras do País foram castigadas pela falta de chuva e elevadas temperaturas, diminuindo a produção nacional. Os preços futuros na Bolsa de Nova York (ICE Futures US) subiram cerca de 40% desde o início do ano.
Para 2015 não se espera clima tão desfavorável e a recuperação da produção tende a pressionar os preços. O diretor de Café da corretora Newedge, Rodrigo Costa, informa que "a oferta global deve continuar apertada em 2015, mas a situação não é desesperadora como se imaginava inicialmente". Segundo Costa, o mercado já teve uma correção para cima, em virtude das perdas na safra brasileira de 2014. Agora, os preços devem ceder, já que o clima está se regularizando aos poucos nas principais regiões produtoras do Brasil.
Além disso, a oferta deve ser ampla em outros países produtores, como Colômbia, que investiu em renovação de cafezais; Vietnã, segundo maior produtor mundial; e Indonésia, que, apesar do forte aumento do consumo interno, tem apresentado expressivos resultados na produção.
O ataque da ferrugem em cafezais da América Central também vai sendo controlado, gradativamente. As cotações futuras do arábica, no entanto, não devem ter queda vertiginosa, já que o balanço mundial entre oferta e demanda está projetado em déficit de 2 milhões a 5 milhões de sacas de 60 kg em 2015, conforme cálculos de Costa. E o estoque mundial é curto, para 3,5 meses de consumo.
No sul de Minas, principal região produtora de café do Brasil, a melhora da produção em 2015 é esperada na maior cooperativa de café do mundo, a Cooperativa Regional de Cafeicultores em Guaxupé (Cooxupé). Os cooperados devem entregar na safra 2015, a partir de maio, cerca de 6,170 milhões de sacas. "O clima está normalizando. Está chovendo bem", diz o presidente da Cooxupé, Carlos Alberto Paulino da Costa. "Esperávamos uma colheita bem maior em 2014, que era de bienalidade positiva (o café alterna safras cheias com outra menor no ano seguinte), mas a safra ficou em 6,220 milhões de sacas porque o tempo quente e seco prejudicou o cafezal", explica Paulino da Costa.
O pesquisador Celso Vegro, do Instituto de Economia Agrícola (IEA/Apta), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, pondera, no entanto, que a volatilidade das cotações do café deve continuar alta, como reflexo da falta de consenso sobre a produção brasileira em 2015. Mais do que nunca o produtor deverá fazer contas e aproveitar os momentos de alta dos preços para vender a produção.
As chuvas voltaram, mas chegaram atrasadas e ainda não se sabe qual o volume de café perdido nesse imprevisto climático. Se a safra brasileira 2015 ficar acima de 45 milhões de sacas de 60 kg, ou seja, maior do que a anterior, estimada em 45,1 milhões de sacas, as cotações tendem a ser pressionadas para baixo.
Em contrapartida, se o volume alcançar apenas 40 milhões de sacas, "será o caos total (com explosão dos preços)", avalia Vegro. O pesquisador ressalva que, se o clima não apresentar alteração brusca, como a forte estiagem do início de 2014, a tendência é de o mercado registrar preços remuneradores pelo menos na entressafra, até maio, quando se inicia a colheita no Brasil.
Outro fator a ser acompanhado é a crise do petróleo, cujos preços estão nos níveis mais baixos em cinco anos. A queda do valor do óleo tem empurrado para baixo outras commodities, como o café.