Analistas projetam estabilidade para os preços internacionais do cacau, entretanto, as sucessivas altas da moeda norte-americana podem elevar os valores da commodity para o comprador doméstico em 2015 - ano em que o País já está fadado a apertar as contas e ajustar a economia.
Ontem (15), por exemplo, o dólar avançou 1,29%, a R$ 2,68, maior cotação desde 29 de março de 2005, quando atingiu R$ 2,69, e acumulando avanço de 3,36% nos quatro últimos pregões. "O único fator que pode levar o preço do cacau para cima é o câmbio, visto que os valores praticados são formados na Bolsa de Nova York. Já se fala até em paridade próxima de R$ 3 para o ano que vem, o que seria bom para o produtor, por um lado, mas que pode gerar uma retração na demanda", explica o analista da consultoria Mercado do Cacau, Adilson Reis.
Demanda
Segundo o especialista, as principais indústrias instaladas no Brasil (Cargill, ADM e Barry Callebaut) devem processar de 180 a 200 mil toneladas da amêndoa para formação dos subprodutos do cacau - liquor, pó, torta e a manteiga - enquanto a produção nacional não deve superar 140 mil toneladas na safra 2014/2015.
"Cerca de 60 mil toneladas devem ser importadas, processo que também fica mais caro com o efeito do câmbio", enfatiza Reis, ao comentar que o consumo de chocolate é cada vez maior. Neste cenário, resta saber até que ponto a indústria consegue repassar o aumento destes custos ao consumidor final, sem acarretar grandes perdas na demanda.
Mercado externo
Dados da Organização Internacional do Cacau (ICCO na sigla em inglês) mostram que só os países africanos representam cerca de 73% da produção mundial do setor. "Inicialmente, o órgão previa um déficit global de 75 mil toneladas e, então, fomos surpreendidos pela safra recorde da Costa do Marfim, que mantém 39% do mercado. Com isso, em setembro, foi registrado o superávit de 53 mil toneladas", conta o técnico em planejamento da Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira (Ceplac), Antônio Zugaib.
Além da produção, o país também tem avançado na moagem que, de acordo com o último relatório trimestral da ICCO, atingiu 520 mil toneladas em 2013/2014, alta de 10% em relação ao período anterior e apenas dez mil toneladas abaixo do volume processado na Holanda, que segue na liderança. Porém, na temporada de 2014/2015 a Costa do Marfim deve assumir a dianteira, com a nova unidade de processamento da Olam, no município de San Pedro.
"Muito se falou em um déficit imenso, de um milhão de toneladas, que não deve acontecer. Se a renda mundial crescer 5% até 2020, em paralelo aos níveis de consumo, estimamos que é possível chegar a 650 mil toneladas de déficit, nada além disso", projeta Zugaib, e só na hipótese de expansão de renda que se enxerga um horizonte de preços globais mais elevados.
No curto prazo, o especialista da Ceplac acredita que os preços devam se estabilizar na média entre US$ 2,5 mil e US$ 3 mil por tonelada. É importante frisar que esta é uma tendência, lembra Zugaib, que não considera intempéries climáticas, por exemplo.
Alguns analistas do mercado internacional trabalham com possibilidade de seca nas principais regiões produtoras, como a África e a Indonésia.
Nova comissão
O Ministério da Agricultura oficializou, na última semana, criação do Conselho de Desenvolvimento do Agronegócio do Cacau (CDAC). Uma de suas principais funções será a de propor uma política agrícola específica para o setor.
O conselho também deve acompanhar a execução dos programas do agronegócio do produto, especialmente para checar o cumprimento dos objetivos estabelecidos pelos rumos da política escolhida.
Outra importante meta é propor ações que visam adequar a oferta do cacau ao mercado interno e externo. A comissão será formada por membros de vários ministérios e secretarias públicas, além de associações, comissões e representantes de produtores e trabalhadores da indústria cacaueira. Segundo o Ministério, os órgãos que participarão do Conselho já foram definidos.