Publicado em 16/12/2014 15h14

Alimentos biofortificados são produzidos na Borda Oeste do Pantanal

Cultivares mais nutritivas chegam à lavoura do produtor e terminam na mesa do brasileiro
Por: Embrapa

feijoeiro

Toninho, ou Antônio da Rocha, é produtor rural há mais de 30 anos. Dono do sítio Sopé de Morro, localizado no assentamento Tamarineiro 1 – próximo à fronteira com a Bolívia em Corumbá, MS, Toninho trabalha com o programa de merenda escolar do município desde 2011, fornecendo produtos para alguns colégios. Para ter uma produção diferenciada nos próximos anos, o produtor conta que investiu em uma alternativa desenvolvida pela Embrapa: os alimentos biofortificados. “Quero ter um produto melhorado em termos de qualidade nutricional para ter um preço melhor, me estabelecendo dentro do programa e ampliando as escolas que eu posso atender”, diz Toninho.

Os alimentos biofortificados possuem mais nutrientes (entre eles, ferro, zinco e vitamina A) e boas características agronômicas, como produtividade, resistência à seca e a doenças. Eles são criados a partir de cruzamentos convencionais, resultando em alimentos saborosos, macios e coloridos – o que atrai, inclusive, a preferência das crianças. As informações são do site da Rede Biofort (www.biofort.com.br). A rede reúne os projetos de biofortificação coordenados pela Embrapa, que atualmente envolvem mais de 150 profissionais em 11 estados do país com o objetivo de combater a “fome oculta” nas populações carentes – ou seja, a carência de micronutrientes necessários para uma dieta saudável.

 

Do laboratório ao campo

Para incluir esses alimentos na produção do sítio, o produtor Toninho plantou batata doce, milho e duas variedades de feijão biofortificados, Pontal e Cometa, em um campo de multiplicação de sementes este ano. Os feijões foram enviados pela Embrapa Milho e Sorgo, de Minas Gerais, para o Mato Grosso do Sul. Em Corumbá, José Aníbal Comastri Filho, chefe adjunto de transferência de tecnologia da Embrapa Pantanal, e Frederico Lisita, pesquisador da instituição, acompanharam o plantio, desenvolvimento, colheita e armazenamento das sementes. “Nós analisamos a produtividade, suscetibilidade a doenças, adaptação ao clima”, diz Frederico. “Assim, podemos analisar o desenvolvimento das cultivares em diferentes assentamentos da região”.

Apesar de 2014 ter sido um ano com chuvas irregulares, Toninho conta que os pés de feijão cresceram saudáveis e produtivos. “Esse Pontal, por exemplo, me deu uma qualidade de grão excelente em termos de tamanho e robustez”, diz o produtor. Segundo o pesquisador Frederico, “praticamente, não ocorreram doenças aqui. Isso é muito importante porque mostra que as variedades são resistentes e adaptadas à nossa região”. A ideia deu tão certo que Toninho espera repeti-la no ano que vem. “Vamos guardar todas as sementes que colhemos para plantar de novo em 2015. A partir daí, a gente deve fornecê-las aos produtores interessados nas variedades. Também queremos abastecer a rede pública escolar de Corumbá e Ladário com esses alimentos”, conta o produtor.

 

Transferência de tecnologia

José Heitor Vasconcellos, analista da Embrapa Milho e Sorgo, ressalta o cenário favorável ao plantio dos biofortificados para pessoas como Toninho. “Como os produtores estão com alimentos de melhor qualidade e as prefeituras têm que comprar 30% do material da merenda da agricultura familiar, isso se torna um poder de barganha grande”, afirma. Para que histórias como essa se repitam, o trabalho da Rede Biofort é desenvolvido há cerca de 10 anos no Brasil. Entre os próximos objetivos da Rede estão o desenvolvimento de novas cultivares, o aumento do número de pessoas beneficiadas por esses alimentos e a continuação da transferência de tecnologia para as diversas regiões brasileiras, além de outros países da América Latina e África.

 

O pesquisador Frederico Lisita fala da importância da iniciativa para os pequenos produtores do Mato Grosso do Sul. “A gente deseja ampliar essa parceria e trazer mais variedades para oferecer opções de plantio aos agricultores locais”, conta. José Heitor completa: “a quantidade de pessoas que têm alimentação com deficiência no mundo é muito grande. A ausência dos micronutrientes provoca anemia, baixa resistência do organismo, problemas de visão. A nossa ideia é levar esses alimentos para ajudar o produtor, as famílias e escolas que não têm condições de ter uma alimentação saudável. Estamos introduzindo esses produtos na mesa do brasileiro para fazer com que esses problemas sejam minimizados”, finaliza Heitor.

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